domingo, 31 de janeiro de 2010

A CRÍTICA DO CORDEL


Antônio Barreto, autor do polêmico cordel “Caetano Veloso: um sujeito alfabetizado, deselegante e preconceituoso", volta novamente à cena com a produção “'Big Brother Brasil, um programa imbecil'. O reality show global e seu apresentador Pedro Bial, a quem chama de “mercador de ilusão”, são alvos de duras críticas , enfatizando-se o conteúdo fútil e pouco educativo do programa e o caráter alienante da emissora que teria o objetivo de “ ‘ emburrecer’, deixando o povo demente”.

O professor, cordelista e poeta, que já teve seu trabalho publicado em antologias e livros individuais como Flores de Umburana em 2006, é o autor também de diversos folhetos de cordéis. Amante da cultura popular, esse baiano natural de Santa Bárbara , região oeste do estado que reside em Salvador recria em seus versos de cordel, temáticas diversas e atuais como educação, problemas sociais , futebol, entre outros.

Expoente da literatura popular o cordel foi trazido pelos portugueses ao Brasil na época da colonização, estando presente até os dias atuais, em diversas manifestações, sobretudo no Nordeste do país. Inicialmente de tradição oral, o cordel é escrito e publicado através de folhetos em versos rimados e cadenciados, disposto em estrofes de tamanhos diversos, onde são retratados assuntos do cotidiano e aspectos sociais e políticos em tom crítico ou irônico. Confiram o inteligente trabalho de Antonio Barreto. São vinte e cinco estrofes com sete versos cada uma.


Brother Brasil
Um programa Imbecil

Antonio Barreto

Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.

Há muito tempo não vejo
Um programa tão ‘fuleiro’
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.

Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, ‘zé-ninguém’
Um escravo da ilusão.

Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme ‘armadilha’.

Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.

O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.

Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.

Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.

Respeite, Pedro Bienal
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dar muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.

Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.

Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.

A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os “heróis” protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.

Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.

Talvez haja objetivo
“professor”, Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.

Isso é um desserviço
Mal exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.

É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos “belos” na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.

Se a intenção da Globo
É de nos “emburrecer”
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.

A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto a poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.

E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não deem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.

E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.

E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.

A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.

Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.

Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores?

Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal…
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga, animal...

FIM
FONTES: PORTAL UOL
BLOG BARRETO CORDEL


sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

APÓS O FESTIVAL DE VERÃO

"Até Caetano Veloso deu o ar da graça e não hesitou em incluir no seu repertório, recheado de músicas e sucessos autorais, os pagodes "Kuduro" e "Cole na Corda", este da banda Psirico, que Caetano assume ser fã de carteirinha."

