A sociedade contemporânea é uma fonte incessante de produção de neuroses, distúrbios psicológicos, angústias e depressões, patologias que encontram abrigo em consultórios psiquiátricos, divãs de analista, religiões ou em livros de auto-ajuda, que sempre prometem oferecer o remédio ideal para a tal almejada paz de espírito. E os apelos em prol da chamada felicidade nunca estiveram tão convidativos quanto agora no final de ano diante das luzes cintilantes do natal em todas suas perspectivas consumistas e espiritualistas de satisfação.
Um bálsamo anestesiante para os crédulos da magia do natal ou simplesmente mais uma época de angústia e tristeza para os que sofrem do que a psicologia cataloga como depressão natalina, uma resposta negativa ao excesso de entusiasmo que impera no senso comum durante o período, acompanhada às vezes de tristeza e melancolia. Em uma sociedade onde os diferentes são facilmente rotulados de anormais, eis que a cura nem sempre surgirá pelas mãos das ciências humanas ou médicas.
È certo, entretanto, que os ritos de passagens são essenciais em qualquer grupo social , sendo as festas natalinas e o final de ano, símbolos do imaginário coletivo que aludem a transposição de etapas na vida de cada um, suscitando a reflexões sobre vitórias e fracassos. O grande problema estaria na escala de valores que a sociedade adota como ideal para classificar a importância dos indivíduos e de suas realizações, elaborada à luz de divagações sobre o TER ao invés do SER.
Essa contradição ganha força e contorno à mesa da ceia de Natal, local onde se congraçam os sentimentos de união e fraternidade, em meio às trocas de presentes e as ostentações outras de materialismo. E a data natalícia nada mas se torna do que o culto das vaidades humanas, onde a figura máxima da crença cristã, Jesus Cristo, cede lugar para uma a imagem capitalista na figura de um bom velhinho que presenteia as crianças em troca de um bom comportamento, dando a tônica de um tempo onde até o caráter pode ser passível de comércio.
Contra o caráter predominantemente comercial do natal, erguem-se os ingênuos ou os demasiadamente cínicos proclamando o tal espírito fraternal que despertaria os homens para ações generosas em prol do próximo. Mas por que ser solidário apenas no natal; por que desarmar o presépio símbolo do nascimento do Menino Deus no Dia de Reis; por que crucificar esse mesmo salvador na sexta-feira santa e passar o resto do ano entregue as mesquinharias, competições e frivolidades do dia a dia?
São divagações complexas e chatas por demais quando ainda se tem tantas compras a fazer, muitos corredores de shoppings lotados para enfrentar, muitas festas para ir, muitas árvores para enfeitar ......... E nessa nossa sociedade esculpida sob a égide da culpa judaica – cristã são muitos os mecanismos compensatórios que nos cercam.
Porém, nem sempre essas recompensas que o sistema nos impõe de maneira tão sutil são apreendidas e aceitas por todos como o retrato ideal de felicidade. E a sociedade contemporânea monta toda sua estrutura na necessidade da busca constante de uma quantidade cada vez maior de elementos anestesiantes, induzidos os indivíduos a recorrerem à artifícios como o consumo de tecnologia, o uso de drogas, sexo , diversão, entre outros, alimentando ,assim a própria roda produtiva do capitalismo.
Impossível não associar e classificar o natal dentro dessa própria lógica de funcionamento da sociedade, como personificação máxima dos princípios do capitalismo. Não há nada de absurdo nessa afirmação que não possa ser comprovada pelo conclame incessante dos meios de comunicação para o consumo excessivo e pela espécie de histeria coletiva reinante do ar onde atos e comportamentos são reproduzidos automaticamente sem qualquer questionamento.
Compramos presente, reunimos familiares e amigos, participamos das confraternizações de final de ano. Mas alguém sabe por que somos induzidos a fazer isso? Será que sabemos o verdadeiro significado do natal e de toda a simbologia que adorna nossos lares? Será que alguns têm conhecimento de que Cristo poderia não ter nascido em dezembro, mas sim em março* e que a festa natalina tal qual conhecermos é uma apropriação dos rituais pagãos das Tradições Primordiais que existiam antes da Era Cristã?
Posto isso, seria correto considerar os indivíduos que não compartilham da alegria extasiante do natal, como anomalias sociais, desajustados ou doentes em potencial? Para aqueles que sabem que estar no mundo não significa necessariamente participar do mundo, certamente não, pois para esses as luzes reluzentes do natal são apenas mais uma programação dos efeitos especiais dessa Matrix em que vivemos.
* Essa crônica tem caráter opinativo baseado em reflexões livres sobre tema.
* Sugestão de Leitura: A Vida Mística de Jesus- H. Spencer Lewis
IMAGENS: GOOGLE
Nenhum comentário:
Postar um comentário