O blog Literatura Clandestina do escritor e jornalista Elenilson Nascimento publicou essa entrevista, onde falo sobre educação, cultural, artes, literatura, entre outros. Esse excelente blog é um espaço ímpar de discussão, esclarecimento e opinião sobre importantes aspectos da atualidade.
ENTREVISTA COM A ESCRITORA ANDRÉIA DE OLIVEIRA
Por Elenilson Nascimento
Sabe essas pessoas que você se bate um vez na vida e diz: “Essa aí vou colar”. Foi exatamente essa a impressão que eu tive quando conheci essa escritora num consultório de dentista. Hoje, tendo a poesia como pano de fundo, essa escritora baiana, economista de formação, pós-graduada em Metodologia do Ensino e Docência Superior, e que também já desempenhou diversas funções nas áreas financeira e empresarial, Andréia de Oliveira, faz igualmente uma competente incursão com excelentes crônicas publicadas no seu blog “Voos da Alma”, de onde tem escrito e reescrito diversos textos de conteudos críticos, para dar a conhecer a cultura de um povo que parece falar línguas completamente diferentes do que normalmente a grande mídia tem publicado.
Do signo de Leão com ascendente em Escorpião e lua em Aquário, essa baiana é magnética. Extrovertida. Contagiante. Já participou de diversas antologias, como “Poemas de Mil Compassos” da Coleção Literatura Clandestina (2009), onde participou com o poema que também deu nome ao seu blog. No mesmo ano foi selecionada para a “Voos da Alma”“Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos Nº 57”, pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores (CBJE), participando ainda do “Panorama Literário Brasileiro 2009” da mesma editora, que reuniu as melhores obras do ano. Ainda em 2009 foi premiada pela Academia de Letras do Recôncavo – ALER pelo seu poema “Dualidade”.
Andréia também já contribuiu diversas vezes aqui na LITERATURA CLANDESTINA com textos e entrevistas, como as que fez com o jornalista José Milbs, o artista plástico Marcus Baby e o ator e poeta Fernando Diamantino. Atualmente prepara o seu primeiro livro homônimo de poemas. Abaixo, confira um pouco mais dessa apaixonada pela vida e pela obra de Saramago e Fernando Pessoa.
Elenilson – Nesse cenário atual, a Bahia disputa no lado inverso do crescimento: bola fora, jogo parado. Tudo é mentira nessas propagandas do governo Wagner cheias de pessoas desdentadas e feias. Mas ainda esperamos mudanças na política cultural no estado, porém, do jeito que o barco navega, essa esperança se esmaece a cada dia quando se apresenta a falta de verbas para se investir na cultura e o processo de amadurecimento ainda dos novos gestores da política cultural baiana é de fazer chorar. Comenta.
Andréia de Oliveira – A situação da Bahia nesses tempos pré-eleitorais não diference muito do restante do País onde especulações, conchavos e alianças se formam, exceto pelo agravamento do caos em determinadas áreas, sobretudo na segurança pública onde o Estado assiste ao crescimento da violência em um patamar superior a de metrópoles como Rio de Janeiro e São Paulo. E, curiosamente, as perspectivas de mudança são depositadas em torno do retorno das tradicionais forças políticas que durante anos ocuparam o poder no Estado. A velha Bahia em suas novas ou velhas contradições? Peculiaridades da sociedade baiana que retratam de maneira singular as suas contradições e desigualdades. E, então, se observa que o mesmo Estado que se orgulha do título de melhor Carnaval do País é o mesmo lugar onde pessoas aparecem nas TVs, em pleno século XXI, exibindo gratidão pela água encanada ter chegado até as suas residências. Não há nada de novo sob o sol da Bahia. Faz parte do jogo de manutenção do poder a garantia de direitos básicos como se fossem benefícios ou privilégios únicos concedidos por esse ou aquele grupo político. São características inerentes ao próprio sistema do “pão e circo” que no nosso Estado ganha um dimensionamento único graças a atipicidade da cultural local. Atualmente, a lógica do lucro privado permeia as manifestações culturais do Estado que tem na indústria do Carnaval e nos astros da axé music o seu maior estandarte. E mesmo a despeito da existência de outras formas artísticas no Estado e em especial na cidade de Salvador, aos olhos das grandes massas e dos meios midiáticos, a cultura baiana universaliza-se em torno de temas ligados ao Carnaval. Diante desse contexto não vejo grandes perspectivas de estabelecimento de políticas que incentivem a diversidade cultural ou, até mesmo, tornem mais abrangentes e universais o acesso a produções artísticas de qualidade que se sobrevive há duras penas. Montou-se um complexo mecanismo de catarse das frustrações e insatisfações coletivas que permite a participação de todas as classes sociais: a elite do alto de seus camarotes ou nos blocos de luxos, os remediados nos blocos da classe C e o povão espremido fora das cordas como meros expectadores assistindo com prazer e satisfação a uma festa para qual não foram convidados.
