sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Memórias de um Herese Compulsivo


O mais novo livro do polêmico
 escritor e jornalista:
Elenilson Nascimento


“O motivo pelo qual Deus me escolheu para escrever é porque sou um louco que, por vezes, eu mesmo acho que não existo. Pertenço apenas ao meu mundo" E.N.


Há muito a ser dito por dentre as grades cinzentas que circundam os muros cor-de-rosa do nosso cotidiano doentio. O traçado do mundo tal qual como vermos não passa de linhas virtuais de programas que gerenciar essa matrix, que erroneamente conhecemos por REALIDADE. Nessa sociedade de aparência morta, com suas pseudas cores e cheiro, eis que surge o ESCRITOR , testemunha da consciência perdida dos sorrisos implantados, dos rostos siliconizados e dos corpos de plástico.
(Andréia de Oliveira)  

"Vivo muito do meu tempo em estudos de rostos cotidianos ou de atitudes mecanizadas da vida, sem, no entanto, jogá-los no  universo das palavras ou conselhos alheatoriamente. Guardo para mim mesmo o que julgo ser o correto. Refugio-me no esconderijo da plena consciência, no castelo da memória em que as paredes avançam incansáveis, mas onde só eu habito. Neste sumiço de vislumbres, aspirações e desventuras que é a morte anunciada da literatura, à vista da história, da vida, sob olhar neutro dos oveiros, eis aqui um homem que ainda desconhece o que é a vida. E foi exatamente por isso que Ele me escolheu e disse: “FAÇA-SE A ESCRITA DE VERVE MALDITA”. E.N.
 

"De pensar que na surdina foram feitos os golpes, foram feitas as crises, as trincheiras, as mortes, as vidas, os fetos, as afetividades, os discursos, as depravações, e ali às claras estavam sendo feitas as aparições de um vendedor de picolé que dentre em breve teria cara, como num paradoxo anunciado e imprevisível, não sendo mais clandestino, mas aqui afianço quase que num contrato, que a clandestinidade se faz para quem dela se vislumbre nada que seja óbvio e mesmo que violados, etiquetados, em código de barra, nos redimiremos como bons algozes por entre eles. Dessa forma, Memórias de um Herege Compulsivo vai cumprindo o seu papel... Um livro instigante com 30 contos do autor baiano Elenilson Nascimento. " E.N.

Entrevista com o artista plástico Marcus Baby


 A escritora baiana, economista de formação, pós-graduada em Metodologia do Ensino e Docência Superior, e que também já desempenhou diversas funções nas áreas financeira e empresarial, Andréia de Oliveira, entrevista Marcus Baby, artista plástico e poeta , um dos participantes do livro "Poemas de Mil Compassos",da Coleção Literatura Clandestina. Marcus,  uma “figuraça” da web, que em 2005, começou a trabalhar em silêncio na sua primeira custom doll para poder, em 2008, ser “redescoberto” pela mídia digital, impressa televisiva. Hoje, com uma super coleção de bonecos customizados, acabou virando o “Gepeto dos tempos modernos”, onde conseguiu transformar esta erudita arte em algo deliciosamente popular. Artista dinâmico e versátil, nascido sob o  signo de  sagitário, incorpora o mito do lendário centauro,disparando suas flechas, nesta interessante entrevista, concedida em agosto de 2009.
Andréia de Oliveira – Oi Marcus, prazer em falar com você. Fiquei muito encantada com seu trabalho. Incrível a sua capacidade de transcender a padronização da contemporaneidade, realizando verdadeiras obras de artes com essas bonecas.
Marcus Baby – Eu é que me sinto honrado de ser "sabatinado" por você e de também fazer parte desse lindo projeto que é o "Poemas de Mil Compassos". Bom, vamos lá: Eu sempre fui o típico colecionador desde criança e adorava juntar cacarecos do tipo figurinhas, gibis, canetas, discos, CDs, fitas de VHS... Aí um belo dia assistindo a um programa de entrevistas da MTV com roqueiros em suas próprias casas (não me recordo se era o Frejat do Barão Vermelho ou o DJ Memê), vi o apresentador mostrar um dos cômodos do lugar REPLETO de BONECOS em prateleiras que tomavam todo o ambiente, tudo comprado durante suas viagens mundo a fora ou ganhos de presente. Cara, eu simplesmente pirei, enlouqueci, achei a coisa mais linda do mundo... Resolvi nesse dia que faria uma coleção similar a dele, até me deparar com o primeiro empecilho: no Brasil não existia esses bonecos para vender, quando tinham eram absurdamente caros, e dificilmente encontraria os meus ídolos, dignos de ornamentarem A MINHA estante! Meses depois, após muitas pesquisas na internet e visitas a colecionadores, descobri a arte dos CUSTOM DOLLS OOAK ("bonecos customizados One Of A Kind – “um único de cada” ), e já no ano de 2005, cheio de coragem e boa vontade, pedi e ganhei de um amigo meu dois bonecos (uma Barbie e um Ken) para customizá-los devagarinho no casal Baby Consuelo e Pepeu Gomes. Fui então aprendendo com meus erros, aprimorando técnicas, e sempre adquirindo outro novo boneco para criar um novo ídolo, ou - muito importante frizar - construindo determinado artista que funcionaria em determinado boneco (pois são eles que "pedem" para se transformarem nas celebridades que estão afim). Ainda não caiu em minhas mãos um Ken ideal para ser o Will Smith - que eu amo!
Andréia de Oliveira – Você acredita que a incorporação de elementos da cultura pop a ofícios manuais milenares, alguns esquecidos nessa era da mecanização, seja o único caminho para o resgate dessas artes?
Marcus Baby – Eu sou totalmente a favor da cultura pop, da modernidade e de todas as formas existentes que tragam a tona algo adormecido. Se for necessário utilizarmos sons, imagens, adaptações para que a literatura (ou o que quer que seja) volte a ser algo prazerosos e importantes, que venham com força todas as Rede Globos e MTVs da vida! O que seria hoje de tanta arte se não fosse essas reinvenções pasteurizadas e muitas vezes distorcidas? Isso só força a galera a pesquisar se aquilo É ou NÃO É o que está sendo divulgado! Quer um exemplo maior do que a moda de "Maysa" no início desse ano devido à mini-série global do Jayme Monjardim? Eu mesmo vi um gari semi-analfabeto cantando todas as suas músicas e perguntando quando seria o show dela na nossa cidade... Trágico se não fosse cômico, mas a meta foi cumprida: uma nova geração "descobriu" algo muito bom que estava esquecido em algum lugar do underground. E sumiria ali.
Andréia de Oliveira – Em se tratando de cultura de uma maneira geral, digo mais, especificamente da literatura, desprezada pelo grande público , carente de incentivos estatais. Você acredita que a cultura pop, a partir do momento que prima pela forma, pela imagem, pela linguagem dinâmica seja uma grande desagregadora da literatura?
Marcus Baby – Acho que existem meios de promover a literatura se utilizando, por exemplo, da TV. Livros que ficam mofando nas livrarias passam a vender horrores quando entram em horário nobre após a novela das oito, como aconteceu há pouco tempo com a adaptação de "Capitu", ou agora, com a gostosa "Decamerão". Eu mesmo descobri a obra de Monteiro Lobato graças ao "Sítio do Pica Pau Amarelo" que passava na televisão diariamente todas as tardes na minha infância. É muito gostoso ver a imagem da narrativa e esse meio instiga os curiosos a irem mais a fundo, procurar mais sobre, pesquisar, buscar... Soube a pouco tempo que a MTV está negociando com os Novos Baianos um "Acústico" com direito a CD e DVD. Já pensou que maravilha? Faço uma aposta com quem duvidar se em alguns dias após a exibição do programa, não vai ter uma mulecada de 12, 14 anos cantando a letra completa de "Preta Pretinha" ou "Brasil Pandeiro"...

