terça-feira, 13 de outubro de 2009

A VOLTA DO CRISTO EM MEIO AOS MERCADORES DA FÉ


" Um Sócrates, pós- atual, em sua incansável busca pela verdade, era disso que precisávamos! Assim como Jesus Cristo, o filósofo grego desafiou os dogmas e padrões comportamentais de sua época, pagando com a vida o preço por desvelar a essência oculta da nossa pequenez cotidiana."
Por Andréia de Oliveira

Em meus devaneios e alucinações filosóficas, gosto de imaginar como seria a vinda de um Cristo, nessa era da fé vendida em anúncios luminosos das bancas de revistas da esquina. E ele surge assim em meios as visões enigmáticas do personagem Neil do filme Matrix, um herói cibernético a perturbar toda a falsa estrutura das cores e formas dos programas que comandam nossa realidade.
Da mesma maneira que o destemido Neil, esse Cristo dificilmente seria encontrado no staff das organizações estatais ou nas fileiras das seitas convencionais, tamanha a sua incompatibilidade com as linhas mestras desse mundo. Gosto de imaginá-lo, quem sabe, como um filósofo maldito, desses que surgem de tempos em tempos, lançando fechas de luz sobre os sórdidos caminhos de trevas da humanidade.
Um Sócrates, pós- atual, em sua incansável busca pela verdade, era disso que precisávamos! Assim como Jesus Cristo, o filósofo grego desafiou os dogmas e padrões comportamentais de sua época, pagando com a vida o preço por desvelar a essência oculta da nossa pequenez cotidiana.
Há muitas e muitas semelhanças na história dessas duas personalidades - Jesus e Sócrates – que se perdem nas imagens das santidades divinas, construídas pelos adoradores dos deuses de aço. Assim, antes de confiar na idéia do “filho de Deus”, prefiro desviar minha atenção para a saga dos “filhos dos homens “ , estes seres que surgem assim tão próximos a nós com o intuito de libertar-nos da lenda pecado mortal que se esconde na nossa própria consciência.

Não que não acredite na lenda dos anjos caídos exilados do paraíso do Éden e outros símbolos referentes à perda da perfeição humana. Como ele bem disse não pertencer a esse mundo , também nós não, embora aqui permanecemos acorrentados em nossas limitações milênios e milênios a fio, repetindo as fórmulas mágicas importadas dos xamãs e sacerdotes do medo.
Recuso-me a crê na imagem arquitetada do “filho de Deus”, em seus incessantes apelos materialistas, tão viva é a lembrança da antológica cena bíblica da expulsão dos mercadores do templo. Contradições estas, que se afloram na era do comércio da fé, entre tantos outros falsos profetas que aqui estão em seu nome.
Por isso mesmo interrompo por instantes esse utópico sonho da redenção da humanidade, através da chegada de um nobre guerreiro viajante do tempo. Constato simplesmente que se esse Cristo aqui estivesse jamais seria reconhecido pela maioria daqueles que se dizem seus seguidores.





sábado, 10 de outubro de 2009

OS ECOS PROFÉTICOS DE “MIL COMPASSOS”.



“ Ainda acho que haja a necessidade de ter uma letra com força – quando ela vier doce feito poesia, leve como água fria, seca de palavras ocas e nua como alma acaricia nessa balada de informação e de contravenção que vem rápida e vai mais retumbante.......” (Elenilson Nascimento, Baladas Suspiros no Cárcere de insights)                              * Por Andréia de Oliveira  


Há quem diga que a poesia nasça dos arrogos dos  apaixonados de primeira viagem ou dos suspiros platônicos dos desiludidos de outrotora. Eu diria que é tudo e muito mais que isso. Dos acordes dissonante da melodiosa harmonia presente nas sete notas musicais da escala dos “Poemas de Mil Compassos”, ela manda seu recado.
Assim como a filosofia busca a essência da exatidão das formas matemáticas, a poesia resgata a idéia dos caos inerte, desvelando aquilo que as palavras não dizem. E elas brotam assim, mesmo em meio a emergência da trivialidade moderna, no gozo alucinado do poeta, imprimindo a ordem maior do desejo manifesto.
É imperiosa e relevante a necessidade da vivência poética , em tempos da era da linguagem cibernética, que ,vez por outra, insiste em decretar o fim da literatura. E a poesia, esse exercício sublime de transcendência das limitações humana mais do que devaneios de lunáticos enamorados , traduz um estado supremo de libertação das alcovas da mente.
Sim, porque a capacidade de enxergar além da realidade estampada nos noticiários diários e nos reflexos dos espelhos dos lares é o único caminho para a descoberta das nossas próprias chagas. A verdadeira maiêutica no parto preciso da idéia, da análise, da reflexão, da crítica e quiçá da libertação.

Acredito, por mais utópico que possa parecer que todo poeta carrega em si , o gérmen disseminador do questionamento, da mudança, da revolução, mesmo que em estado alterado de inconsciência. O que dizer então dessa nossa Antologia Poética , lançada no olho do furação da nossa agora quase estrutural crise política , econômica, moral e educacional, assistindo infame ao fim do projeto do próprio homem?  Não há respostas apenas o nosso franco gemido poético que se dispersa entre os nossos caros leitores.








FOTOS:
 1 - LIVRO POEMAS DE MIL COMPASSOS
 2- NOTA EM JORNAL DE MINAS GERAIS
 3 - PORTAL LITERÁRIO SKOOB 
4- LAZARO RAMOS , PAULO JOSE COM O POEMAS DE MIL COMPASSOS NA BIENAL INTERNANCIONAL DO LIVRO / 2009 
5 - A CANTORA FERNANDA TAKAI 
6 - O CANTOR, ATOR E POETA FERNANDO DIAMANTINO 
7- O LEITOR FLÁVIO BORGES, MEMBRO DA ORDEM ROSACRUZ 
8- O ARTISTA PLÁSTICO E ESCRITOR MARCUS BABY    
         



quinta-feira, 8 de outubro de 2009

A ARTE DA ALQUIMIA DAS LETRAS

 " As palavras simplesmente perdem para serem arrancadas do estado inerte do caos absoluto. O ego mortal, este pede que seja sublimado! Afinal de contas, idéias não têm dono, repousam livres no fluxo do inconsciente coletivo, como bem definiu Jung."