Por Elenilson Na
scimento
Por motivo de força maior, esse ano não deu para eu ir ao “Festival de Verão de Salvador”, mas parece que não perdi nada. Nem ia comentar aqui no blog, mas depois de ter visto umas cenas bizarras do cantor Akon “dançando” com a chatinha da Claúdia Leitte, de ter recebido alguns e-mails perguntando o motivo que esse ano eu não citei uma notinha sequer, por fim, me dei por vencido e resolvi tecer uns breves comentários, mesmo porque nem lá eu estava. Mas, vamo que vamo!
Parece que o “Festival de Verão Salvador” desse ano seguiu fazendo mistura mesmo. Até Caetano Veloso deu o ar da graça e não hesitou em incluir no seu repertório, recheado de músicas e sucessos autorais, os pagodes "Kuduro" e "Cole na Corda", este da banda Psirico, que Caetano assume ser fã de carteirinha. Teve também nessa edição umas coisas pra lá de desnecessárias como a dupla Victor & Léo (que parece ser um sucesso entre os alienados), banda Asa de Águia (com as mesmas chatices de sempre), Daniela Mercury e Carlinhos Brown juntos que pareciam que não estavam a vontade, a banda Charlie Brown com o Olodum (foto acima), além cantor Tomate, do grupo Revelação, além da já citada banda Psirico, no comando de Márcio Vitor.
Mas parece que os babões e puxa-sacos de Salvador bajularam mais o cantor senegalês Akon do que qualquer outra celebridade extraterrestre. Mesmo assim, o Akon agradou e parece ter esbanjado simpatia em sua passagem por Salvador. A Claúdia Leitte, que havia acabado de se apresentar, foi convidada para participar do show e entrou no clima da brincadeira. Foi ao som de “Don't Matter” que eles fizeram o “dueto” bizarro. Nesse momento, o cantor puxou o hit “Não Vale Mais Chorar por Ele”, uma versão em ritmo de arrocha que a banda baiana Bonde do Maluco fez da música dele. “Akon, vou lhe mostrar o meu swing”, disse a Leitte, mas ela nem imagina que “swing” lá fora é o mesmo que fazer “sexo grupal”. Na sequência a doída (num curtíssimo vestido preto) desceu até o chão, e o Akon num requebrado acompanhando. Os dois dançaram juntinhos e deixaram o público boquiaberto.
Mas a brincadeira não parou por aí. Num diálogo com o DJ Benny-D, uma pergunta: “Qual é a melhor cidade do Brasil? É o Rio? É Salvador?”. O DJ provocou e disse que era o Rio. Akon rebateu: “Salvador, vocês acreditam nisso?”, disse, antes de eleger a capital baiana como a sua favorita. Logo após, para delírio das mulheres, ele tirou as três suadas camisas que vestia, as jogou para o público e ficou apenas de calça, como passou o resto da apresentação. “Agora vocês estão prontos para a festa”, animou.
Depois de se apresentar no “Festival de Verão” e descer até o chão com a Leitte, o cantor ainda teve pique no dia seguinte para empolgar o público que marcou presença na última “Mostra Contagiante”, com o super-simpático Denny (foto ao lado) sendo anfitrião da festa da Timbalada.
Durante o evento, que rolou no Museu du Ritmo (*super caro, mal localizado e só frequentado pela elite soteropolitana), no bairro do Comércio, Akon deu um show à parte. Além de dividir os vocais com Denny, ainda arriscou tocar timbau (foto acima), levando o público ao delírio. Para quem é filho de percussionista e viveu boa parte da sua vida no Senegal, na África, não poderia dar outra! Parece que o Akon já está se sentindo em casa na Bahia... Dá-lhe, Akon!
Mas ainda teve (*que presta) Paralamas e Ivete no palco principal; nos palcos alternativos: Jau, Márcio Mello, Adelmo Casé, Nelson Rufino, Mariene de Castro, Adão Negro, Margareth, Márcia Castro, Vânia Abreu, Ana Cañas, Cascadura, muitos DJs, além de muita gente bacana nos bastidores. Mas pelo amor de Deus, o que é que a Maluca Magalhães estava fazendo no Festival? Confiram algumas imagens abaixo:
A sempre massa Regina Casé.
Gilberto Gil compenetradíssimo.
Gil, Caetano e, ao fundo, a Casé.
A atriz Fernanda Souza.
A repórter “arroz de festa” da Rede Bahia Wanda Chase,
o Márcio Vitor e a M
argareth Menezes.
Ivete depois da apresentação no palco principal
da arena do Festival de Verão.
Várias beldades anônimas, como essa gatinha da foto,
trabalhando pa
ra os nossos deleites.
E os fãs loucos que não se cansavam de demonstrar
carinho pela Ivete Sangalo.

>>> Confira a cobertura do Festival de Verão 2009.
>>> E também a cobertura do
Festival de Verão 2008.
foto Akon 1: Portal Ego
foto Akon 2: Fred Pontes
foto de fã de Ivete: Lúcio Távora/Agência A Tarde
demais fotos: Portal iBahia

A SAGA DA DEMOCRACIA NA AMÉRICA LATINA

Suspensão do funcionamento dos canais de TV a cabo e crise na economia , expõe as mazelas do Governo de Chávez na Venezuela.