Andréia de Oliveira – Creio que essa releitura televisiva das obras consagradas de grandes nomes da literatura é positiva desde que estimulem a leitura dos originais, senão toda luta em prol da difusão da literatura fica sem sentido. Concorda?
Marcus Baby – Desde que se coloque a frase “inspirado ou adaptado da obra de fulano de tal”, sinceramente não vejo problema algum. A parcela interessada de pessoas que vão procurar a fonte escrita após assistir a versão da TV, com certeza saberá distinguir o “pingado” do Capuccino. E o restante, infelizmente, não tem mais jeito. Leitura é um prazer que se adquire ainda pirralho no jardim de infância. Eu, por exemplo, conheço um adolescente que virou tiete dos textos de Chico Buarque de Holanda após escutar “Deus Lhe Pague” interpretada em versão heavy-metal pela roqueira Pitty! Isso não é o máximo? Coisas desse tipo me certificam de que Carlos Drummond de Andrade, caso ainda fosse vivo, seria hoje o melhor amigo do Gabriel O Pensador!

Andréia de Oliveira – Ainda em se falando da reprodução televisiva de obras da literatura, você não concorda, que haveria um risco de distorção das ideias originais do autor, ou ainda a anulação da função reflexiva do livro? Digo isso porque a leitura é uma atividade cognitiva que estimula a reflexão, a análise, o pensamento, o dialogo consigo mesmo, já a linguagem televisiva pela própria dinâmica e apelo visual não favorece a construção do pensamento crítico, visto que sua função na maioria das vezes é o puro entretenimento.
Marcus Baby – Olha Andréia, essa é a atual e infeliz realidade do universo pop, que sucumbiu por inteiro nas facilidades tecnológicas e na pirataria cultural: estamos vivendo a era da urgência! Pelo que vejo (e acompanho o makin-of), não tem data para passar. Eu sinceramente acho que o artista, independente do seu rótulo, deve ampliar seus horizontes e fazer aquilo que todo brasileiro já sabe de berço: não desistir nunca. E já que é necessário sobreviver em meio a tanto lixo não-reciclável, temos mais é obrigação de ficarmos atentos aos imprescindíveis 15 minutos de fama, agarrá-los com unhas e dentes na menor chance! Se você for realmente bom naquilo que faz e esperto o suficiente para usufruir dos recursos disponíveis do mercado atual, basta apenas aproveitar uma única oportunidade para que sua arte seja reconhecida de forma gradativa e no sentido crescente, sem a necessidade de inconseqüentes explosões da moda. Afinal, nem todo mundo tem vocação para ser um eterno ex-big brother, né? Graças a Deus (risos).

