sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

LIBERTAI-NOS , OH POETAS!

Somente os loucos são capazes de transcenderem a realidade doentia para os outros, os normais, deixemos as verbalizações racionais em seus infinitos porquês.
Por Andreia de Oliveira

Entre todas as linguagens artísticas, a poesia, sem sombra de dúvidas, representaria uma perfeita oposição aos ditames do paradigma racional que ainda infesta a humanidade com suas visões mecânicas e limitadas da realidade. Racionalizar, codificar, rotular , explicar tudo com o extremo rigor das normas e convenções conduziram os homens a incríveis progressos tecnológicos, não obstante produzem a cada dia uma legião consideráveis de seres neuróticos , apáticos e alienados , incapazes de expressarem uma ideia, uma palavra ou um gesto que seja do imenso universo que povoa a alma humana.

Conceber o todo como partes separadas e distintas aos moldes do pensamento cartesiano produz a legião dos especialistas das ciências que em seu saber sistematizado e dogmático nos dizem muito sobre os computadores , as doenças , as crises financeiras e os conflitos sociais. O homem animal social, político, econômico em suas diversas concepções psicológicas, antropológicas, biológicas.

Mas e o homem, o que seria mesmo? Não seria uma peça indissolúvel e integrada à imensa cadeia de vida do universo, tal como preconiza Fritjof Capra , em sua teoria do paradigma ecológico holístico , ao determinar a indissolubidade de todas as partes como pressuposto máximo para o conhecimento do funcionamento do organismo?

Para os poetas que exploram todas as possibilidades de transcendência da realidade cotidiano, através da sublimação do ego e unem sua voz a torrente de desejos, anseios e imaginários da humanidade, certamente, não. Não sem razão, a poesia, como elemento de subversão, questionamento e inovação frustram as expectativas de todos que existem em vê-la unicamente como um devaneios de mentes errantes.

O Manifesto Utópico – Ecológico em Defesa da Poesia e do Delírio , do poeta Roberto Piva *, exprime com todo vigor esse cunho libertário em meio as inúmeras referências ao novo paradigma dos tempos, rompendo com toda as estruturas massificantes da sociedade.

“Invocação

Ao Grande deus Dagon de olhos de fogo, ao deus da vegetação Dionisos, ao deus Puer que hipnotiza o Universo com seu ânus de diamante, ao deus Escorpião atravessando a cabeça do Anjo, ao deus Luper que desafiou as galáxias roedoras, a Baal deus da pedra negra, a Xangô deus-caralho fecundador da Tempestade.

Eu defendo o direito de todo ser Humano ao Pão & à Poesia. Estamos sendo destruídos em nosso núcleo biológico, nosso espaço vital & dos animais está reduzido a proporções ínfimas quero dizer que o torniquete da civilização está provocando dor no corpo & baba histérica o delírio foi afastado da Teoria do Conhecimento & nossas escolas estão atrasadas pelo menos cem anos em relação às últimas descobertas científicas no campo da física, biologia, astronomia, linguagem, pesquisa espacial, religião, ecologia, poesia-cósmica, etc., provocando abandono das escolas no vício de linguagem & perda de tempo em currículos de adestramento, onde nunca ninguém vai estudar Einstein, Gerard de Nerval, Nietzsche, Gilberto Freyre, J. Rostand, Fourier, W. Heinsenberg, Paul Goodman, Virgílio, Murilo Mendes, Max Born, Sousandrade, Hynek, G. Benn, Barthes, Robert Sheckley, Rimbaud, Raymond Roussel, Leopardi, Trakl, Rajneesh, Catulo, Crevel, São Francisco, Vico, Darwin, Blake, Blavatsky, Krucënych, Joyce, Reverdy, Villon, Novalis, Marinetti, Heidegger & Jacob Boehme & por essa razão a escola se coagulou em Galinheiro onde se choca a histeria, o torcicolo & repressão sexual, não existindo mais saída a não ser fechá-la & transformá-la em Cinema onde crianças & adolescentes sigam de novo as pegadas da Fantasia com muita bolinação no escuro”.

* Roberto Piva, comumente classificado como o “poeta maldito” foi publicado inicialmente na Antologia dos Novíssimos em 1961. Nos anos 70 , participou da Antologia 26 poetas hoje que reunia nome da chamada literatura marginal organizado por Heloísa Buarque de Holanda. Publicando individualmente os seguintes livros: Paranóia, 1963; Piazzas, 1964, Abra os olhos e diga ah!, 1975, Coxas, 1979, 20 Poemas com Brócoli, 1981, Antologia Poética, 1985, Ciclones, 1997, Um Estrangeiro na Legião: obras reunidas, volume 1, 2005, Mala na Mão & Asas Pretas: obras reunidas, volume 2, 2006, Estranhos Sinais de Saturno: obras reunidas, volume 3, 2008. Sua poesia marcada de influências surreais e referencias a geração beat , destaca-se pelo seu cunho libertário e contraventor em meio a abordagens de temáticas homoeróticas. Recentemente em seus trabalhos é freqüente a alusões ao misticismo e ao xamanismo.




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