* Por Andréia de Oliveira  


Poetisa, eu? Esse título soa um pouco estranho e pesado aos meus ouvidos. Não que desmereça a importância dos grandes e históricos poetas brasileiros. Mas no meu arcabouço teórico de brasileira média, nascida e criada longe demais das capitais, ainda resta um muro, quem sabe imaginário, entre a poesia e o mundo real.
Nas minhas remotas lembranças, poetas eram seres mágicos, espécies de deuses, cravados nos livros de escola. Figuras geniais como Gregório de Mattos, o boca maldita, satírico, irônico e sagaz; Castro Alves, em seus cantos apoteóticos pela liberdade; Cruz e Sousa, em suas rebuscadas construções metafísicas; Oswald de Andrade , a libertação criativa dos versos; Carlos Drumond de Andrade, o subjetivismo resgatado do cotidiano. Sem esquecer é claro, Fernando Pessoa, exceção seja feita à nossa lista tupiniquim, gênio maior, desvelado dos múltiplos aspectos da existência humana.
Grandiosas obras que se perdem na figura dos imortais da galeria dos senhores com vestes de gala , a proferir por entre dentes, ecos dos discursos vazios dos termos pré-formulados. Retóricas dos intelectuais que, hoje, se encerram em seus castelos de letras e contos de grandeza, imensos em seus importados bordões politicamente corretos.
E confesso com toda fraqueza que tenho uma grande resistência aos intelectuais em seus enfadonhos conceitos de julgamento acadêmicos da poesia e literatura em geral. Como podem estabelecer critérios matemáticos para a liberdade expressiva? Meus textos são apenas reflexos das sensações veladas , captadas por uma alma intensa de emoções , contradições e imperfeições. Não escrevo por vício, sacerdócio ou pretensões de toda sorte. Nem pelo prazer intrínseco às produções artísticas. Às vezes dói e dói muito. È um verdadeiro parto de fórceps com direito a gritos, gemidos, sentimentos desconexos remanescentes dos confins da alma. s palavras simplesmente perdem para serem arrancadas do estado inerte do caos absoluto. O ego mortal, este pede que seja sublimado! Afinal de contas, idéias não têm dono, repousam livres no fluxo do inconsciente coletivo, como bem definiu Jung. Por isso mesmo que nem sempre estou ali ,em meio as letras que escrevo. As metades já estão lado a lado. Seria arte? Não saberia dizer........................................

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A SAGA DA INDIFERENÇA HUMANA


“ E tu que já derrubaste muros, ergueste edifícios, desvendaste o segredo da vida, Aventurando-se nos limites do espaço infinito, permaneces imóvel no ponto áureo da direção do oeste! De pé ante a estátua dos cavaleiros de bronze;Buscas o reluzido brilho perdido enquanto contemplas os raios de outrora! Simplesmente ali ressecaste tuas vistas; E apenas permites que a chuva escorra, Suavemente, por dentre as cicatrizes do teu rosto de choro. “ (Andréia de Oliveira)
*Trecho do poema "A rosa dos ventos dos lamentos racionais " publicado na Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos n º 57 da Câmara Brasileira de Jovens Escritores  

O homem brinca de Deus com todo entusiasmo nessa nossa era dos assombrosos avanços tecnológicos e dos sangrentos martírios humanos. Na sua débil tentativa da recriação da vida oprime a sublime essência da alma humana. E o choro, esse cataclisma fantástico dos sentimentos humanos é quase uma patologia em seus racionais paradigmas de estudo. Incapacidade de sentir seria, esta a tônica de nossos dias.

Confiram o restante do poema na antologia "on line" da Câmara Brasileira de Jovens   Escritores:

http://www.camarabrasileira.com/apol57-036.htm

domingo, 4 de outubro de 2009

Entrevista com o ator, cantor e poeta Fernando Diamantino

“Aos 15 anos achava que era Fernando Pessoa, aos 21 achava que era Álvares de Azevedo e hoje acho que sou eu mesmo.” (F.D.)
A escritora baiana, economista de formação, pós-graduada em Metodologia do Ensino e Docência Superior, e que também já desempenhou diversas funções nas áreas financeira e empresarial, Andréia de Oliveira, entrevista o excelente poeta e ator goiano Fernando Diamantino.
Em 2006, Diamantino fez a sua primeira novela na Rede Globo, “Cobras e Lagartos”, mas hoje investe no seu projeto “Cantando Poesias”, que vem realizado (*com muito sucesso) nos palcos do RJ. “Não me vejo sem poesia, posso deixar de comer e beber, mas sem poesia não vivo”. Em suas apresentações adotou o visual de “pés descalços” em homenagem ao seu pai que não admitia sapatos sujos. Diamantino e Andréia também fazem parte do livro “Poemas de Mil Compassos”, da Coleção LC/2009.
Andréia de Oliveira – É um prazer falar com você Fernando, ator, cantor e, além de tudo, poeta. Gostaria de começar inicialmente falando sobre o panorama da cultura contemporânea de uma maneira geral. Creio que nunca houve tantas possibilidades de divulgação das artes dado ferramentas de informação, como a Internet e outras mídias interativas. Por outro lado, observa-se um crescimento alarmante da exposição de manifestações culturais de qualidade duvidosa por essas mesmas mídias. Seria apenas uma reprodução do gosto popular, ou você acredita que há um movimento articulado, ou não, que impeça a difusão dos trabalhos de qualidade perante o grande público?
Fernando Diamantino – Prazer estar aqui com vocês. Acredito que o panorama geral da cultura hoje está nas mãos de quem ganha rios de dinheiro de empresas, empresários, gov
erno, para não fazer muitas vezes nada de valor, nada modificador. Não gosto de contemporaneidade porque não gosto que intitulem qualquer coisa como Cultura. Cultura é de um povo e não de um segmento. Até hoje o povo diz: gosto de poesia, mas não vão aos espetáculos e shows onde ela é o tema central. Sempre tive aversão à hipocrisia e a falsidade de artistas que se dizem cultos e que detêm o poder de patrocínio, apoios e ganham para divulgar a “Cultura Contemporânea”. Cultura é Cultura. A época não deveria determinar nada. Assim valores se perderam, assim se privilegiam as celebridades momentâneas, assim o espaço cada vez mais sumiu dos verdadeiros artistas, como Téspis, que só precisava de um banco para se expressar lá no início de tudo. Acho as mídias, muitas vezes, mentirosas e superficiais. Louvo a iniciativa de pessoas que prezam inteligência e fazem das ideias uma forma de resistência. As mídias são burras porque os sistemas são burros, unilaterais. Não há movimentos, há estagnação. Corremos contra esse tudo que vai dar em nada. Digo corremos contra uma Internet que dita tudo, mas a essência não muda. Ficamos com um joguinho nas mãos, bala para criança. O povo, não é burro, nunca foi... O segmento é burro, segmentar é a maior burrice.
Andréia de Oliveira – E com relação ao cenário cultural nacional? Algum sinal favorável vindo da Lei Rouanet, ou essa lei apenas favorece a poucos? Quais as dificuldades que um jovem ator, como você, enfrenta para tornar seu trabalho conhecido?
Fernando Diamantino – Lei no Brasil? Funciona? Funciona para quem mata galinha (risos). Não tenho opinião sobre leis. Sou da democracia como sou humano, mas não há leis que sobrevivam quando o poder é de poucos. Vivemos na era da hipocrisia e as leis favorecem quem? Àqueles que fazem o sistema emburrecer, emburrecido. As dificuldades são imensas, tudo de negativo, mas a vontade de fazer é tão maior do que as leis, tão maior do que a dificuldade que cada vez mais faço. Já fui interrompido em cena durante monólogo de Orfeu. A Poesia, a Palavra são tão mais importantes para mim do que qualquer coisa que venha atingi-las. E quase sempre fico satisfeito quando se emocionam, quando as pessoas relembram os declamadores antigos, quando as senhoras dizem: “Gostaria que meu neto fosse assim”. E isso não é por estereótipos é porque elas veem valor na Palavra. Quando cheguei ao Rio de Janeiro me falavam: “Você fala certinho” – deboche. Dificuldades homéricas no mundo, onde o pseudo funk assola a juventude brasileira. Um caos! Meu reino por um cavalo – Dias Gomes – atualíssimo, Graças a Deus!
Andréia de Oliveira – Você é goiano , radicado no Rio de Janeiro, certo? Como foi a sua ida para o Rio de Janeiro? É impossível para um ator sobreviver longe das metrópoles culturais, como o Rio e São Paulo? Você iniciou sua carreira ainda no seu estado natal? Fale um pouco sobre a vida cultural de Goiânia. Acho importante esse relato sobr
e as manifestações culturais de outros lugares, pois para o grande público, é difícil existir vida artística fora do eixo Rio-São Paulo.
Fernando Diamantino – Essa história de eixo é roubada. Não mesmo, a felicidade seja ela profissional ou pessoal não depend
e de metrópoles. Eu fui educado em Santa Helena de Goiás, onde nasci e cresci. A escola sempre foi a minha segunda casa. Sempre me envolvi em questões culturais, artesanais e folclóricas. Nosso povo é criativo, inteligente, donos de uma cultura popular invejável, Cora Coralina me chegou à infância pelos cadernos do governo. Tínhamos poesia estampada nos cadernos. Era ensinado na escola e na minha casa a leitura e a Poesia tinha vez. O ambiente familiar é tudo para uma boa educação, valores e formação de personalidade e eu usufrui disso. Minha mãe sempre declamou Poesias nas Sessões de Cinema, ela abria a noite com Poesias e isso é de um valor imenso. Fiz teatro nas garagens quando criança. Mudei-me para Brasília, onde fiz teatro, onde pensei: “Achei um OFICÍO”. Participei de projetos escolares, viajei aos arredores de Brasília, participei de um grupo ALucinathus – que me ensinou o ofício de ser ator – e mais tarde Rio de Janeiro – aqui cheguei com malas sem dinheiro, mas a minha sorte foi ter nas malas bastante, muita, poesia. Dela sobrevivi, comi, chorei e sorri. E um belo dia no morro da Urca no show de Leila Maria, comecei – pedi a cantora para declamar, ela aceitou e fiquei durante toda a temporada dela me apresentando com POESIA. A novela “Cobras e Lagartos” me propiciou investir no meu show “Cantando Poesia”. Fazer a novela foi uma porta de entrada para fazer este show que vem ganhando espaço cada vez mais e neste show começo a investir no canto necessário para mesclar o show. Mas, para o projeto o entendimento é a Palavra a letra da canção é Palavra e assim sigo e assim faço, por ela, e graças a Deus, as ruas e avenidas desta grande cidade que no início me levaram ao desespero, hoje me levam a encontros lindos onde a Poesia mora, onde a Poesia reina. Brasília cresceu muito neste campo da Cultura. Humberto Pedrancini é um dos maiores cabeças da direção por lá. Hugo Rodas faz grandes espetáculos e é conhecido da mídia e Luciana Martuchelli e seu pai Gê Martu um dos grandes atores formam um panorama de nomes que aderem a esse crescimento.
Andréia de Oliveira – Foi difícil superar barreiras e atuar em uma novela na Globo? Fale-nos um pouco sobre e
ssa experiência. Fazer televisão seria um dos poucos caminhos de reconhecimento público de um ator, a única forma de sobrevivência?
Fernando Diamantino – Sim, sim, sim e sim. Aqui chegando no RJ tive que trabalhar para so
breviver. Garçon, assistente de banquete, animador de festas infantis, eventos performáticos. Fiz tudo isso e ainda faço. Tenho que pagar as contas. Mas sou muito feliz, o caminho com Poesia me está permitindo ser feliz. Gosto dos desafios. A novela veio quando menos esperava e foi uma possibilidade que agarrei com unhas e dentes. Conheci Francisco Cuoco, Marília Pera, Lázaro Ramos, Taís Araújo, Milton Gonçalves, todos estes feras que são ídolos. Eu gravava em estúdio somente, então não transitei com todo elenco, mas foi um aprendizado muito bom e na hora certa. É difícil o caminho é muito difícil, mas a realização é muito melhor. A direção do Wolf Maya é poética, então foi muito bom. O supermercado me reconhece, o botequim perto de onde eu moro eles me reconhecem, enfim, conheci este lado da moeda. Para a novela fiz um teste de mordomo. Tinha que saber servir montar uma mesa... e passei. Cheguei para gravar e entrei falando e sem pestanejar – tudo era mundo novo, momento de realização, emoção, profissional e tinha que administrar tudo isso. Vejo a televisão como meio, mas não como único meio de divulgação e de reconhecimento. Hoje, as peças de teatro anunciadas pela televisão sofrem de falta de público também e os atores não enchem teatros. Acredito e sempre acreditarei na Cultura pela Cultura e esperarei que interesses governamentais, políticos, unilaterais não tirem as possibilidades de a Cultura ser acessível. Sou goiano, de Santa Helena de Goiás, morei em Brasília e atualmente moro no Rio de Janeiro. Aqui trabalho e tenho meu projeto “Cantando Poesia”. Sou jovem bastante para seguir o rio da minha aldeia. Não falemos em números, pois a foto é recente. Sou apaixonado pela Poesia desde menino. Aos 15 anos achava que era Fernando Pessoa, aos 21 achava que era Álvares de Azevedo e hoje acho que sou eu mesmo (risos). Gosto do simples. Tenho minha grande inspiradora minha mãe Élvia dos Santos Diamantino meu norte, meu tudo... e agradeço aos amigos que me ajudam: Lina Vilalva, Berenice Xavier, Antenor Luz, o Panorama que abriga meus shows, Lourdes, Saldanha que me permitem falar de poesia no estabelecimento mais panorâmico do RJ- Leblon. Está convidado é só ficar atento que estou com muita Poesia a sua espera!