Andréia de Oliveira – Trazendo o foco agora para os livros, li na sua crônica do blog "Poemas de Mil Compassos "que você é um leitor assíduo dos mais diversos temas. Qual seria seu tema preferido? Quais autores você lê atualmente? Você fez referências também aos livros de auto-ajuda? É uma leitura que realmente lhe agrada? Esse não seria um segmento comercial de qualidade duvidosa?
Marcus Baby – Devido ao meu momento atual, ando completamente apaixonado por biografias, livros fotográficos (amo) e aquelas brochuras de tema único e generosamente ilustradas chamadas de “Almanaque” que voltou estiloso da década de 70, agora como moda de vanguarda. Estou lendo o indefectível Kid Vinil (“Almanaque do Rock”), e uma coleção de entrevistas feitas pelo Zeca Camargo (“De A-ha a U2”). Encerrei há pouco tempo uma biografia não autorizada da Lucy O’Brien (“Madonna 50 Anos”) e estou para comprar o último do Moraes Moreira (“A História Dos Novos Baianos E Outros Versos”). Esta semana descobri um livro fotográfico maravilhoso sobre Marilyn Monroe, “Images Of Marilyn” e um outro do gênero chamado “Mythology” (com desenhos do Alex Ross para a DC Comics) num sebo próximo de onde almoço, lindos, tamanho gigante e capa dura, que não sossegarei enquanto não comprar os dois. Nas férias, pretendo ler Stephenie Meyer e sua saga “Crepúsculo”, “Lua Nova”, “Eclipse” e “Amanhecer”, pois o meu dia de 24 horas é curto para quem só dorme quatro horas por noite, e eu prefiro saborear livros de romance ou ficção lentamente como quem toma vinho. E não tenho predileção específica por determinado tema. Apenas sigo sugestões e verifico se gosto ou não. Li sim o Lair Ribeiro quando adolescente, ganhei um de seus livrinhos ensinando a ganhar dinheiro e achava tão interessante na época quanto hoje acho “O Segredo” da Rhonda Byrne. O que me interessa é preencher a minha necessidade de informação, sem vínculos com guetos ou rótulos. Só posso opinar depois que conheço o conteúdo. Sou pop e o que vier eu traço.

Andréia de Oliveira – E em relação à poesia. Como começou a sua experiência com a poesia? Você acredita ser essa arte de difícil acesso ao público? Qual o grande responsavel pelos desinteresse sobretudo nas escolas e faculdades pela poesia? Seria essa arte uma expressão muito lírica para o objetivismo dos dias atuais?
Marcus Baby – Para mim, a poesia é a necessidade vital de um seleto grupo de pessoas sensitivas e não há como forçar a barra para se gostar dessa forma de arte, porque o amor aos versos vem do DNA de cada um. Não tem como apontar culpados pelo desinteresse por algo que surge de dentro pra fora, que já existe nas entranhas de quem realmente aprecia. É íntimo. Eu descobri que gostava de poesia naquela inominável fase da vida em que a gente não é adulto suficiente para tomar atitudes infantis e nem é criança o suficiente para tomar atitudes adultas. Sofria por me achar diferente das pessoas a minha volta, e meu único refúgio era escrever num caderno rimas desordenadas tal como o sentimento que rasgava o meu coração. Aquilo era minha válvula de escape, uma catarse, até o dia em que percebi ser mais sensível que todo mundo e precisava me abster de algo paradoxal entre o onírico e o concreto. Foi aí que conheci os meus gênios da arte como Vinícius de Moraes, Florbela Espanca, Henry David Thoreau, Guilherme Isnard, Cazuza, Emily Dickinson, Arnaldo Antunes, Zédantas, Walt Whitman, Fausto Fawcett, Mário Quintana, Paulo Leminski, Waly Salomão e um monte de gente que amo de paixão. Porém, já homem feito, resolvi fechar para visitação esse meu lado poético e me dediquei – entre outras formas de expressão artística – a escrever crônicas urbanas para meus blogs e algumas coisas de encomenda para sites de teor GLBTS, ou, para qualquer um que quisesse ter um texto by Marcus Baby. Até chegar a conclusão de que internet é a “terra de ninguém” onde virou, mexeu, encontro muuuuita coisa minha solta na web copiada descaradamente sem os meus créditos... Mas tem nada não, Deus tá vendo (risos).
Andréia de Oliveira – Por fim, gostaria que falasse um pouco sobre as impressões subjetivas presentes em sua obra. Existe alguma mensagem específica que pretende passar ao público através de seus bonecos?
Marcus Baby – Nem em meus mais felizes sonhos poderia um dia imaginar que seria sinônimo de determinada expressão artística no país ou de ser reverenciado por meus próprios ídolos que se transformaram em fãs da minha arte, e tudo isso num espaço de tempo absurdamente curto. Como nunca e em momento algum previ o que está acontecendo agora nesse momento comigo, continuo agindo como se tudo ainda fosse aquele meu tranquilo hobby despretensioso que só eu e as pessoas mais chegadas, tinham acesso livre para admirar. A minha intenção inconsciente é a do auto desafio que me proponho interruptamente até o momento em que concluo mais um projeto imaginário que ferve dentro de minha cabeça. Sou fascinado pela imagem tridimensional, amo o universo pop e todos os seus personagens únicos e reais, adoro mixar elementos díspares como o novo e o velho, o feio e o bonito, o bem e o mal, o ying e o yang... E no final das contas, estou curtindo a idéia de ser o “Gepeto dos tempos modernos”, um título fashion-filosófico para quem literalmente brinca de ser Deus e dá a vida a algo que até então não existe... Já a minha intenção consciente, aquela que deposito em forma de mensagem subliminar em cada pequeno detalhe de cada “filhote” que ponho no mundo, vem de uma frase simples, beirando ao clichê batido, que até adoto como um mantra, sigo e divulgo com maior prazer: “eu quero, eu posso, eu consigo”. Mais verdadeiro não há e eu sou prova viva disso. Em suma, tudo - mas tudo mesmo - é possível.


