sexta-feira, 25 de setembro de 2009

POEMAS DE MIL COMPASSOS

“O resultado é que as produções poéticas da atualidade estão restritas, em sua grande totalidade, a manifestações individuais em blogs ou páginas de Internet, desconhecidas do grande público, quase que atos solitários dos que seguem essa arte por pura devoção.”
Por Andréia de Oliveira*
A literatura, em especial, a poesia sempre foi o veículo, por excelência, tradutor das ideologias de uma era, carregando consigo essa capacidade suprema de disseminar as correntes revolucionárias dentro de uma sociedade. E é justamente esse o projeto da antologia poética “Poema de Mil Compassos” (2009), idealizada com a proposta de sacudir as estruturas alienantes da cena das artes no país, liberando todo o furor criativo, presente nas linhas traçadas por cinquenta e um autores que sobrevivem à era das informações rápidas e conteúdos superficiais.
O texto inicial na Apresentação, escrito por Elenilson Nascimento, autor baiano e organizado da obra, é um verdadeiro manifesto em prol do resgate do lirismo perdido na insensatez e estupidez do cotidiano moderno. Audaz, talentoso e corajoso como escritor, crítico, consciente e observador como jornalista, investiga profundamente as razões da crise literária, inserido-a em um contexto de degradação de valores em meio ao predomínio da corrupção, descaso educacional, inércia, indiferença e injustiça social, em âmbito nacional e mundial.
Para tanto, questiona-se quanto a capacidade da chamada elite da sociedade, aquela parcela dos privilegiados que governa e dita padrões de comportamentos, lançar qualquer bálsamo alentador para as feridas abertas da atualidade. E, é assim, caminhando a margem do sistema, que se anuncia a figura lendária e mágica do poeta, aquele que “anda acordando para contemplar a Lua”, capaz de transcender a sombria realidade, entoando em seus versos as promessas libertárias dos sentimentos da alma.
MALUCOS , LUNÁTICOS E CAMÕES – Sim, esses seres malucos e lunáticos ainda existem e resistem em um coro emblemático composto por cinquenta e uma vozes dando a tradicional arte de Camões um tom contemporâneo, contagiante e extasiante. Assim, podem ser definidos os autores dos “Poemas de Mil Compassos”, oriundos de diversas localidades do Brasil e também do exterior, especificamente de Portugal, diferentes ocupações e formações, alguns proeminentes na área, outros meros estreantes, mas sempre e simplesmente buscadores, extraindo do âmago da existência humana e das entranhas da vida.
Seguem assim em múltiplos estilos, formas e temas, na empolgante dança das letras, em meio à curiosa, maravilhosa e intrigante fusão da prosa lírica, do subjetivismo romântico, da linguagem simbólica e filosófica e da poesia urbana, entre outros. Seria injusto e impossível citar aqui nomes, pois todos os poemas são relevantes formando um harmonioso conjunto como células e órgãos de um mesmo organismo. Variações em torno do ideário e sentimento comum de uma sociedade. Mas é importante também que o leitor não perca de vista que a poesia nada mais é do que uma expressão corrente da linguagem oculta dos anseios e ideais humanos - sejam estes atemporais ou não.
Em atenção às diversidades de reflexões filosóficas ou históricas que a poesia suscita, introduz-se oportunamente como desfecho final do livro, uma seção intitulada “As Linhas de Mil Compassos”, uma coletânea de trechos de entrevistas concedidas por alguns dos autores do livro e outras personalidades de destaque no cenário cultural. Percebe-se nesses depoimentos a tônica do pensamento de nossa época, em valorosas experiências no meio artístico, literário, musical, social e político.
INCESSANTES QUESTIONAMENTOS – Indispensável a abordagem sobre as dificuldades enfrentadas pelos novos escritores para adentrarem nos mercados editoriais, vez que uma parcela dos poetas do livro ainda não são conhecidos do grande público. Esses e outros relatos são interessantes à medida que elucidam importantes aspectos acerca do quadro estrutural da atualidade, ao mesmo tempo em que despertam importantes reflexões sobre a cultural em geral, em especial a literatura.
E dentro desta perspectiva de incessantes questionamentos é que se encerra o grande diferencial da antologia “Poemas de Mil Compassos”. Penso ser impossível desassociar a arte de escrever, do ato de criticar, refletir, analisar, filosofar, polemizar e todos outros atributos da inteligência humana que contribuíram ao longo dos séculos para o desenvolvimento das ciências, da música, da literatura e das artes.
Inseridas em um enfoque histórico, a poesia é um fundamental termômetro dos comportamentos e padrões de uma época, desvelando novas ideias, propagando padrões e ideologias dentro de uma sociedade. O que dizer da sátira de Gregório de Mattos, em face da hipocrisia do Brasil colônia; do clamor de liberdade, de Castro Alves, em meio ao absurdo da escravidão; e do próprio protesto silencioso do subjetivismo dos modernistas no 2º pós-guerra diante da falência do projeto de homem?
PRODUÇÕES POÉTICAS – Se a poesia sempre tem uma cara, então, qual seria esta face misteriosa que se esconde sobre a produção poética nesse início de século? Difícil dizer ao certo, o fato é que o predomínio da cultura pop a partir dos anos 70 conferiu uma certa dispersão das manifestações artísticas, em nome da emergência do novo e do culto as liberdades individuais de modo que não se pode dizer que exista um padrão vigente ou norma aceita para que se crie.
O resultado é que as produções poéticas da atualidade estão restritas, em sua grande totalidade, a manifestações individuais em blogs ou páginas de Internet, desconhecidas do grande público, quase que atos solitários dos que seguem essa arte por pura devoção. Nas salas de aulas do ensino fundamental e médio, nas faculdades de Letras do país observam-se alusões aos grandes poetas da nossa literatura, figuras imortalizadas nos livros, a despeito do fato de que a poesia é algo vivo, se constrói a cada instante nas cenas do nosso cotidiano diário.
MOVIMENTO REVITALIZADOR – Seria um tanto quanto utópico conclamar a união em torno de um movimento revitalizador , capaz não de estimular o gosto popular pela poesia, despertando do sono profundo as consciência adormecidas. Entretanto, como poetas, escritores, enfim, livres pensadores que somos não podemos nos abster jamais do sublime ato de resistir, refletir e quem sabe transformar, como nos diz o grande Drummond:
“Não serei o poeta de um mundo caduco/Também não cantarei o meu futuro/Estou preso à vida e olho meus companheiros/Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças/Entre eles, considero a enorme realidade/O presente é tão grande, não nos afastemos/Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.” (“POEMAS DE MIL COMPASSOS”, Org. por Elenilson Nascimento, 315 págs, Rio de Janeiro, 2009 – Clube dos Autores)

>>> CLIQUE AQUI e adquira o livro direto com a editora.
>>> Baixe
AQUI também o CD “Poemas de Mil Compassos Vol. 1”, com vários poemas recitados pelos artistas e muitos bônus tracks.
* Andréia de Oliveira é poetisa de Salvador - Bahia, economista e pós-graduada em Metodologia do Ensino e Docência Superior, e também faz parte dos “Poemas de Mil Compassos".
fotos: divulgação

Nenhum comentário:

Postar um comentário