No início desse ano de tantas tragédias anunciadas ou não que ganharam a mídia, o Brasil, ou pelo menos os internautas que diariamente acessam a rede em busca de novos fatos e factoídes , foi surpreendida com o comentário nada simpático, proferido pelo apresentador e âncora Boris Casoy, a respeito dos garis. Sem saber que o áudio estava ligado enquanto era veiculando a vinheta do Jornal da Band , Casoy , fez o seguinte comentário, após a veiculação de imagens de garis desejando feliz ano novo: "Que m*... dois lixeiros desejando felicidades... do alto de suas vassouras.....dois lixeiros......o mais baixo da escala do trabalho".
.A edição foi ao ar no dia 31 de dezembro, e apesar da possível baixa audiência típica de um dia de festa, o vídeo logo ganhou a internet, sendo noticia em sites, blogs e redes de relacionamento. Na edição do dia 01 de janeiro, o apresentador reconheceu a ofensa, proferindo o seguinte pronunciamento a respeito do fato: "Ontem, durante o intervalo do 'Jornal da Band', em um vazamento de áudio, eu disse uma frase infeliz, que ofendeu os garis. Por isso, quero pedir profundas desculpas aos garis e aos telespectadores do 'Jornal da Band'".
Em meio a toda exposição de ideias sobre fato que contou com palavras ofensivas e pejorativas do ponto de vista pessoal, oportuno colocar que o apresentador da Band utilizou-se da prerrogativa legal de livre opinião. Contudo mesmo em uma sociedade pretensamente livre o direito de se falar o que se quer esbarra-se em princípios éticos outros de dignidade e respeito.
Abstraindo-se, ainda, de qualquer cunho exibicionista dos moralistas ávidos por justiça, o fato é por mais que sejam injustas e desumanas tais afirmações a respeitos dos garis, o fato é que não foi dita nenhuma mentira dentro do senso comum que paira em uma sociedade hierarquizada e excludente como a nossa. Garis e outros trabalhadores menos qualificados são colocados em posição inferior, segundo a concepção da maioria dos membros da chamada classe média e alta, mesmo a despeito de sua importância para o funcionamento estrutural da sociedade.
Para essa visão contribui de maneira excepcional a valorização em torno do saber acadêmico, dos títulos e da formação dos especialistas, que a sociedade elege como um dos valores máximo de qualificação social, mesmo a despeito da evidente crise que assola as universidades do país, em sua incapacidade de formação de cidadãos críticos e conscientes. Nesse ínterim impossível, não fazer referências às críticas que o Presidente da República, ainda sofre constantemente, em virtude de não possuir títulos acadêmicos, quando posicionamentos contrários a sua administração ainda costumam serem acompanhadas pelo adjetivo analfabeto como um exemplo do preconceito típico que se instara sobre os chamados “iletrados”.
Nesse contexto, visões a respeito da baixa importância de trabalhadores poucos qualificados dentro da escala social nada mais refletem do que um pensamento arraigado no arcabouço ideológico do país, velado em alguns momentos, que vez por outra pode tornar-se evidente em rede nacional. Pena que em acontecimentos como esse impere o sensacionalismo, ao invés de reflexão sérias sobre o papel de indivíduos dentro da sociedade e sobre valores que imperem sobre esta.
FOTOS: GOOGLE
TEXTO: Andréia M. de Oliveira
o Sr. Boris Casoy foi grosseiro , mal educado e desehumano em suas afirmações. Por mais que seja duro admitir isso, é verdade que a grande maioria da sociedade, sobretudo os membros da elite pensam isso a respeito dos garis e outros trabalhadores braçais.Conheço muita gente que despreza porteiros, empregados domésticos , garis,motoristas se recusando a dá-lhes um simples bom dia e se irritando sempre que eles puxam alguma dia de conversa. Agora as mascaras cairam e todos se deparam com essa realidade que sempre existiu nessa nossa sociedade que ainda guarda a lembrança da época da escravidão.
ResponderExcluirÉ ingênuo imaginar que a sociedade democrática onde todos tem teoricamente a mesma oportunidade seja igualitária. O que Boris falou reflete um pensamento comum entre vários setores sociedade, sobretudo os da elite.Ele foi grosso e cruel, mas não disse nada de surpreendente. Garis ou trabalhadores manuais tem extremo valor, mas não são reconhecidos porque formam um contigente de mão de obra excedente dentro do capitalismo. Infelizmente é essa a sociedade de classes em que vivemos. Injusta e hipócrita.
ResponderExcluirImagina uma semana de greve dos garis e uma semanda de greve dos jornalistas. De quem a população sentiria mais falta?
ResponderExcluirRetratar-se é uma severa punição a ambos, pois de nada vai relutar eese pensamento e ditas palavras desse tal "ancora" que para mim pareçe um "anzol" fisgando a sua propria lingua... "Perdão! Garis eles não sabem o que falam!".
ResponderExcluirVocê tem toda razão, Fabio! Eles não sabem o que falam. Garis e outros trabalhadores menos qualificados como porteiros, vigilantes ou domésticos são extremamente importantes para a manutenção da sociedade, mas dificilmente são valorizados. Isso espelha o arcabouço de valores de uma sociedade que valoriza a formação de muitos "doutores" que sequer terão ocupação dentro do mercado de trabalho.
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