Andréia de Oliveira – Concordo quando diz que a vida cultural fora das metrópoles é rica. Aqui em Salvador temos grandes talentos na literatura, teatro, música que não têm reconhecimento nacional, devido a própria massificação da indústria cultural do sul do país, que impuseram ao nosso estado o estereótipo de “axé music” e suas derivações. Quando me refiro às dificuldades de sobrevivência do artista fora do eixo Rio-São Paulo, refiro-me justamente ao preconceito implícito nas ideologias de superioridade cultural e racial. Assim, você acredita que em outra cidade do país, o seu trabalho teria o mesmo êxito que tem no Rio de Janeiro? Sei que esse discurso soa como uma velha retórica, mas não há como negar que há um favorecimento seja em termos de patrocínio, de divulgação, de veiculação às manifestações culturais ocorridos no “sul” do país.
Fernando Diamantino – É mundial o descaso com a Poesia. Em qualquer lugar hoje em dia a Poesia choca. Porque é Palavra e bem cuidada. O ser humano não sabe ouvir mais, hoje se escuta e pronto. Não penso de outra forma. Em qualquer lugar do mundo há lugar para Poesia. A Tropicália ficou porque havia poesia, a Jovem Guarda ficou porque havia Poesia, os movimentos a democracia ficaram porque havia Poesia, derrubamos um presidente porque havia poesia. A Bossa Nova foi pura Poesia e não preciso mais de exemplos. Eu faria em qualquer canto este meu show. Embora o público alvo seja a Escola, a Faculdade, e os professores que tantas vezes espantam os alunos com seus métodos arcaicos de ensinar a Poesia. Mesmo no RJ ela sofre preconceito e discriminações distintas. É muito complicado hoje em dia convencer uma editora a publicar um livro Poético, porque não há interesses, interesses financeiros porque a indústria sufoca a juventude de Harrys Potters, de Crepúsculos, enfim... No “sul” do país existe muita coisa boa e muita coisa ruim também. No “sul” do país existem os engravatados em maioria e aí pronto, poucos sobrevivem aos engravatados de plantão, o dinheiro some rápido e aí se dá: A CULTURA SEGMENTADA.
Andréia de Oliveira – Pegando esse gancho ainda da divulgação artística, nota-se que muitos atores de teatro migram para a televisão em busca da ampliação das possibilidades de divulgação de seu trabalho. Com você aconteceu exatamente assim ou você realmente sempre teve a aspiração de fazer televisão? Está aberto a novos trabalhos? Fazer televisão é algo tão prazeroso quanto a música ou a poesia para você?
Fernando Diamantino – Essa migração seja como for é bem vinda. O
mercado oferece estamos prontos. Não sou hipócrita em dizer que televisão é fácil e malhar o veículo. É divino o trabalho em equipe que se faz. Técnicos, staff, diretores, uma indústria. Não deixo de fazer se assim me for oferecido. É um trabalho, como o cinema também é. Eu particularmente não gosto das celebridades, muitas delas emburrecem o sistema. Elas confundem ofício com exposição e beleza. A televisão está enraizada graças a atores de ofício como: Lima Duarte, Tony Ramos, Raul Cortez, Fernanda Montenegro, Marília Pêra e tantos...É uma vergonha usar a televisão para desfilar diante de tanta história criada por estes nomes. A atuação sempre me emociona, quando a palavra me arrepia eu nem penso em qual veículo estou, se é canto, se é texto se a palavra me emociona ali estarei.
Andréia de Oliveira – Em toda profissão sempre nota-se uma espécie de “barreira de mercado “, ou seja, dificuldades de jovens talentos adentrarem o clã das consagradas personalidades. Você, um jovem ator, já sentiu alguma espécie de preconceitos ? Como você foi recepcionado pelos grandes nomes globais? Como foi atuar logo no primeiro trabalho de televisão em uma emissora como a Globo, uma das maiores do mundo?
Fernando Diamantino – Eu fui recebido como gente nova. Eu por mim mesmo sabia onde estava entrando graças a Deus. É um ambiente de egos, não podemos negar. Eu fiz, eu não questionei nada nem ninguém. Trabalhei e vivi meu sonho a realização dele com maior dignidade possível. Fiz amigos e pude ver que estava acertando. Pude desempenhar um papel na TV ao lado dos meus ídolos. E Milton Gonçalves me emocionou todos os dias. Mariana Ximenes é surreal de inteligência e generosidade.
Andréia de Oliveira – Quando você se referiu a sua formação artística, observei que teve uma infância bastante lúdica , privilegiada por um ambiente familiar que prezava a cultura. Mas, infelizmente, essa não é a realidade de boa parte da população brasileira. Acredito que a poesia seja , ainda, uma arte de difícil acesso dado a subjetividade , o caráter transcendental da linguagem e a ausência do hábitos da leitura por parte dos brasileiros. Quais seriam as alternativas para a difusão da poesia em uma perspectiva mais popular? O seu projeto da poesia cantada é excelente, uma vez que a música é uma linguagem universal. Você enxergar também em suas exibições uma forma de resistência cultural?
Fernando Diamantino – Claro, a educação foi falindo, o sistema emburreceu, os governos foram ditando seus projetos unilaterais e esquecendo do povo, do básico. O básico é a escola. Eu já disse que no caderno distribuído pelo governo, na minha época, eu tinha acesso a Cora Coralina, a letra do Hino Nacional. Eu estudava Moral e Cívica. Nós tínhamos gincanas educativas e tudo era revertido e em prol dos alunos, professores e pais. Uma casa perfeita, um lar. A escola tem que acolher e não segmentar, pois quando segmenta se perde
a essência. A Poesia é alma de tudo. Nada é se não existe Poesia – e isso tem de ser passado no ensino básico. Hoje, assustam os alunos as métricas, as rimas e a falta de preparo dos professores em ensinar Poesia. “Cantando Poesia” entra aí e foi pensando nisso que fiz o projeto e venho executando o mesmo. O show preza a essência desse código: a fala. Preza o erudito, o popular, a palavra sem discriminar sem segmentar. É preciso que todos voltem a estudar inclusive os professores. “Meu Reino Por Um Cavalo” – Dias Gomes – atualíssimo – graças a Deus!
Andréia de Oliveira – Dentro destas perspectivas da resistência cultural, fale sobre suas expectativas em participar de um livro da Coleção Literatura Clandestina, creio que nesse quadro de deterioração dos valores sociais , onde o sistema sufoca cada vez mais as manifestações que despertam o senso crítico das pessoas, inibindo obviamente o florescimento cultural . Você concorda?
Fernando Diamantino – Sempre haverá resistências e o que não pode deixar de existir são iniciativas que mostrem o outro lado da moeda, ou seja, rebater, questionar e fazer. Essa pulsação deve existir sempre ela é benéfica. Não posso crer em resistência cultural porque a Cultura é de um povo a partir do momento que há resistência há burrices contra um povo. Disseram-me certa vez que “poesia aqui...ninguém vai prestar atenção”, pois ali foi mesmo o lugar dela e comecei: “não leve nada a minha boca que não seja mar”... e todos calaram e ouviram toda ela. A palavra é a única forma de entendimento. Ela leva ao diálogo, sem ela n
ada feito, sem ela a burrice imperará, sem ela não haveria declarações de amor como a declaração de Clarice Lispector à nossa Língua Portuguesa. Diante de tudo isso eu sempre acreditarei naqueles que empunham inteligência e fazem: como este projeto da Literatura Clandestina que vai a frente, e agrega e faz florescer a Palavra, mesmo que seja “silêncio nas palavras”. Minhas expectativas são as melhores e me sinto parte de um todo em prol da Palavra e acho particularmente o título do livro muito poético. É do silêncio que vem os sons mais encantadores é do silêncio que um bebê chora... é a Poesia vingando!
Andréia de Oliveira – Você realizou o sonho de muitos atores iniciantes participando de uma novela da Rede Globo. Foi algo assim tão simples? Como funciona o esquema de contratação de novos atores? A beleza física é um atributo fundamental?