Elenilson – Muitas vezes, nos seus textos, podemos perceber o seu engajamento, os seus pontos de vista, o que não é muito comum entre escritores e jornalistas atualmente. Principalmente numa cidade favelada e sem cultura como Salvador. Mas, o que você acha do privilégio com as políticas culturais de favorecimento para “alguns poucos artistas” que se construíram dessa forma? Um exemplo disso é uma artista consagrada como a Ivete Sangalo, que detêm de diversos patrocinadores privados para o seu bloco pessoal de Carnaval, que ainda participa de incentivos fiscais com a Lei Rouanet.
Andréia de Oliveira – Penso que a cultura das massas em tempos capitalistas não foge a lógica lucrativa cumulativa dos mercados, nem tampouco das relações de poder que se perpetuam na sociedade. Nessa perspectiva o patrocínio privado aos blocos de Carnaval não foge a regra, dada a imensa aceitabilidade de tais artistas junto ao público, o que garante a essas empresas um retorno seguro e imediato de seus investimentos. Contudo, é extremamente controverso imaginar que uma política governamental de incentivo a cultura possa beneficiar um bloco carnavalesco com fins lucrativos que afere altos rendimentos em sua atividade. Percebe-se assim a existência de certos equívocos, sobretudo no que tange a definição do que possa ser classificado como atividade cultural a ser incluída nesse rol de incentivos governamentais. Um dos objetivos fundamentais da Lei Rouanet seria a proteção das diferentes expressões culturais da sociedade brasileira, de modo que acredito que outros critérios devam ser estabelecidos no sentido de proporcionarem uma melhor distribuição desses recursos governamentais. No entanto, o que se observa é uma política restrita e seletiva sujeita aos mecanismos de seleção que favorece justamente as iniciativas tidas como culturais, mas que estão veiculadas ao sistema das grandes produções de massa, voltadas ao lucro. Dessa maneira, se percebe a omissão do Estado em relação ao investimento cultural uma vez que transfere essa incumbência a iniciativa privada funcionando apenas como intermediário por meio da concessão de benefícios fiscais para à empresas ou pessoas físicas que investem no segmento, mas sem grandes preocupações na maneira como esses recursos serão aplicados.
Elenilson – Falando em política, em tempos de governo militar nosso País sofreu com a censura, proibições e vários outros atos que nossos líderes diziam ser o melhor para todos. Hoje, uma comunidade é afetada pela decisão de “um único homem” que tem o poder de julgar e o dever de proteger. Ele “supostamente” quer nos proteger, disso não tenho dúvida! Mas, o que ele sabe sobre mim para achar que “o jogo” vai me afetar? O que ele sabe sobre “meus parceiros de equipe” para achar isso? Comenta.
Andréia de Oliveira – Cada sociedade estabelece esses critérios de censura em função dos interesses específicos de determinados grupos específicos que detém o poder. E a censura muito mais do que uma proteção propriamente torna-se um mecanismo de controle, repreensão e monitoramento. È claro que existem casos específicos que dizem respeito, por exemplo, a veiculação desse ou daquele conteúdo em função da faixa etária de seu público. Contudo, tomando como ponto de partida a própria liberdade de expressão das sociedades presentes amparado no livre arbitro humano, como creditar a essa ou aquela instituição a responsabilidade ou o poder de classificar o que pode ou não ser exibido? São questões complexas que envolvem códigos de conduta, valores morais e religiosos e que portanto não pode ser definido sem uma ampla discussão com todos os segmentos da sociedade. Entretanto o que se observa hoje é o favorecimento por meio dos canais legais de censura de segmentos representativos do poder econômico ou político. Justamente por isso, fica difícil acreditar na idoneidade ou imparcialidade dos veículos de imprensa quando na verdade, em determinados casos, são expressão das grandes corporações . Por isso vive-se um grande paradoxo na sociedade democrática erguida com base no valor supremo da liberdade quando o direito a critica mesmo que construtiva, ou a manifestação pessoal pode tornar-se alvo de canais legais de censura ou patrulhamentos ideológicos. Então é nítida a sensação de a liberdade por si só constitui um grande mito dentro da sociedade contemporânea.