Andréia de Oliveira – Gostaria de agradecer a oportunidade de conversar com você e desejar sucessos para você.
Marcus Baby – Eu é que agradeço a todos vocês, Elenilson (pela coragem e brilhantismo), Andréia de Oliveira (pela sagacidade e inteligência) e a todos aqueles que dispensaram seu precioso tempo em me pesquisar, analisar, dissecar... e enfim, saber algo mais denso sobre minha pessoa e minha arte, além do que já existe por aí nos Googles da vida! Como diria os "gurús" do Planet Hemp, "eu continuo queimando tudo até a última ponta"... Valeu, obrigado e muita luz!

                                                                               


domingo, 27 de setembro de 2009

Entrevista com o escritor e jornalista José Milbs

“Fascinado pelo PT, PT, PT, Trabalhadores no Poder, o tempo me fez ver a grande mentira e o engodo com a eleição de Lula. (...) Perguntava-me, já desfeito do fascinamento do PT e do trotskismo, se tudo aquilo não seria igual à religiosidade, aos valores aceitos pelo afeto de pessoas fraternas e que havia algo escondido. (...)Tenho dó de Lula que vai passar para a história sem ter mudado o curso...” (J.M.)
Dando início a uma série de entrevistas para a LITERATURA CLANDESTINA com os participantes do volume de poesias da "Coleção LC/2009", querendo incentivar a troca de informações e experiências entre os autores. Dessa forma, a poetisa, economista e pós-graduada em Metodologia do Ensino e Docência Superior, Andréia de Oliveira, de Salvador-BA, entrevista o poeta, jornalista, escritor, memorialista, historiador, ecologista, nascido em Macaé e editor do Jornal O Rebate, José Milbs.
Andréia de Oliveira – Em primeiro lugar gostaria de elogiar o trabalho do “O Rebate”. É importante usar a internet para disseminar informação crítica e consciente. Primeiramente gostaria que você falasse um pouco da sua atuação como jornalista. Você iniciou na profissão em 67, no período da ditadura militar, um ano antes AI-5, devia ser difícil fazer jornalismo naquela. Hoje, mesmo com a liberdade de imprensa, parece-me que ainda resta uma certa censura, oriunda do poderio econômico. Você concorda? Era mais difícil fazer jornalismo em 67 ou agora?
José Milbs – O Rebate sofria forte censura nos anos 60. Quando assumimos o jornal ele era de um forte grupo econômico da região de petróleo do RJ (Macaé). Um pouco disso está no editorial. Em Macaé tinha e tem um Forte do EB que se encarregava de fazer a censura. Um Capitão ficava na redação e lia os textos que iam para a oficina que funcionava num velho local no centro da cidade. Fui enquadrado no AI-5 e respondi IMPM no Exército e na Marinha, onde fui absolvido pelo então auditor Jacob Goldemberg, um senhor simpático, gordo e de olhar feliz. Ao confirmar os textos que deram origem as denuncias contra O Rebate ele achou que quem deveria estar ali eram os denunciadores. Achei interessante isto vir de um auditor. Chamou um outro de nome Oswaldo Rodrigues e meu processo foi arquivado. Mesmo assim, hoje tenho noção real do que aconteceu, vi minha Faculdade de Direito ser interrompida sem motivo e fui aposentado do INAMPS com um diagnóstico "incompatibilidade com as funções". Claro que hoje sei que esta era uma maneira de me afastar. Vivo com um salário de R$ 600 reais (menos 40% do que deveria ter). Não quis e não quero reparação... Tem mais um pouco dessa história no O Rebate. Um dia eu determinei aos companheiros da oficina que não mais substituíssem os textos que o capitão tinha censurado. Como o jornal era composto de letra por letra era um terror ter que fazer os meninos da gráfica substituir tudo. Falei que se os textos voltarem censurados que saiam tudo em cor negra e coloquem na 1ª página o seguinte: O REBATE CIRCULA COM ALGUNS TEXTOS BORRADOS DE PRETO NÃO POR CULPA DE IMPRESSAO DE NOSSO IMPRESSOR E SIM POR TER TIDO TEXTOS SENSURADOS PELO COMANDO DO GaCOSM (Comando do EB da Região). Mandei o jornal para as bancas. Eis algo a respeito AQUI. Quanto a outra pergunta, você mesma já disse é um fato...
Andréia de Oliveira – Trazendo um pouco o foco para a literatura, como você observa o cenário literário do país? A era das informações rápidas e superficiais potencializada pela democratização da internet e a falta de interesse histórico do brasileiro pela leitura estariam decretando o fim da literatura? Existem ainda alguns poucos sobreviventes da literatura!
José Milbs – Escrevo e faço O Rebate porque ainda creio que alguma coisa pode mu