Fernando Diamantino – É difícil, tem que haver persistência e tem que estar bem consigo. Digo: sabendo bem o que você quer. Já fui recebido por produtor de elenco que nem olhou na minha cara. Para isso não te abalar, pois você precisa ter certeza de que você está bem. Não tem fórmula é tentando que se consegue. O personagem que eu fiz era mordomo, este personagem especificamente tinha exigências como saber servir à francesa, à inglesa, montar uma mesa e eu, por trabalhar com isso, já saí na frente e uni o útil ao agradável. Beleza vale muito e sai na frente obviamente. É muita lipo dali, peeling daqui, malhação e vamos embora, infelizmente.
Andréia de Oliveira – Outra curiosidade do grande público é saber o que passa nos bastidores das emissoras de televisão fora do glamour das cenas de plástica perfeita. Qual a lição que extraiu desse mundo de celebridades? As conveniências e interesses financeiros sobrepõem-se verdadeiramente à arte?
Fernando Diamantino – Bastidores. Os bastidores são como uma indústria de profissionais ligados, agendando atores que chegam, contactando aqueles presos no trânsito e que atrasaram para a gravação... Maquiadores trabalhando - produtores correndo dali pra cá, acolá... é uma correria... o set de filmagem
é de tamanha concentração e os atores trocam generosidades. Há aqueles que fazem só o papel e no máximo diz oi. Eu aprendi assistindo aos meus ídolos numa escola ou num curso e assim ganhando para fazê-lo. Assistir Marília, Milton, Totia, Francisco Cuoco. O Lázaro Ramos é muito bom, aprendi muito, eu extraí dali aprendizado. O glamour pouco me interessava, e mais eu tenho uma poesia para a Fernanda Montenegro. Eu fui ao camarim dela que gravava na época a novela “Celebridades” e entreguei. Momento de glória e ela me disse: "Mais um Fernando em minha vida..." E eu caí para trás (risos). Aproveitei os bastidores para a Palavra e só.
Andréia de Oliveira – Como foi para você, um ator de formação teatral, confortar-se com a dinâmica da linguagem televisiva? Até que ponto a experiência com o teatro ajudou-lhe? Pretende voltar a fazer televisão?
Fernando Diamantino – Eu me lembro de uma cena entre mim, Francisco Cuoco e Milton Gonçalves... Eles gravaram no ensaio e eu fui na deles olhando no olho deles. A cena é como Chaplin sem falas, é de uma poesia absurda. Quando terminou, eu achando que era ensaio e eles me dizendo: está gravado, você veio com a gente parabéns! Eu quis chorar, eles são generosos. O teatro possibilita o jogo, e sem querer, o teatro ali saltou. Tem que se entregar. Adorei fazer, e ainda farei outros trabalhos sim. Estou tentando voltar, é difícil mesmo para quem já fez. Mas D
eus sabe o que faz.
Andréia de Oliveira – E seus projetos atuais ? Fale um pouco do seu projeto da “Contando Poesia”. São poesias de nomes consagrados como Vinícius? Você apresenta esse show somente no Rio de Janeiro?
Fernando Diamantino – Estou tentando voltar a TV, fotos novas, recadastramento e contactando produtores de elenco. Tenho shows todo fim de mês até dezembro na Praia de Copacabana. Estou fechando um roteiro de um grande show dentro do Projeto “Cantando Poesia”, no Teatro Rival, com o grande cantor Elohin Seabra. Atores e artistas vivem de projetos se não os tem inventam... (risos). E ainda trabalhando por fora para sustentar a vida. O show “Cantando Poesia” tem desde os nomes consagrados até gente desconhecida. O importante é que a Palavra chegue, se me arrepia coloco no roteiro não importa de quem seja. Os nomes de destaque são versões. Bethânia já falou quase tudo. Adoro o “Soneto da Fidelidade”, o “Monólogo de Orfeu”, Fernando Pessoa, Cora Coralina. Dentro do projeto que era “Contando Poesia” e virou “Cantando Poesia” e o show que mais deu o que falar foi a homenagem a Vinicius de Moraes. Este é ícone e quando fui a Portugal o “Soneto da Fidelidade” fez mais sucesso do que tudo. O show ainda não saiu daqui. Mas pode sair. Esta pergunta é um convite? (risos). Eu quero ir a todos os lugares.