Elenilson – Nunca antes nesse país nossa diplomacia esteve em mãos de tão ignóbil mensageiro da miséria total que nos assola. Como você analisa o governo Lula que, tudo indica, já acabou?
Andréia de Oliveira – Acredito que para uma grande parcela dos eleitores que votava no Lula por convicção política ou ideológica o seu governo acabou antes mesmo da vitória ou da posse, dada as alianças que se montaram em torno da sua candidatura. Quase conclusos dois mandatos do seu governo, assiste-se a repetição da velha fórmula, herdada de FHC: austeridade econômica e políticas sociais assistencialistas. Crescendo em pequenas taxas anuais, o produto interno bruto do País é incapaz de gerar riquezas suficientes para um combate efetivo à pobreza, o que justifica assim o aumento de verbas destinadas ao programa compensatório de renda, do Bolsa Família. Alguns segmentos acadêmicos defendem o Bolsa Família como instrumento de dinamização das economias das cidades mais pobres e distantes. Lembro também de ter assistindo em uma aula na pós-graduação, uma defensa dos aspectos sociológicos do “Bolsa Família”, ministrada pelo já falecido professor Gey Espinheira da UFBA que falou sobre a capacidade do programa governamental resgatar a dignidade e auto-estima da população mais pobre, a partir do momento que transformava marginalizados e excluídos em consumidores. Analisando sobre essa perspectiva os programas de transferência de renda tem sua importância, pois proporciona a essas pessoas alguma espécie de inserção social, contudo não se pode esquecer que eles devem ser utilizados se forma circunstancial amparado pelo empreendimento de reformas estruturais na área da educação e da economia, senão torna-se uma relação de clientelismo político, servindo a fins unicamente eleitoreiros. Entretanto, creio que a maior decepção oriunda do Governo Lula tenha sido as denúncias de corrupção, envolvendo parlamentares do PT, um partido que vendia sua imagem junto ao eleitoral apregoando a ética política. Fica realmente difícil votar por convicção ou por consciência diante de tal configuração política. Votei pela reeleição de Lula no 2º turno das eleições de 2006 diante da ausência de alternativa, justificada e quem sabe, pelo argumento do chamado “voto útil”. Agora, em 2010, dado as atuais configurações e a prevalência da política neoliberal na sociedade, eu creio que talvez a alternância do poder seja a melhor alternativa, diante das alternativas que a disputa democrática nos impõe.
Elenilson – A programação da TV brasileira é uma “merda” e recentemente um roteirista norte-americano chamado R. Mckee afirmou que o “futuro da narrativa audiovisual está na televisão”. Você concorda com isso? Se isso for verdadeiro, estamos todos perdidos. Comenta.
Andréia de Oliveira – Embora as produções cinematográficas também estejam inseridas no contexto lucrativo da indústria cultural, creio que a linguagem do cinema apresenta maiores possibilidades de uma abordagem mais densa, complexa, lúdica dos temas. Não sem razão inúmeras obras cinematográficas são clássicos atemporais capazes de retratarem determinadas culturas ou períodos históricos em suas sutilezas e particularidades. Na televisão, entretanto, comumente as narrativas são abordados de forma rápida e banal, levada que são pelos modismos ou pelo senso comercial, destinando-se dessa maneira a pura diversão e ao entretenimento. Por essas razões é o meio por excelência da disseminação da cultura das massas, traduzindo em determinadas ocasiões com perfeição a superficialidade dos tempos presentes. Acredito que seria assim, nos moldes de sua configuração atual, um grande retrocesso cultural considerá-la como modelo ideal da linguagem audiovisual.