dar. Quando fiz parte da contra cultura e do movimentos hippie dos anos 70 – CLIQUE AQUI – pensei que tudo seria mesmo resolvido no “paz e no amor”. Veio o fim do movimento, ele sendo absorvido pelo sistema que fez novelas, roupas em formato vendadas, etc. Houve uma forte tristeza de meu interior. Lágrimas? Não sei. Sei que "foram levantados os "panos das exposições em calçadas". Muitos morreram, muitos enlouqueceram ou vagam por ai. Seria eu um sobrevivente? Estaria numa "missão" com alguma ordem superior que venha em mim sem que eu saiba de onde? Lembro que num dia qualquer de uma tarde nebulosa e com ar de outuno, estava eu no Rio de Janeiro. Havia um jornal de nome MAM (do Museo de Artes Moderna). Um poeta, se não me falha de nome, Cacaso, estava entrevistando pessoas sobre o movimento. Falou com Caetano, Gil e outros "que achavam serem os karas"... Me achando, na simplicidade de um boteco qualquer, Cacaso me veio com a pergunta: "Milbs que você está fazendo agora?” Respondi: “ESCULPINDO EM SORVETE...” O poeta entendeu e tacou no jornal do MAM.Fulano está fazendo isso ou aquilo (para não citar os nomes dos que se acocoraram ao poder) e o Milbs está "esculpindo em sorvete...” Hoje divido o meu salário de R$ 600 reais do INAMPS com minha web designer para por no ar o jornal... Conto com a paciência dela e de todos os colaboradores como o próprio Elenilson que, voluntariamente, divulgam o site. Embora ter uma vivencia política eleitoral desde a juventude como líder estudantil do estado do Rio (1960-61), membro do PTB de Jango em 1958 quando concorri a vereador, ter sido fundador do PT em 78 e outras militâncias, hoje não acredito mais no parlamento como transformação da sociedade. Foi muito difícil entender isso.
Andréia de Oliveira – E sua pessoal experiência como escritor. Você acredita que é um caminho natural de todo jornalista? Em meio à tamanha desvalorização em todos os níveis da literatura no país, qual seria enfim a motivação em escrever?
José Milbs – Faço meus livros on-line. É uma maneira de sair da dependência comercial. Escrevo o que me vem na cabeça sem revisão nem copideskiar, pois tenho paciência para fazer. Saudosismo me faz bem. Como todo homem que chega aos 70 anos com cabeça de 18. E uma vez por outra me refrigerar a alma e ter algum e-mail de alguém que fala que leu isso ou aquilo que escrevi e, indo ao busca do Google, me viu lá. Deve ser ainda os restos de um tempo do "não" do movimento hippie que amei e sou ainda fiel... Muitos que, como eu, conheceram as verdades vendem seus textos. Os meus são gratuitos como os recebi gratuitamente. A internet foi onde achei melhor maneira de trazer a liberdade de expressão...
Andréia de Oliveira – Como você classificaria o tom de suas obras: saudosistas, informativas, autobiográficas ou simplesme
nte universais?
José Milbs – Sim todo jornalista qu
e tem suas experiências no dia a dia desde mundo deve caminhar para alguma coisa. Seria escritor ou palestrante, mas preferi escrever o que chamam de livros. No O Rebate tenho vários, como “Luar de Imbetiba”, “Dos ferroviários aos petroleiros”, “O cotonete azul e a nova democracia”, “Rua do Meio”, “Saga de Nhasinha”, “Ecila” e “Os Tavares, os Silvas, os Almeidas, os Pratas e os Mathias Nettos”. Você verá muito de minhas andanças pelas paredes das memórias...
Andréia de Oliveira – Importante esse seu relato sobre a Revolução de 1964. Quem nasceu dos oitenta em diante não tem uma muita noção muito clara do foi a censura. Nesse tempo era unânime um projeto ideal de sociedade: o comunismo ou governo
do proletariado. Só viemos perceber que esse sonho acabou anos depois da queda do Muro de Berlim. Ainda havia muitas esperanças, pois um governo dito de esquerda nunca havia assumido o poder. Você ainda acredita em utopias coletivas?
José Milbs – A via eleitoral jamais irá resolver o grave problema da diferenciação social. Embora, como já disse e também consta de vários textos no O Rebate, fui criado na via eleitoral, em partidos políticos e tive, paralelo, uma criação de religiosidade. Aos 18 anos: PTB; aos 19: liderança estudantil. Em casa uma avô religiosa, me levando para a igreja, sendo até coroinha com tenra idade e recebendo ensinamentos de que "comunismo" comia criança, era um monstro que matava etc. Hoje, depois de tomar ciência do que ocorria e ocorreu na União Soviética, das traições e conspirações havidas (indico a leitura de a
“Grande Conspiração”), chego a conclusão que não existe nada daquilo que o afeto, o carinho, a gentileza das mães e dos valores criados em infâncias mil, fazem parte de uma verdade... Até conhecer e ler “Minha Vida” de Leon Trotski, fui levado a acreditar no que o livro dizia sobre a União Soviética e o comunismo. Como a história e a vida é o grande senhor das verdades, fui vendo e vivenciando o que aconteceu na Polônia (Lech Valeska) e outros locais onde o trotkismo havia enraizado. Levado por amigo a participar da CS (Convergência Socialista) conheci muitos de seus membros e tive a alegria de tê-los em minha casa, abrigados, em momento de suas procuras pelo sistema repressor. Daí foi um passo para participar da fundação do PT em 78 e militar como candidato em eleições no ano de 82. Fascinado pelo PT, PT, PT, Trabalhadores no Poder, o tempo me fez ver a grande mentira e o engodo com a eleição de Lula. Encucava-me, neófito em organização de esquerda, a proibição de me aproximar de algum comunista que fosse stalinista...
Perguntava-me, já desfeito do fa
scinamento do PT e do trotskismo, se tudo aquilo não seria igual à religiosidade, aos valores aceitos pelo afeto de pessoas fraternas e que havia algo escondido. Sim havia algo escondido e este algo eu fui encontrar no conhecimento do verdadeiro socialismo que estava cristalizado nos que denunciavam o Revisionismo, o oportunismo e a traição aos verdadeiros atos que emanavam da URSS...