Andréia de Oliveira – Por fim, gostaria de agradecer-lhe a paciência e disponibilidade em conceder essa entrevista, desejando sucesso e aplaudindo a iniciativa do projeto “Contando Poesia”.
Fernando Diamantino – Eu é que agradeço! Estamos juntos e pela Palavra isso é muito bom. Às vezes, falei mais nas perguntas. Mas tudo está respondido. Obrigado mesmo, de coração. Eu adoreiiiiii! Beijos...


Fernando in “Contando Poesia”.
Mais momentos de shows.
Em Portugal, 2008.
No túmulo de Camões, ainda em Portugal.
Com a mãe, dona Élvia e Caymmi, no RJ.
Com dona Élvia e o amigo Evaldo Gouveia.
Com Helena Lima.
Com Elba Ramalho.
Pés descalços: “Não vou andar pela vida contando passos a ir de encontro com o que possam achar, pensar, sobre mim... Ando sobre meus passos e peso aos pés nem o que de leve peso ao cérebro...
Meu sustento está onde a calmaria reina entre neurônios e todos seus entes a conviver em paz... Dali vem todo o meu sustento para me firmar sobre os pés... O peso da vida? Que contém os passos quem quer ser medíocre e pobre... Eu sou rico no que chamam entendimento para viver e sou mais ainda quando me fazem perceber que existe menos como medida... que contém os passos quem não tenha forças para arregaçar as mangas e ir à luta, e chorar, e rir, e abraçar e fazer carinhos...
Não são estas faltas o peso na minha alma... amo igual... que contem os passos quem olha para o sol e vê uma lua e vice-versa... que contem os passos os atrasados, os cerceados de sentimentos por si mesmos... que contem os passos os de cara de anjo que copiam a estátua e agem se defendendo matando, ferindo as leis... de amar... que contem os passos os que julgam saber de tudo” (F.Diamantino).
foto 9: Andréia de Oliveira
fotos: arquivo particular de F. Diamantino

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Memórias de um Herese Compulsivo


O mais novo livro do polêmico
 escritor e jornalista:
Elenilson Nascimento


“O motivo pelo qual Deus me escolheu para escrever é porque sou um louco que, por vezes, eu mesmo acho que não existo. Pertenço apenas ao meu mundo" E.N.


Há muito a ser dito por dentre as grades cinzentas que circundam os muros cor-de-rosa do nosso cotidiano doentio. O traçado do mundo tal qual como vermos não passa de linhas virtuais de programas que gerenciar essa matrix, que erroneamente conhecemos por REALIDADE. Nessa sociedade de aparência morta, com suas pseudas cores e cheiro, eis que surge o ESCRITOR , testemunha da consciência perdida dos sorrisos implantados, dos rostos siliconizados e dos corpos de plástico.
(Andréia de Oliveira)  

"Vivo muito do meu tempo em estudos de rostos cotidianos ou de atitudes mecanizadas da vida, sem, no entanto, jogá-los no  universo das palavras ou conselhos alheatoriamente. Guardo para mim mesmo o que julgo ser o correto. Refugio-me no esconderijo da plena consciência, no castelo da memória em que as paredes avançam incansáveis, mas onde só eu habito. Neste sumiço de vislumbres, aspirações e desventuras que é a morte anunciada da literatura, à vista da história, da vida, sob olhar neutro dos oveiros, eis aqui um homem que ainda desconhece o que é a vida. E foi exatamente por isso que Ele me escolheu e disse: “FAÇA-SE A ESCRITA DE VERVE MALDITA”. E.N.
 

"De pensar que na surdina foram feitos os golpes, foram feitas as crises, as trincheiras, as mortes, as vidas, os fetos, as afetividades, os discursos, as depravações, e ali às claras estavam sendo feitas as aparições de um vendedor de picolé que dentre em breve teria cara, como num paradoxo anunciado e imprevisível, não sendo mais clandestino, mas aqui afianço quase que num contrato, que a clandestinidade se faz para quem dela se vislumbre nada que seja óbvio e mesmo que violados, etiquetados, em código de barra, nos redimiremos como bons algozes por entre eles. Dessa forma, Memórias de um Herege Compulsivo vai cumprindo o seu papel... Um livro instigante com 30 contos do autor baiano Elenilson Nascimento. " E.N.

