segunda-feira, 5 de julho de 2010

O PROSCRITO POETA DO DELÍRIO UTÓPICO


"O Estado mantém as pessoas ocupadas o tempo integral para que elas NÃO pensem eroticamente, Libertariamente. Novalis, o poeta do romantismo alemão que contemplou a Flor Azul, afirmou: "Quem é muito velho para delirar evite reuniões juvenis. Agora é tempo de saturnais literárias. Quanto mais variada a vida tanto melhor ".(PIVA, Manifesto manifesto Utópico-Ecológico em Defesa da Poesia e do Delírio)


*Por Andréia de Oliveira

Uma das primeiras impressões que surgem apenas a leitura de um poema de Piva é o sentimento pulsante da desordem, do caos, do aniquilamento, que por vezes suscita aquela sensação típica da angústia dos que ainda não sedimentaram um novo chão . E foi assim que descobri o poeta paulistano em publicação da Editora Objetiva que reunia os cem melhores poemas do século XX, no ano de 2001.

Entre devaneios, críticas ao sistema, erotismo desenhava-se a imagem do contestador, do proscrito, do louco, do poeta utópico que se antecipava reivindicando uma forma ideal da sociedade, por meio da transgressão a tudo aquilo que é comumente aceito e adotado. Elementos brilhantemente exposto por Piva no poema Piedade: “só eu não sou piedoso / e eu fosse piedoso meu sexo seria dócil / e só se ergueria aos sábados à noite / eu seria um bom filho / meus colegas me chamariam cu-de-ferro.”

E de fato a temática do poeta foge de tudo o que possa ser denominado de normal, propondo-se uma transgressão a normas sociais estabelecidas. Sua poesia carregada de referências a geração beat , destaca-se pelo cunho libertário e contraventor , em meio a abordagens de temáticas homoeróticas.

Por essas razões o erotismo em Piva surge como uma expressão máxima do ideal da liberação sexual, típico dos anos 60 /70, em uma tentativa enfurecida de provocar o rompimentos com os paradigmas ditados pelo senso comum. O sistema aprisiona o homem a um modelo imposto de sociedade aniquilando seus desejos , instintos e vivacidade, acorrentando aos limites inferiores do pecado e da culpa.

Mas certamente uma das características mais marcantes da obra de Piva seja a liberação dos apelos insanos do inconsciente ditando as regras de uma poesia delirante e extasiante. Influências do surrealismo , do misticismo e do xamanismo misturam-se dando lugar a uma nova utopia coletiva onde o homem comungaria mais livremente com seu estado original e primitivo.

Por essas razões, a poesia de Piva sempre terá espaço nas cabeças revolucionárias, inovadores , inquietas, insanas e delirantes que não se silenciam ante a normalidade morna do dia a dia. A poesia de Roberto Piva convida-nos solenemente ao exercício complexo de abstração, da transposição da realidade convencionalmente observada, em um processo de libertação das amarras da mente.



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