Andréia de Oliveira – Haveria alternativas ao individualismo cínico e cético que vivemos? O caminho político não seria mais válido? O ideal do comunismo deve ser sepultado de vez?
José Milbs – Não entendia bem e até achava legal alguns partidos comunistas estarem com apoio ao governo de Lula. Mais uma vez o tempo, senhor de tudo, foi cimentando nesta minha cabeça já embranquecida pelo tempo e pelo sereno das noites, a luz que estava se clareando. Havia, descobri um verdadeiro socialismo e um verdadeiro comunismo. Assim como no cristianismo tinha o verdadeiro, não o que era pregado, falado em minhas andanças infantis... Foi a luz. Foi a clarividência tão usada no Kadercismo... Já no movimento hippie, quando de minhas belas noites, nos anos 70, em torno das lindas fogueiras, ladeados de companheiros e vários estados e países, ouvia, ao longe uma voz que anunciava a existência do presidente Mao. Deveria haver, no grupo de hippies algum que deveria querer me passar algum informe. Devo tê-lo passado em pensamentos... Sim, havia um outro Comunismo sim. Este se cristalizou em minha busca por um mundo melhor onde não haveria tanta desgraça social, tanta diferença de classes e onde poderia até esta a tão pré-falada igualdade, fraternidade, irmanamento, comunidade... De fato alguma coisa abriu-se e hoje, embora aos 70 anos, acho que começo a caminhar na busca destas bele
zas. Creio sim Andréia, que ainda se pude pensar e lutar pelo Comunismo...
Andréia de Oliveira – Falando do cenário político atual do país. Você como fundador do PT participou e acompanhou toda a sua trajetória de Lula até a presidência em 2002. O PT que chegou ao poder foi o mesmo que você ajudou a fundar? Qual a sua avaliação em termos gerais a respeito do governo do presidente Lula? Uma continuação do liberalismo de FHC, com uma ênfase maior no social? E a respeito das eleições de 2010, alguma perspectiva de mudança?
José Milbs – Conheci Lula,
fundei o primeiro núcleo do PT do RJ, passei para meus 4 filhos e amigos que ele seria "não o Kara do USA mais o Kara que iria fazer o avesso do avesso". Lembro-me de um de seus gestos que me marcou muito como cronista e observador. Ele tomava um copo, se não me falha de cerveja. Pegou com as duas mãos a barra de sua camisa branca, e limpou os lábios. Vi ali o verdadeiro homem do POVO e pensei: será o presidente que irá impor a verdadeira transformação social. Em outro encontro, estava eu e ele numa mesa onde fomos padrinhos de um velho militante e eu falei a ele: Lula além de companheiros de PT temos algo em comum. Meus filhos de nome Luís Cláudio e o seu, e ainda por sermos nós dois oriundo do SENAI. Eu, como você, sou também torneiro mecânico... Rimos e eu ainda disse: Quando você chegar lá, crie Escolas do Senai e reative as ferrovias... Hoje vejo que Lula cumpre o papel a que lhe foi imposto pelo sistema que o levou ao poder. A Igreja que levou Lech Valeska ao poder Polônia é a mesma. Não objetiva mudar o sistema e nem de longe arranha o que o FHC deixou... Não tenho mais filiação partidária. Tenho dó de Lula que vai passar para a história sem ter mudado o curso...
Andréia de Oliveira – Você demonstra ter um prazer inenarrável em escrever e em disponibilizar seus textos gratuitamente na internet. Co
mo você definiria a arte de ESCREVER. Você utiliza a literatura como uma espécie de missão sacerdotal? Acredita na possibilidade de regeneração da sociedade por meio da literatura?
José Milbs – Creio sim na literatura como meio de consciência do POVO. Andei pela internet, fiz contatos com todo o tipo de pessoas durante uns cinco anos. Com mirc, ICQ, salas, e-mails e tudo o que você possa pensar que existe neste mundo maravilhoso eu o vivi. Fiz um livro on-line sobre esta minha caminhada virtual – CLIQUE AQUI – e bela em relato este minha vivência. Mulheres, homens, crianças, jovens, tudo que existe em carências, quer social, sexual, etc. Mentiras, verdades que vinham das tentativas de mentiras, mentiras que eram verdades. Tudo eu flui destes momentos que buscava nas centenas de noites que vivi na busca deste mundo... Creio sim na literatura como foco da luz...
Andréia de Oliveira – Fale-me um pouco de sua experiência com a poesia. Existem diferenças entre a prosa e a poesia, ou tudo é uma questão de enfoque?
José Milbs – Tenho grandes amigos poetas. Um dia, não sei qual deles, leu um texto longo que fiz onde começo com esta frase: "Infância vai, infância vem. Mudam-se as pessoas, os gestos, a fala. A Infância é eterna, como o cantar dos passarinhos, como o nascer e o por do Sol. Onde habitará a infância, senão no frescor da mente do velho escritor?” E continuo num relato AQUI, onde volto as minhas ruas empoeiradas e puras de minhas nascença. Hoje a cidade virou a capital brasileira do petróleo e eu me refugio num sítio onde planto e respondo às suas linda indagações... Poesia, poemas são coisas dos deuses...