Entrevista com o artista plástico Marcus Baby


 A escritora baiana, economista de formação, pós-graduada em Metodologia do Ensino e Docência Superior, e que também já desempenhou diversas funções nas áreas financeira e empresarial, Andréia de Oliveira, entrevista Marcus Baby, artista plástico e poeta , um dos participantes do livro "Poemas de Mil Compassos",da Coleção Literatura Clandestina. Marcus,  uma “figuraça” da web, que em 2005, começou a trabalhar em silêncio na sua primeira custom doll para poder, em 2008, ser “redescoberto” pela mídia digital, impressa televisiva. Hoje, com uma super coleção de bonecos customizados, acabou virando o “Gepeto dos tempos modernos”, onde conseguiu transformar esta erudita arte em algo deliciosamente popular. Artista dinâmico e versátil, nascido sob o  signo de  sagitário, incorpora o mito do lendário centauro,disparando suas flechas, nesta interessante entrevista, concedida em agosto de 2009.
Andréia de Oliveira – Oi Marcus, prazer em falar com você. Fiquei muito encantada com seu trabalho. Incrível a sua capacidade de transcender a padronização da contemporaneidade, realizando verdadeiras obras de artes com essas bonecas.
Marcus Baby – Eu é que me sinto honrado de ser "sabatinado" por você e de também fazer parte desse lindo projeto que é o "Poemas de Mil Compassos". Bom, vamos lá: Eu sempre fui o típico colecionador desde criança e adorava juntar cacarecos do tipo figurinhas, gibis, canetas, discos, CDs, fitas de VHS... Aí um belo dia assistindo a um programa de entrevistas da MTV com roqueiros em suas próprias casas (não me recordo se era o Frejat do Barão Vermelho ou o DJ Memê), vi o apresentador mostrar um dos cômodos do lugar REPLETO de BONECOS em prateleiras que tomavam todo o ambiente, tudo comprado durante suas viagens mundo a fora ou ganhos de presente. Cara, eu simplesmente pirei, enlouqueci, achei a coisa mais linda do mundo... Resolvi nesse dia que faria uma coleção similar a dele, até me deparar com o primeiro empecilho: no Brasil não existia esses bonecos para vender, quando tinham eram absurdamente caros, e dificilmente encontraria os meus ídolos, dignos de ornamentarem A MINHA estante! Meses depois, após muitas pesquisas na internet e visitas a colecionadores, descobri a arte dos CUSTOM DOLLS OOAK ("bonecos customizados One Of A Kind – “um único de cada” ), e já no ano de 2005, cheio de coragem e boa vontade, pedi e ganhei de um amigo meu dois bonecos (uma Barbie e um Ken) para customizá-los devagarinho no casal Baby Consuelo e Pepeu Gomes. Fui então aprendendo com meus erros, aprimorando técnicas, e sempre adquirindo outro novo boneco para criar um novo ídolo, ou - muito importante frizar - construindo determinado artista que funcionaria em determinado boneco (pois são eles que "pedem" para se transformarem nas celebridades que estão afim). Ainda não caiu em minhas mãos um Ken ideal para ser o Will Smith - que eu amo!
Andréia de Oliveira – Você acredita que a incorporação de elementos da cultura pop a ofícios manuais milenares, alguns esquecidos nessa era da mecanização, seja o único caminho para o resgate dessas artes?
Marcus Baby – Eu sou totalmente a favor da cultura pop, da modernidade e de todas as formas existentes que tragam a tona algo adormecido. Se for necessário utilizarmos sons, imagens, adaptações para que a literatura (ou o que quer que seja) volte a ser algo prazerosos e importantes, que venham com força todas as Rede Globos e MTVs da vida! O que seria hoje de tanta arte se não fosse essas reinvenções pasteurizadas e muitas vezes distorcidas? Isso só força a galera a pesquisar se aquilo É ou NÃO É o que está sendo divulgado! Quer um exemplo maior do que a moda de "Maysa" no início desse ano devido à mini-série global do Jayme Monjardim? Eu mesmo vi um gari semi-analfabeto cantando todas as suas músicas e perguntando quando seria o show dela na nossa cidade... Trágico se não fosse cômico, mas a meta foi cumprida: uma nova geração "descobriu" algo muito bom que estava esquecido em algum lugar do underground. E sumiria ali.
Andréia de Oliveira – Em se tratando de cultura de uma maneira geral, digo mais, especificamente da literatura, desprezada pelo grande público , carente de incentivos estatais. Você acredita que a cultura pop, a partir do momento que prima pela forma, pela imagem, pela linguagem dinâmica seja uma grande desagregadora da literatura?
Marcus Baby – Acho que existem meios de promover a literatura se utilizando, por exemplo, da TV. Livros que ficam mofando nas livrarias passam a vender horrores quando entram em horário nobre após a novela das oito, como aconteceu há pouco tempo com a adaptação de "Capitu", ou agora, com a gostosa "Decamerão". Eu mesmo descobri a obra de Monteiro Lobato graças ao "Sítio do Pica Pau Amarelo" que passava na televisão diariamente todas as tardes na minha infância. É muito gostoso ver a imagem da narrativa e esse meio instiga os curiosos a irem mais a fundo, procurar mais sobre, pesquisar, buscar... Soube a pouco tempo que a MTV está negociando com os Novos Baianos um "Acústico" com direito a CD e DVD. Já pensou que maravilha? Faço uma aposta com quem duvidar se em alguns dias após a exibição do programa, não vai ter uma mulecada de 12, 14 anos cantando a letra completa de "Preta Pretinha" ou "Brasil Pandeiro"...

Andréia de Oliveira – Creio que essa releitura televisiva das obras consagradas de grandes nomes da literatura é positiva desde que estimulem a leitura dos originais, senão toda luta em prol da difusão da literatura fica sem sentido. Concorda?
Marcus Baby – Desde que se coloque a frase “inspirado ou adaptado da obra de fulano de tal”, sinceramente não vejo problema algum. A parcela interessada de pessoas que vão procurar a fonte escrita após assistir a versão da TV, com certeza saberá distinguir o “pingado” do Capuccino. E o restante, infelizmente, não tem mais jeito. Leitura é um prazer que se adquire ainda pirralho no jardim de infância. Eu, por exemplo, conheço um adolescente que virou tiete dos textos de Chico Buarque de Holanda após escutar “Deus Lhe Pague” interpretada em versão heavy-metal pela roqueira Pitty! Isso não é o máximo? Coisas desse tipo me certificam de que Carlos Drummond de Andrade, caso ainda fosse vivo, seria hoje o melhor amigo do Gabriel O Pensador!

Andréia de Oliveira – Ainda em se falando da reprodução televisiva de obras da literatura, você não concorda, que haveria um risco de distorção das ideias originais do autor, ou ainda a anulação da função reflexiva do livro? Digo isso porque a leitura é uma atividade cognitiva que estimula a reflexão, a análise, o pensamento, o dialogo consigo mesmo, já a linguagem televisiva pela própria dinâmica e apelo visual não favorece a construção do pensamento crítico, visto que sua função na maioria das vezes é o puro entretenimento.
Marcus Baby – Olha Andréia, essa é a atual e infeliz realidade do universo pop, que sucumbiu por inteiro nas facilidades tecnológicas e na pirataria cultural: estamos vivendo a era da urgência! Pelo que vejo (e acompanho o makin-of), não tem data para passar. Eu sinceramente acho que o artista, independente do seu rótulo, deve ampliar seus horizontes e fazer aquilo que todo brasileiro já sabe de berço: não desistir nunca. E já que é necessário sobreviver em meio a tanto lixo não-reciclável, temos mais é obrigação de ficarmos atentos aos imprescindíveis 15 minutos de fama, agarrá-los com unhas e dentes na menor chance! Se você for realmente bom naquilo que faz e esperto o suficiente para usufruir dos recursos disponíveis do mercado atual, basta apenas aproveitar uma única oportunidade para que sua arte seja reconhecida de forma gradativa e no sentido crescente, sem a necessidade de inconseqüentes explosões da moda. Afinal, nem todo mundo tem vocação para ser um eterno ex-big brother, né? Graças a Deus (risos).

