
O excesso de otimismo de Pierre Lévy, um dos mais importantes filósofos da atualidade, com relação à internet, é embasado no interessante conceito da inteligência coletiva formada através dos ciberespaços, local, por excelência, das relações virtuais, onde as informações interagem, complementam-se e modificam-se por meio da incessante cadeia de interações do conhecimento humano.
Segundo Lévy, o surgimento da informática, em especial da internet, potencializa os atributos da cognição humana, favorecendo o intercâmbio de informações, em um processo de universalização cultural que se configura plena em sua ausência de totalidade ou direção.
De fato, as profecias de Lévy a respeito da emergência da cybercultura como um universo livre de troca e aglutinação do conhecimento é justificado, em parte, pelo fortalecimento da internet como um meio ativo do fortalecimento e propagação da cultura humana, através do qual é possível a interação dos saberes humanos, em uma dimensão jamais imaginada a séculos atrás. Emerge-se assim as enciclopédias virtuais, os e-books, os fóruns de debate, os sites jornalísticos e culturais, onde qualquer pessoa esteja no interior do país ou nos grandes centros urbanos do mundo tem acesso em tempo real, possibilitando a democratização do conhecimento, antes restrito por limitações geográficas, econômicas ou sociais.
Contudo, por mais positivo que possa parecer as perspectivas desse universo cibernético, importante ressalva deve ser feita ao elemento balizador dos opositores das ideias de Lévy, no que diz respeito à visão otimista acerca da evolução positiva da internet. Tais opiniões repousam justamente na quantidade de material de qualidade duvidosa que veicula na rede, a exemplo dos conteúdos fúteis de sites de variedades, da superficialidade dos sites de relacionamento, exposição e divulgação de pornografia (inclusive infantil) ou da apologia à violência, entre outros.
Por mais contraditório que seja o ciberespaço de Lévy, local destinado a aglutinação das culturas, transforma-se, assim, em um veiculo midiático de exposição de celebridades instantâneas, arrogantes na maioria das vezes que se utilizam de sua projeção na rede para divulgar suas ideias descabidas, preconceituosa e ilusórias. Refiro-me aos pseudos-intelectuais da net, dos chamados formadores de opiniões - ao menos para o seu clã inculto de asseclas - que no seu auge de uma autoridade que se oculta por detrás de uma identidade virtual, julgam-se no direito de sentenciar o veredi

Essas figurinhas, em geral nerds globalizados com toda a estupidez do espaço cibernético, são acometidas da síndrome do narcisismo, passando a refletir nas distorcidas imagens dos monitores dos micros-computadores o espelho inacabado de suas pretensas grandiosidades. Seu habitat natural abrange o confortável universo dos blogs, sites, comunidades virtuais onde se armam da munição espúria dos escândalos, polêmicas ou ofensas, de maneira que possam garantir a sobrevivência de uma genialidade, quiçá questionável.
Assim, em meio a imagens projetadas artificialmente, proferem seus discursos evasivos provocativos de polêmicas estúpidas e considerações um tanto quanto desnecessárias. Falo com certo conhecimento de causa, pois recentemente tive meu nome envolto nessa rede de intrigas da internet, simplesmente porque emiti uma opinião sobre o talento de um jovem escritor e jornalista, vítima de insultos, xingamentos e ofensas por um suposto plágio de um texto devidamente referenciado com a fonte, publicado no Literatura Clandestina, acrescido de um pequeno comentário do autor do blog.
Não cabe aqui qual alusão ao referido episódio “do plágio” que sequer existiu de fato, já que esse assunto já foi devidamente explorando, comentado e esclarecido. Mas, cabe sim, um questionamento a respeito dos arrogos dos falsos moralistas que se muniram de argumentos vis e mentirosos na tentativa de contra-argumentar o suposto erro com outro maior ainda, perdendo-se no ambiente de uma ética inexistente das relações virtuais, onde as identidades reais são preservadas por perfis falsos.
Sei que falar em ética nos dias de hoje é algo surreal, já que parece que vivemos sob a égide dos justiceiros e sua moral de conveniência, que fazem valer a máxima de Maquiável em seus protestos insanos por uma justiça que, com certeza, eles não saberiam vivenciar. E, assim, prosseguem em suas aparições sensacionalistas das celeumas pré-fabricadas da internet, afrontando seus opositores com o mesmo afã daqueles que perseguiam uma mulher adúltera nos tempos de Cristo e não resistiriam, com toda certeza, ao célebre teste do “atire a primeira pedra”, tamanha as suas levianiedades, insensatezes e soberbas.
Mas falar de Jesus Cristo, nos tempos de hoje, é um assunto um tanto quanto anacrônico - mesmo para aqueles que se dizem seus seguidores- no mundo globalizado e conectado com as últimas novidades que permeiam a internet. E, dessa maneira, caminha a sociedade descarregando todo o seu artefato moralista contra as pernas da estudante da Uniban, que anda aproveitando bem os seus quinze minutos de fama, tornando-se a celebridade da vez desse universo efêmero e superficial.
Estranha, doente e contraditória moral de uma sociedade que elege a sexualidade como elemento máximo, ao menos tempo que a reprime como se fosse possível dissimular sua própria amoralidade, que se ocultar na platéia dos espetáculos deprimentes e escusos, exibidos com toda exaustão e sensacionalismo nos canais midíaticos da rede mundial de computadores.
E, enquanto isso, assistirmos a predição de Pierre Lévy a respeito da INTELIGÊNCIA COLETIVA, transformar-se em um ideal distante e imaginário de uma era longínqua, onde quem sabe as idéias possam ser sabiamente debatidas e a circulação da informação seja motivada pelo anseio de elevação do conhecimento humano.