Andréia de Oliveira – Por fim, fale-me de suas expectativas em participar desse projeto da “Coleção Literatura Clandestina”: seria mais uma forma de divulgação de seu trabalho ou um ato de resistência ao sistema?
José Milbs – A presença da LITERATURA CLANDESTINA fortalece e fortifica a luta. Quero agradecer a você pela paciência revolucionária de me fazer rever alguns temas belos de minha vida que estavam adormecidos na frieza do PC. Beijos aí no "chato do meu amigo Elenilson que é uma mistura de Bahia com BH”, e um forte abraço em você que, pela beleza do olhar transmite o que de mais sublime existe no ser: a mistura do belo com o saber...
Andréia de Oliveira – Foi um prazer conversar com você, Milbs e compartilhar a riqueza das suas memórias e recordações. O realismo da vida não te roubou a capacidade de sonhar. Despeço-me sem acenos ou adeus. Abraços.

sábado, 26 de setembro de 2009

Reino das linhas tortas


Atenta-vos, nobres cavalheiros das letras, nesse reino das linhas tortas! Por onde quer que olhem edificam-se as academias de papel do saber cristalizado dos números e títulos a glorificar o contingente dos ignóbeis e inconscientes aliados do rei. Mais difícil do que enfrentar os dragões da ignorância dos que nada sabem , é lutar contra o descaso educacional que realimenta, fomenta e perpetua as chagas do poder. O que podes contra eles? Apenas persistam. Escrever é introduzir os germens da idéias inacabadas que pairam nos ventos dos insanos desejos de liberdade. Avante! Empunhem em suas espadas os versos da resistência.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