*Por Andréia de Oliveira

A velha saga do conturbado passado político que a América Latina enfrentou no passado, manifesta-se com todo vigor em pleno século XXI, na Venezuela, país que atravessa forte crise social , política e econômica, e mais uma vez aparece no noticiário internacional ostentando o seu delicado quadro institucional. Dessa vez a decisão do presidente Hugo Chávez , que cancelou a transmissão de 06 canais a cabo no país , no dia 23 de janeiro, expõe os problemas internos do país , em meio ao acirramento de sua crise social e política.

O alvo de Hugo Chávez teria sido os canais de televisão como a RCTV, antiga opositora do governo venezuelana, que para fugir da Lei de Responsabilidade Social em Rádio Televisão, transfere a sede para os Estados Unidos e passa a funcionar como um canal a cabo internacional sob a denominação de Radio Caracas Television Internaciona (RCTVI). A emissora é tida como articuladora de uma tentativa de golpe de estado contra o governo em 2002 quando conclamou o povo a manchar para o Palácio de Miraflores para derrubar Chávez.

O líder venezuelano, notório por suas posições contrarias ao imperialismo norte-americano , tem em seu governo ainda a marca de outras ações e controversas , quando em fevereiro de 2009 promoveu um referendo popular que lhe concedeu o direito de reeleição ilimitada. Há mais de 10 anos no poder Chávez que pretende promover a chamada “revolução boliviana”, enfrenta atualmente uma forte crise econômica, com racionamento de energia, desvalorização cambial e ameaças de desabastecimento.

O clima de incerteza econômica aliado as medidas de cerceamento da liberdade de expressão no pais , provocam uma onda de onda protesto e manifestações populares, polarizando a disputa entre os defensores e opositores de Chávez. O Brasil, que em dezembro de 2009 , já havia aprovado a entrada da Venezuela no MERCOSUL , mesmo a despeito da oposição de parlamentares e da cláusula que impede a adesão ao bloco de países com regimes não democráticos, tem como conduta a neutralidade ante a situação interna venezuelana.


FONTES: PORTAL G1 /REVISTA ÉPOCA

FOTOS: JORNAL DE NOTICIAS - JUAN BARRETO /AFP



LIBERTAI-NOS , OH POETAS!

Somente os loucos são capazes de transcenderem a realidade doentia para os outros, os normais, deixemos as verbalizações racionais em seus infinitos porquês.
Por Andreia de Oliveira

Entre todas as linguagens artísticas, a poesia, sem sombra de dúvidas, representaria uma perfeita oposição aos ditames do paradigma racional que ainda infesta a humanidade com suas visões mecânicas e limitadas da realidade. Racionalizar, codificar, rotular , explicar tudo com o extremo rigor das normas e convenções conduziram os homens a incríveis progressos tecnológicos, não obstante produzem a cada dia uma legião consideráveis de seres neuróticos , apáticos e alienados , incapazes de expressarem uma ideia, uma palavra ou um gesto que seja do imenso universo que povoa a alma humana.

Conceber o todo como partes separadas e distintas aos moldes do pensamento cartesiano produz a legião dos especialistas das ciências que em seu saber sistematizado e dogmático nos dizem muito sobre os computadores , as doenças , as crises financeiras e os conflitos sociais. O homem animal social, político, econômico em suas diversas concepções psicológicas, antropológicas, biológicas.

Mas e o homem, o que seria mesmo? Não seria uma peça indissolúvel e integrada à imensa cadeia de vida do universo, tal como preconiza Fritjof Capra , em sua teoria do paradigma ecológico holístico , ao determinar a indissolubidade de todas as partes como pressuposto máximo para o conhecimento do funcionamento do organismo?

Para os poetas que exploram todas as possibilidades de transcendência da realidade cotidiano, através da sublimação do ego e unem sua voz a torrente de desejos, anseios e imaginários da humanidade, certamente, não. Não sem razão, a poesia, como elemento de subversão, questionamento e inovação frustram as expectativas de todos que existem em vê-la unicamente como um devaneios de mentes errantes.