Andréia de Oliveira – Trazendo o foco agora para os livros, li na sua crônica do blog "Poemas de Mil Compassos "que você é um leitor assíduo dos mais diversos temas. Qual seria seu tema preferido? Quais autores você lê atualmente? Você fez referências também aos livros de auto-ajuda? É uma leitura que realmente lhe agrada? Esse não seria um segmento comercial de qualidade duvidosa?
Marcus Baby – Devido ao meu momento atual, ando completamente apaixonado por biografias, livros fotográficos (amo) e aquelas brochuras de tema único e generosamente ilustradas chamadas de “Almanaque” que voltou estiloso da década de 70, agora como moda de vanguarda. Estou lendo o indefectível Kid Vinil (“Almanaque do Rock”), e uma coleção de entrevistas feitas pelo Zeca Camargo (“De A-ha a U2”). Encerrei há pouco tempo uma biografia não autorizada da Lucy O’Brien (“Madonna 50 Anos”) e estou para comprar o último do Moraes Moreira (“A História Dos Novos Baianos E Outros Versos”). Esta semana descobri um livro fotográfico maravilhoso sobre Marilyn Monroe, “Images Of Marilyn” e um outro do gênero chamado “Mythology” (com desenhos do Alex Ross para a DC Comics) num sebo próximo de onde almoço, lindos, tamanho gigante e capa dura, que não sossegarei enquanto não comprar os dois. Nas férias, pretendo ler Stephenie Meyer e sua saga “Crepúsculo”, “Lua Nova”, “Eclipse” e “Amanhecer”, pois o meu dia de 24 horas é curto para quem só dorme quatro horas por noite, e eu prefiro saborear livros de romance ou ficção lentamente como quem toma vinho. E não tenho predileção específica por determinado tema. Apenas sigo sugestões e verifico se gosto ou não. Li sim o Lair Ribeiro quando adolescente, ganhei um de seus livrinhos ensinando a ganhar dinheiro e achava tão interessante na época quanto hoje acho “O Segredo” da Rhonda Byrne. O que me interessa é preencher a minha necessidade de informação, sem vínculos com guetos ou rótulos. Só posso opinar depois que conheço o conteúdo. Sou pop e o que vier eu traço.

Andréia de Oliveira – E em relação à poesia. Como começou a sua experiência com a poesia? Você acredita ser essa arte de difícil acesso ao público? Qual o grande responsavel pelos desinteresse sobretudo nas escolas e faculdades pela poesia? Seria essa arte uma expressão muito lírica para o objetivismo dos dias atuais?
Marcus Baby – Para mim, a poesia é a necessidade vital de um seleto grupo de pessoas sensitivas e não há como forçar a barra para se gostar dessa forma de arte, porque o amor aos versos vem do DNA de cada um. Não tem como apontar culpados pelo desinteresse por algo que surge de dentro pra fora, que já existe nas entranhas de quem realmente aprecia. É íntimo. Eu descobri que gostava de poesia naquela inominável fase da vida em que a gente não é adulto suficiente para tomar atitudes infantis e nem é criança o suficiente para tomar atitudes adultas. Sofria por me achar diferente das pessoas a minha volta, e meu único refúgio era escrever num caderno rimas desordenadas tal como o sentimento que rasgava o meu coração. Aquilo era minha válvula de escape, uma catarse, até o dia em que percebi ser mais sensível que todo mundo e precisava me abster de algo paradoxal entre o onírico e o concreto. Foi aí que conheci os meus gênios da arte como Vinícius de Moraes, Florbela Espanca, Henry David Thoreau, Guilherme Isnard, Cazuza, Emily Dickinson, Arnaldo Antunes, Zédantas, Walt Whitman, Fausto Fawcett, Mário Quintana, Paulo Leminski, Waly Salomão e um monte de gente que amo de paixão. Porém, já homem feito, resolvi fechar para visitação esse meu lado poético e me dediquei – entre outras formas de expressão artística – a escrever crônicas urbanas para meus blogs e algumas coisas de encomenda para sites de teor GLBTS, ou, para qualquer um que quisesse ter um texto by Marcus Baby. Até chegar a conclusão de que internet é a “terra de ninguém” onde virou, mexeu, encontro muuuuita coisa minha solta na web copiada descaradamente sem os meus créditos... Mas tem nada não, Deus tá vendo (risos).
Andréia de Oliveira – Por fim, gostaria que falasse um pouco sobre as impressões subjetivas presentes em sua obra. Existe alguma mensagem específica que pretende passar ao público através de seus bonecos?
Marcus Baby – Nem em meus mais felizes sonhos poderia um dia imaginar que seria sinônimo de determinada expressão artística no país ou de ser reverenciado por meus próprios ídolos que se transformaram em fãs da minha arte, e tudo isso num espaço de tempo absurdamente curto. Como nunca e em momento algum previ o que está acontecendo agora nesse momento comigo, continuo agindo como se tudo ainda fosse aquele meu tranquilo hobby despretensioso que só eu e as pessoas mais chegadas, tinham acesso livre para admirar. A minha intenção inconsciente é a do auto desafio que me proponho interruptamente até o momento em que concluo mais um projeto imaginário que ferve dentro de minha cabeça. Sou fascinado pela imagem tridimensional, amo o universo pop e todos os seus personagens únicos e reais, adoro mixar elementos díspares como o novo e o velho, o feio e o bonito, o bem e o mal, o ying e o yang... E no final das contas, estou curtindo a idéia de ser o “Gepeto dos tempos modernos”, um título fashion-filosófico para quem literalmente brinca de ser Deus e dá a vida a algo que até então não existe... Já a minha intenção consciente, aquela que deposito em forma de mensagem subliminar em cada pequeno detalhe de cada “filhote” que ponho no mundo, vem de uma frase simples, beirando ao clichê batido, que até adoto como um mantra, sigo e divulgo com maior prazer: “eu quero, eu posso, eu consigo”. Mais verdadeiro não há e eu sou prova viva disso. Em suma, tudo - mas tudo mesmo - é possível.


Andréia de Oliveira – Gostaria de agradecer a oportunidade de conversar com você e desejar sucessos para você.
Marcus Baby – Eu é que agradeço a todos vocês, Elenilson (pela coragem e brilhantismo), Andréia de Oliveira (pela sagacidade e inteligência) e a todos aqueles que dispensaram seu precioso tempo em me pesquisar, analisar, dissecar... e enfim, saber algo mais denso sobre minha pessoa e minha arte, além do que já existe por aí nos Googles da vida! Como diria os "gurús" do Planet Hemp, "eu continuo queimando tudo até a última ponta"... Valeu, obrigado e muita luz!