POEMAS DE MIL COMPASSOS

“O resultado é que as produções poéticas da atualidade estão restritas, em sua grande totalidade, a manifestações individuais em blogs ou páginas de Internet, desconhecidas do grande público, quase que atos solitários dos que seguem essa arte por pura devoção.”
Por Andréia de Oliveira*
A literatura, em especial, a poesia sempre foi o veículo, por excelência, tradutor das ideologias de uma era, carregando consigo essa capacidade suprema de disseminar as correntes revolucionárias dentro de uma sociedade. E é justamente esse o projeto da antologia poética “Poema de Mil Compassos” (2009), idealizada com a proposta de sacudir as estruturas alienantes da cena das artes no país, liberando todo o furor criativo, presente nas linhas traçadas por cinquenta e um autores que sobrevivem à era das informações rápidas e conteúdos superficiais.
O texto inicial na Apresentação, escrito por Elenilson Nascimento, autor baiano e organizado da obra, é um verdadeiro manifesto em prol do resgate do lirismo perdido na insensatez e estupidez do cotidiano moderno. Audaz, talentoso e corajoso como escritor, crítico, consciente e observador como jornalista, investiga profundamente as razões da crise literária, inserido-a em um contexto de degradação de valores em meio ao predomínio da corrupção, descaso educacional, inércia, indiferença e injustiça social, em âmbito nacional e mundial.
Para tanto, questiona-se quanto a capacidade da chamada elite da sociedade, aquela parcela dos privilegiados que governa e dita padrões de comportamentos, lançar qualquer bálsamo alentador para as feridas abertas da atualidade. E, é assim, caminhando a margem do sistema, que se anuncia a figura lendária e mágica do poeta, aquele que “anda acordando para contemplar a Lua”, capaz de transcender a sombria realidade, entoando em seus versos as promessas libertárias dos sentimentos da alma.
MALUCOS , LUNÁTICOS E CAMÕES – Sim, esses seres malucos e lunáticos ainda existem e resistem em um coro emblemático composto por cinquenta e uma vozes dando a tradicional arte de Camões um tom contemporâneo, contagiante e extasiante. Assim, podem ser definidos os autores dos “Poemas de Mil Compassos”, oriundos de diversas localidades do Brasil e também do exterior, especificamente de Portugal, diferentes ocupações e formações, alguns proeminentes na área, outros meros estreantes, mas sempre e simplesmente buscadores, extraindo do âmago da existência humana e das entranhas da vida.
Seguem assim em múltiplos estilos, formas e temas, na empolgante dança das letras, em meio à curiosa, maravilhosa e intrigante fusão da prosa lírica, do subjetivismo romântico, da linguagem simbólica e filosófica e da poesia urbana, entre outros. Seria injusto e impossível citar aqui nomes, pois todos os poemas são relevantes formando um harmonioso conjunto como células e órgãos de um mesmo organismo. Variações em torno do ideário e sentimento comum de uma sociedade. Mas é importante também que o leitor não perca de vista que a poesia nada mais é do que uma expressão corrente da linguagem oculta dos anseios e ideais humanos - sejam estes atemporais ou não.
Em atenção às diversidades de reflexões filosóficas ou históricas que a poesia suscita, introduz-se oportunamente como desfecho final do livro, uma seção intitulada “As Linhas de Mil Compassos”, uma coletânea de trechos de entrevistas concedidas por alguns dos autores do livro e outras personalidades de destaque no cenário cultural. Percebe-se nesses depoimentos a tônica do pensamento de nossa época, em valorosas experiências no meio artístico, literário, musical, social e político.
INCESSANTES QUESTIONAMENTOS – Indispensável a abordagem sobre as dificuldades enfrentadas pelos novos escritores para adentrarem nos mercados editoriais, vez que uma parcela dos poetas do livro ainda não são conhecidos do grande público. Esses e outros relatos são interessantes à medida que elucidam importantes aspectos acerca do quadro estrutural da atualidade, ao mesmo tempo em que despertam importantes reflexões sobre a cultural em geral, em especial a literatura.
E dentro desta perspectiva de incessantes questionamentos é que se encerra o grande diferencial da antologia “Poemas de Mil Compassos”. Penso ser impossível desassociar a arte de escrever, do ato de criticar, refletir, analisar, filosofar, polemizar e todos outros atributos da inteligência humana que contribuíram ao longo dos séculos para o desenvolvimento das ciências, da música, da literatura e das artes.
Inseridas em um enfoque histórico, a poesia é um fundamental termômetro dos comportamentos e padrões de uma época, desvelando novas ideias, propagando padrões e ideologias dentro de uma sociedade. O que dizer da sátira de Gregório de Mattos, em face da hipocrisia do Brasil colônia; do clamor de liberdade, de Castro Alves, em meio ao absurdo da escravidão; e do próprio protesto silencioso do subjetivismo dos modernistas no 2º pós-guerra diante da falência do projeto de homem?
PRODUÇÕES POÉTICAS – Se a poesia sempre tem uma cara, então, qual seria esta face misteriosa que se esconde sobre a produção poética nesse início de século? Difícil dizer ao certo, o fato é que o predomínio da cultura pop a partir dos anos 70 conferiu uma certa dispersão das manifestações artísticas, em nome da emergência do novo e do culto as liberdades individuais de modo que não se pode dizer que exista um padrão vigente ou norma aceita para que se crie.
O resultado é que as produções poéticas da atualidade estão restritas, em sua grande totalidade, a manifestações individuais em blogs ou páginas de Internet, desconhecidas do grande público, quase que atos solitários dos que seguem essa arte por pura devoção. Nas salas de aulas do ensino fundamental e médio, nas faculdades de Letras do país observam-se alusões aos grandes poetas da nossa literatura, figuras imortalizadas nos livros, a despeito do fato de que a poesia é algo vivo, se constrói a cada instante nas cenas do nosso cotidiano diário.
MOVIMENTO REVITALIZADOR – Seria um tanto quanto utópico conclamar a união em torno de um movimento revitalizador , capaz não de estimular o gosto popular pela poesia, despertando do sono profundo as consciência adormecidas. Entretanto, como poetas, escritores, enfim, livres pensadores que somos não podemos nos abster jamais do sublime ato de resistir, refletir e quem sabe transformar, como nos diz o grande Drummond:
“Não serei o poeta de um mundo caduco/Também não cantarei o meu futuro/Estou preso à vida e olho meus companheiros/Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças/Entre eles, considero a enorme realidade/O presente é tão grande, não nos afastemos/Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.” (“POEMAS DE MIL COMPASSOS”, Org. por Elenilson Nascimento, 315 págs, Rio de Janeiro, 2009 – Clube dos Autores)

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* Andréia de Oliveira é poetisa de Salvador - Bahia, economista e pós-graduada em Metodologia do Ensino e Docência Superior, e também faz parte dos “Poemas de Mil Compassos".
fotos: divulgação