O Manifesto Utópico – Ecológico em Defesa da Poesia e do Delírio , do poeta Roberto Piva *, exprime com todo vigor esse cunho libertário em meio as inúmeras referências ao novo paradigma dos tempos, rompendo com toda as estruturas massificantes da sociedade.

“Invocação

Ao Grande deus Dagon de olhos de fogo, ao deus da vegetação Dionisos, ao deus Puer que hipnotiza o Universo com seu ânus de diamante, ao deus Escorpião atravessando a cabeça do Anjo, ao deus Luper que desafiou as galáxias roedoras, a Baal deus da pedra negra, a Xangô deus-caralho fecundador da Tempestade.

Eu defendo o direito de todo ser Humano ao Pão & à Poesia. Estamos sendo destruídos em nosso núcleo biológico, nosso espaço vital & dos animais está reduzido a proporções ínfimas quero dizer que o torniquete da civilização está provocando dor no corpo & baba histérica o delírio foi afastado da Teoria do Conhecimento & nossas escolas estão atrasadas pelo menos cem anos em relação às últimas descobertas científicas no campo da física, biologia, astronomia, linguagem, pesquisa espacial, religião, ecologia, poesia-cósmica, etc., provocando abandono das escolas no vício de linguagem & perda de tempo em currículos de adestramento, onde nunca ninguém vai estudar Einstein, Gerard de Nerval, Nietzsche, Gilberto Freyre, J. Rostand, Fourier, W. Heinsenberg, Paul Goodman, Virgílio, Murilo Mendes, Max Born, Sousandrade, Hynek, G. Benn, Barthes, Robert Sheckley, Rimbaud, Raymond Roussel, Leopardi, Trakl, Rajneesh, Catulo, Crevel, São Francisco, Vico, Darwin, Blake, Blavatsky, Krucënych, Joyce, Reverdy, Villon, Novalis, Marinetti, Heidegger & Jacob Boehme & por essa razão a escola se coagulou em Galinheiro onde se choca a histeria, o torcicolo & repressão sexual, não existindo mais saída a não ser fechá-la & transformá-la em Cinema onde crianças & adolescentes sigam de novo as pegadas da Fantasia com muita bolinação no escuro”.

* Roberto Piva, comumente classificado como o “poeta maldito” foi publicado inicialmente na Antologia dos Novíssimos em 1961. Nos anos 70 , participou da Antologia 26 poetas hoje que reunia nome da chamada literatura marginal organizado por Heloísa Buarque de Holanda. Publicando individualmente os seguintes livros: Paranóia, 1963; Piazzas, 1964, Abra os olhos e diga ah!, 1975, Coxas, 1979, 20 Poemas com Brócoli, 1981, Antologia Poética, 1985, Ciclones, 1997, Um Estrangeiro na Legião: obras reunidas, volume 1, 2005, Mala na Mão & Asas Pretas: obras reunidas, volume 2, 2006, Estranhos Sinais de Saturno: obras reunidas, volume 3, 2008. Sua poesia marcada de influências surreais e referencias a geração beat , destaca-se pelo seu cunho libertário e contraventor em meio a abordagens de temáticas homoeróticas. Recentemente em seus trabalhos é freqüente a alusões ao misticismo e ao xamanismo.




terça-feira, 26 de janeiro de 2010

ROBERTO PIVA


O poeta paulista Roberto Piva vive por conta de complicações de saúde, um drama particular em muito agravado pelo descaso com saúde e pelo esquecimento cultural de um país, habituado a cultuar as celebridades instantâneas da mídia . O fato foi noticiado por Ademir Assunção no blog Zona Branca no dia 25 de janeiro:

“Roberto Piva, um dos maiores poetas brasileiros, está internado na enfermaria do Hospital das Clínicas, em estado precaríssimo. Piva tem 73 anos e sofre de mal de Parkinson. Segundo o poeta Celso de Alencar, que o visitou ontem, ele está num verdadeiro inferno dantesco. Nos últimos anos, Piva teve suas obras completas reunidas pela editora Globo em três volumes: Um Estrangeiro na Legião, Mala na Mão & e Asas Pretas e Estranhos Sinais de Saturno. Sua poesia voltou a circular como um furacão, mas o poeta continuou vivendo em situação precária. É comum os amigos se cotizarem para comprar os remédios que ele precisa para manter os efeitos do mal de Parkinson num nível razoável. Artistas não vivem de elogios. É preciso tirá-lo da enfermaria do HC e transferi-lo para um quarto. Urgente. Isso é o mínimo nesse momento. Ou as palavras do próprio poeta vão se confirmar como uma nefasta profecia?:

“O objetivo de toda Poesia & de toda Obra de Arte foi sempre uma mensagem de Libertação Total dos Seres Humanos escravizados pelo masoquismo moral dos Preconceitos, dos Tabus, das Leis a serviço de uma classe dominante cuja obediência leva-nos preguiçosamente a conceber a Sociedade como uma Máquina que decide quem é normal & quem é anormal.”

“... criminosos fardados & civis têm o poder absoluto para decidir quem é útil & quem é inútil”.

“Enquanto isso, os representantes da poesia oficial & os engomados homens de negócios trocam entre si, numa reciprocidade suspeita, discursos & homenagens estourando de vaidade diante do aplauso de seus concidadãos. O que eu & meus amigos pretendemos é o divórcio absoluto da nova geração dos valores destes neomedievalistas”.

Lamentável que o sofrimento de Roberto Piva tenha que ser exposto assim dessa maneira e que informações particulares como as suas dificuldades financeira sejam evidenciadas, conquanto evidenciem as amarguras em se fazer arte em um país que apenas valoriza as manifestações culturais superficias, submetidas essas ao terrível jogo especulativos dos mercados. Contudo, abstraindo-se de qualquer cunho sensacionalista, é necessário divulgar essa informação para que ao menos um pouco de conforto e dignidade possa ser concedido ao poeta, professor e produtor musical, enfim ao ser humano, Roberto Piva, que nesse instante representa todos nós, unidos que somos pelos laços inegáveis da frágil condição humano.

Como escreveu o escritor e jornalista baiano Elenilson Nascimento em seu blog Literatura Clandestina :

“Agora, acho demasiadamente triste (*uma sacanagem, por sinal) falar de um poeta como o Piva, nos limites da fraqueza humana, no leito de um hospital, no desespero e na urgência. Se algum leitor do nosso blog conhece alguém no Hospital das Clínicas (São Paulo) que tenha condições de conseguir uma transferência com URGÊNCIA para um quarto, já é um alento. Só quem já precisou ficar em enfermaria, ou mesmo corredor, em qualquer hospital público de São Paulo (*e de todo o Brasil), sabe o inferno que é isso. Nem um cidadão merece passar por isso, muito menos um poeta do quilate do Piva.
O nosso poeta merece ser sempre comentado e lembrado em estado de exuberância, vivo, de um lugar onde o cheiro incita o caminhar, mesmo que no horizonte seja possível avistar o céu preto da “necrópole”. Não é bom pensar num xamã com olhos piedosos, mesmo que ele esteja como todos nós, forrado das doenças ocidentais. Enfim, divulguem, peçam ajuda, repassem. Vamos lá. A poesia agradece. “

Contatos: Ademir Assunção pelo e-mail: zonabranca@uol.com.br

Dados bancários para eventual ajuda financeira, divulguem.

Banco Itaú Agência 0036

C/C 20592-0
CPF 565 802 828-00

:

EM TEMPO: Conforme informações publicadas nos blogues Literatura Clandestina e no Zona Branca no dia 28/01 , Roberto Piva já conseguiu uma mudança de quarto e recebe um atendimento médico adequado , internado no Hospital das Clinicas em São Paulo, enquanto aguarda a realização de cirurgias. Segundo o Ademir Assunção ele está mais animado: Hoje cedo pediu para o Gustavo levar livros. Os amigos continuam se mexendo para que ele tenha um bom tratamento e se recupere o mais rápido possível. É isso o que interessa”. Enquanto isso os amigos estão se mobilizando para realizarem a leitura de seus textos com o objetivos de arrecadarem fundos.


