segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

ABORTO EM PAUTA

Pressão da Igreja faz governo alterar o texto do Programa Nacional dos Direitos Humanos que defendia a descriminação do aborto no país.
Por Andréia de Oliveira

Até onde vai o direito de organizações religiosas interferirem em uma nação laica que por essência faz vigorar o preceito da separação entre o estado e a igreja? Essa velha questão que sempre surge quando leis ou iniciativas estatais contradizem tradicionais dogmas religiosos volta novamente à cena com o recuo do governo no Programa Nacional dos Direitos Humanos que defendia a descriminalizar do aborto no país.

Publicado no Diário Oficial da União, em dezembro de 2009 , o programa estabelecia apoio ao projeto de lei que tornava legal a prática do aborto no Brasil , aludindo-se ao direito de autonomia das mulheres para decidirem sobre seus corpos. A redação do novo texto ,entretanto, apenas deverá abordar o aborto do ponto de vista da saúde pública, em ocasiões que façam necessária a interrupção da gravidez para que se salve a vida da mãe.

O programa criado através de um decreto presidencial, traz a pauta possíveis temas para projetos de lei a serem apreciados pelo Congresso Nacional, contendo, ainda, outros tópicos polêmicos, a exemplo da criação de uma Comissão da Verdade para apurar crimes da ditadura e a não repreensão às invasões de terra. Parece, contudo, que o alvo dos líderes religiosos pais seja o que se considera uma ameaça a família e ao matrimônio ou a negação de alguns símbolos da fé católica.

E assim a Confederação Nacional dos Bispos Brasileiros lançam veementes críticas ao programa governamental no que tange além da legalização do aborto, a união civil estável entre pessoas do mesmo sexo, a adoção por casais homoafetivos e a proibição da ostentação de símbolos religiosos nas repartições públicas do país. Os bispos católicos que denomina o presidente Lula como o “novo Herodes “ por supostamente promover o extermínio de crianças com a descriminação do aborto também organizam um abaixo-assinado contra o que classificam como ato autoritário do governo , uma vez que estaria a serviço apenas da vontade de parcela minoritária da população.

Com isso, percebe-se que os mecanismos de dominação das religiões transfiguram-se em repreensão ideológica na tentativa de se fazer valer seus dogmas e tradições que deveram ser aceitos universalmente, mesmo diante da presença de opiniões contrárias no seio dos seus próprios fiéis, a exemplo da postura da ONG Católicas pelo Direito de Decidir.. Mas a grande verdade mesmo é que por mais que o Brasil seja um país de maioria declaradamente católica, um governo democrático também se faz em respeito aos direitos e vontades das minorias e dos grupos que se opõem em comportamento e pensamentos aos ditames da Igreja Católica.

E dessa maneira, mesmo a despeito da vontade da Igreja Católica, o fato é que o aborto é amplamente praticado de forma clandestina no país, vitimando com a morte não só os fetos, assim como também mulheres pobres que recorrem a clínicas ou locais sem maiores recursos ou preparo para intervenções desse porte. E a vida tanto defendida e conclamada também se perde nas milhares de gestações sem planejamento que apenas multiplica a massa de miseráveis do país.

FOTO: PANFLETO ANTI-LULA DISTRIBUÍDO PELA IGREJA CATÓLICA / PORTAL UOL
FONTES: UOL NOTÍCIAS


Um comentário:

  1. Eu sou particularmente contra o aborto, mas não posso deixar de reconhecer que as pessoas tem o direito de decidirem sobre a questão. Em uma sociedade democrática, as decisões não podem ser favorecer somente os grupos religiosos. Existem minorias que devem ser respeitada, pois fazem parte da sociedade e não podem estar refens de preceitos religiosos que elas não acreditam.

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