FONTE: LITERATURA CLANDESTINA/
BLOG ZONA BRANCA



segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O VENDEDOR DE PICOLÉ QUE AMAVA CAPITU

Quando as aflições modernas transformam-se na linguagem literária.


* Por Andréia de Oliveira


As angústias e amarguras retratadas em um quadro de crise social em todos os seus aspectos ,elementos frequentemente abordados nos textos do escritor baiano, Elenilson Nascimento, estão presentes nesse conto, O vendedor de Picolé que Amava Capitu, integrante do livro Memórias de um Herege Compulsivo. Nessa história, entretanto, como diferencial utiliza-se a crise na instituição educacional como pano de fundo para que se discuta questões que se encerram nos campos das crises existenciais do homem moderno, imenso em seus dramas de solidão, individualismo e desmotivações.

Um jovem professor de letras amarga as frustrações e decepções com a carreira, em meio ao descaso educacional do país, questionando-se profundamente quanto a sua própria relação com o mundo. Em seu cotidiano de morador da periferia da cidade convive diariamente com a realidade dos esquecidos, enquanto busca subterfúgios para amenizar o vazio e a angústia típicas de seu contato conflituoso com a realidade.

Esse personagem, assim, encarna o estereótipo dos milhares de jovens que acreditaram no mito da redenção através do ensino superior no país e encontram-se agora inoperantes face às impossibilidades de atuarem como agentes transformadores, carecendo ainda de quaisquer mecanismos compensatórios, sejam eles no patamar financeiro ou no campo do reconhecimento social. Não sem razão, apresenta uma personalidade solitária, angustiada, triste, por vezes apática que se revela na incapacidade de comunicação efetiva com a sociedade em que vive.

Surge então, a figura do vendedor de picolé que amava Capitu, finalizando a saga do excluído que encontra sua razão de ser na literatura e enfrenta inúmeras dificuldades em se fazer ouvido e compreendido. O ato de escrever muito além da revelação de uma vocação nata, traduz a sua própria sobrevivência no mundo, com qual consegue, por fim, estabelecer um dialogo efetivo, transcrevendo suas ideias e impressões.

Uma recriação da lenda da vitória dos rejeitados que ganha forma personalizada ante a abordagem lírica e metafórica, contextualizadas com os problemas atuais, em uma história que desperta reflexões quanto à decadência cultural da atualidade, enaltecedora de egos e esmagadora de talentos. Em outro desdobramento para o leitor mais atento, podem surgir ,ainda, questionamentos quanto à capacidade da literatura na condição de sonho individual de uns poucos, ser capaz de produz alguma espécie de ressonância dentro do quadro alienante da contemporaneidade.

De qualquer forma o conto é especialmente ilustrativo a respeito do caráter imediatista e cruel dos tempos atuais quando a condição da existência humana é usualmente atribuída ao projeto que representa dentro de uma escala de valores , construída pela sociedade. A literatura surge assim como um bálsamo, ou quem sabe um possível antídoto à superficialidade reinante, sinalizando possíveis caminhos e possibilidades de sobrevivência de visões diferenciadas de mundo que não se encerram na conversões do cotidiano.

FOTOS: 1 - Site Penacova
2- Livro Memórias de Um Herege Compulsivo

sábado, 23 de janeiro de 2010

A VOZ SUTIL E INTELIGENTE DE ÉRIKA MACHADO

Bem Me Quer Mal Me Quer, o novo CD de Érika Machado, sinaliza novos caminhos para a interessante mistura de Música Popular Brasileira com outros gêneros musicais.

Uma voz doce e marcante entoando letras líricas e irreverentes sob temática do cotidiano embaladas por construções melódicas suaves e melancólicas sob a influência de nomes da MPB, como Nara Leão e Rita Lee, mas que em muito faz lembrar, também, importantes referência das bandas de Indie Rock. São elementos notáveis do novo CD, da mineira Érika Machado que produzido por Jonh Ulhoa da banda Pato Fu, sinaliza novos caminhos para essa interessante mistura de música popular brasileira com outros gêneros.

Ganhadora do prêmio Artista Revelação, oferecido pela Associação Paulista dos Críticos de Artes, em 2006, pelo CD No Cimento, Érika apresenta em Bem Me Quer Mal Me Quer canções antigas do ano 2007 junto a novas composições, com a mesma fórmula de qualidade, característica de seu trabalho. Como ecos reminiscentes da emblemática Secador, maça e lente do CD anterior a mesma crítica sutil e suave nos signos de nossos tempos, em Tiozão do Bar, uma balada country , que nos blinda com um discurso emblemático acerca do vazio presente nos padrões da normalidade.

Há ainda espaço para que se discorra sobre os amores vividos e ausentes em Dependente e Bem Me Quer Mal Me Quer, além de questionamentos existenciais em Tanto Faz e Sei Lá, envoltos na linguagem corrente das situações do dia a dia. Assim, Érika Machado desponta como uma grande revelação, suave , sagaz e consistente, dentro do universo da mesmice e superficialidade que permeia as produções musicais da atualidade.

CLIQUE AQUI E CONHEÇA O TRABALHO DE ÉRIKA MACHADO

ENTREVISTA DE ÉRIKA MACHADO NO L.C.

TEXTO: ANDREIA DE OLIVEIRA

FOTOS: SITE ÉRIKA MACHADO/ LC



quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O UNIVERSO POP DE ALEXANDRE LEÃO


CD single remix Mulheres Gostam produzido pelo DJ Adriano Barbous reproduz a diversidade do estilo musical do cantor e compositor baiano Alexandre Leão.



O CD Quatro Cantos lançado em 2009 pelo cantor e compositor Alexandre Leão é um diferencial dentro da mesmice e mediocridade que imperam nas produções musicais baianas da atualidade. Reunindo diversos parceiros como Jauperi, Targino Godim, Moises Souto, Saulo Fernandes, entre outros, em uma diversidade de influências que vão desde o rock ao forró, Quatro Cantos apresenta canções de letras inteligentes e poéticas com trabalhados arranjos, em um resultado que agrada tanto os ouvidos mais refinados quanto os admiradores da música pop.

Para esse cantor e compositor baiano que aos 17 anos, já tinha uma música gravada por Maria Bethania, interpretado também por nomes de peso como a Família Caymmi, Margareth Menezes, Rosa Passos, além de astros da axé, como Ivete Sangalo e Cláudia Leite, diversidade com qualidade musical é um selo frequentemente adotado em seus trabalhos. Como desdobramento desse consistente universo pop do cantor, apresenta-se o CD remix da excelente “ Mulheres Gostam” , de autoria de Leão e Manuca Almeida, faixa do CD Quatro Cantos, musica tema do filme nacional “Se eu fosse Você “, quando foi interpretada por Marina Elali.

Esse single não oficial, lançando recentemente, foi produzido pelo DJ Adriano Barbous , conhecido na noite pernambucana e traz diferentes versões remixadas para o sucesso “Mulheres Gostam” de Alexandre Leão, em um irresistível apelo para os amantes da música eletrônica. O CD remix está disponibilizando para download no blog Alexandre Leão Fan Clube, criado pelo escritor baiano Elenilson Nascimento com o objetivo de homenagear e divulgar o artista que também teve uma participação especial no Livro “Poemas de Mil Compassos” da Editora Clube de Autores com a publicação de uma interessante entrevista.

DOWNLOAD CD MULHERES GOSTAM

TEXTO: Andréia de Oliveira

FONTE E FOTOS: Alexandre Leão Fan Club

CAPA E CONTRACAPA: artwork’s: Ewerton Thiago e Toni Marzal

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

SALVADOR: A CAPITAL DA SUJEIRA

Coletando dados em apenas um dia de pesquisa , em uma área restrita , o Fantástico elege a capital baiana como a campeã em sujeira urbana.

Um título nada agradável a ser ostentado por Salvador, em plena alta estação do turismo e nas proximidades de mais uma folia momesca. Em reportagens exibidas no dia 10/01 e 17/01 no programa Fantástico da Rede Globo, a cidade é colocada na primeira colocação em um ranking que mede a poluição das praias e ruas como fruto da falta de educação da população em seu costumeiro hábito de depositar o lixo longe dos depósitos e lugares apropriados.
Medida a quantidade de lixo recolhido na extensão da Praia de Piatã, na cidade de Salvador, em 1 KM de extensão durante um dia , chegou-se a quantidade de 7,5 toneladas contra cerca de 6 toneladas recolhidas na Praia do Futuro, em Fortaleza. Na matéria foram exibidas ainda cenas típicas de sujeiras nas praias brasileiras , quando restos de comidas, copos descartáveis e outros, são lançadas na areia, apesar da proximidade de lixeira, a exemplo do prato de acarajé da banhista de Salvador.

Exemplos típicos do trato inadequado com o lixo também reproduzido pelas ruas das principais cidades brasileiras, conforme detectou a equipe no Fantástico. E novamente a capital baiana lidera a lista, apresentando cerca de 1,2 toneladas de lixo recolhido no chão fora das lixeiras, em um único quilômetro da Avenida Sete de Dezembro, região central da cidade, durante um dia útil de semana.

A primeira posição de Salvador, nesse ranking da sujeira urbana, é vergonhoso, mas nem um pouco surpreendente para quem mora na cidade e convive com exemplos outros de falta de educação, como o desrespeito às leis de trânsito e ao lei de silêncio, provocada esta pelos sons de carros, bares e eventos musicais que ultrapassam os limites do bom senso, incomodando todos a sua volta. São problemas típicos de convivência social existentes em grandes metrópoles e conglomerados urbanos, de maneira que seria prematuro fazer qualquer abordagem mais precisa sobre o fato, assim como discutir possíveis determinantes sócios culturais que conduziria Salvador ao primeiro lugar nesse ranking da sujeira urbana.
Até mesmo porque problemas como a falta de civilidade não é um fenômeno localizado ou regional, uma vez que a reportagem do Fantástico colheu imagens em diversos locais do Brasil e colocou o Rio de Janeiro, localizado na região Sudeste, no 4º lugar na lista de sujeira urbana. O depósito de lixos em locais inadequados ou impróprios como encostas ou ruas é uma realidade também para as populações do Sudeste e Sul do país, que enfrentam problemas como alargamento de vias públicas e deslizamentos de terra diante de fortes chuvas ou tempestade.
E assim como tudo em linguagem televisa e comunicação midiática é superficial, as vezes apelativa, eis que sempre surgem conclusões preconceituosas pelo fato dos três primeiros lugares do ranking serem ocupados por representante do norte e nordeste , enquanto que a “européia” Curitiba ostenta o direito de campeã da limpeza. Antes de fazer qualquer associação bairristas é importante colocar que o ato de jogar lixo em via pública é apenas uma das muitas representações da mentalidade egoísta e individualista dos tempos atuais, em suas inúmeras manifestações de falta de respeito ao espaço do outro, potencializadas em uma cultura como a nossa, onde o desrespeito a leis e normas pré-estabelecidas é um elemento histórico.
E nessa degradação dos costumes, dos valores e de qualquer senso de responsabilidade com relação ao meio em que se vive, o ato de poluir o ambiente em que se vive é apenas a ponta de um iceberg, que revela ao final, a tônica da selvageria em que todos vivem. Mas para essa sociedade nossa, imediatista, comumente tendenciosa em simplificar fatos em números, é possível em apenas um dia de coleta de dados em uma área pequena de amostragem, traçar diagnósticos conclusivos.

TEXTO: Andréia de Oliveira
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