Andréia de Oliveira – Faz parte da cultura das novas gerações a valorização excessiva das formas e dos recursos audiovisuais nos moldes das produções cinematográficas hollywoodianas, de modo que as produções americanas tendem a ter maior aceitabilidade aos olhos desse público do que as nacionais mesmo a despeito da existência de um cineasta premiado e reconhecido mundialmente como o Glauber Rocha. Talvez faltem referenciais culturais para que se compreenda o discurso político e social, carregado de elementos de regionais do filme o “Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro” que estabelece as reais relações de poder estabelecidas na sociedade brasileira, de modo que a lutas contra as injustiças travadas por Wolverine do filme “X-Men”, sejam bem mais atrativas do que as do pistoleiro de aluguel Antonio das Mortes, um personagem denso e contraditório que encerra com perfeição a própria dicotomia entre o bem e o mal. A obra de Glauber Rocha apresenta característica peculiares, apresentando o lúdico em confronto com o caos, em uma contextualização nitidamente brasileira. Mas, infelizmente, na grande debilidade e alienação que se abateu na juventude brasileira, que se porta cada vez mais acéfala, demonstrando desinteresse por qualquer ou desvinculação por qualquer causa popular ou assunto mais complexo, uma importante representante da cultura nacional passa despercebido.
Elenilson – Eu sempre achei o sistema educacional brasileiro medíocre. Desde a minha época de estudante de colégio público até os bancos universitários da vida com pós “pra lugar algum” me questiono o que fui fazer por lá. Nunca me senti a vontade em salas de aula, sempre considerei os piores lugares para se aprender qualquer coisa – tanto como aluno e um pouco mais tarde (infelizmente) como professor. Acho “tudo” que me foi “jogado” guela abaixo de uma inutilidade enfadonha. Esse quadro parece um pouco anedótico, mas é muito mais comum do que os “especialistas no assunto” acreditam. Hoje, a única coisa boa que poderia me acontecer era poder ir trabalhar com “qualquer coisa” em algum país bem longe dessa mesmice de lugar nenhum. O que você pensa sobre o ensino no Brasil ser péssimo, além de está formando uma geração de despreparados, com professores alienados e incompetentes?
Andréia de Oliveira – O modelo de educação adotado no Brasil reflete de imediato as próprias mazelas da sociedade, seja nas áreas social, econômica, política ou cultural traduzindo sem sombra dúvida os objetivos que todo o País pretende atingir enquanto nação. Muito se fala sobre as perspectivas de projeção do Brasil no cenário internacional a partir do surgimento de uma nova potência mundial em solo nacional. Contudo, a história recente das superpotências aponta que o fator humano é uma peça fundamental para que se alcancem níveis elevados de desenvolvimento. Como acreditar no potencial de nossos fatores humanos, sem o implemento de uma política educacional competente instituída com o objetivo de erradicar o nosso atraso cultural, econômico ou social? Estaríamos formando uma geração de jovens, candidatos a alcançam os posto de primeiro mundo em nossas escolas sucateadas, com professores ignorantes, pobres e maus remunerados ensinando o que nem sequer aprenderam direito? E o que dizer desse mesmo país dos semi-alfabetizados ou analfabetos funcionais que consegue até mesmo implantar uma estrutura educacional de qualidade em determinados pólos, mas apenas acessível a um grupo seleto de privilegiados? Infelizmente o retrato da educação, hoje, no País espelha as contradições dos “diversos brasis”, em sua desigualdade social, injustiça e péssima distribuição de renda. Nada surpreendente, afinal a ignorância alimenta o círculo vicioso da inércia, da incompetência e da apatia política, perpetuando assim os mecanismos de poder dentro de uma sociedade.
Andréia de Oliveira – É certo que a linguagem é algo dinâmico que não se encerra nos vocábulos contidos dos livros e dicionários, pois acompanha a própria mutação das relações desenvolvida dentro da sociedade. Dessa maneira, acompanha-se a criação de termos específicos relativo ao próprio meio de comunicação e cultura, representado pela rede mundial de computadores. Porém, vejo que esses “novos” dialetos da era cibernética não deixam de representar algum tipo de ameaça a linguagem como forma constituída de expressão do pensamento humano. Alguns tipos de variações, relacionados a abreviações de palavras são aceitáveis a partir do momento que permite maior agilidade a comunicação. Entretanto, existe uma tendência exagerada na modificação de palavras que comprometem a norma culta da gramática, o que pode afetar, sobretudo, a alfabetização das novas gerações que precocemente já tem acesso a rede, comprometendo ainda a sua capacidade de interpretação da linguagem escrita no futuro. Outro fator importante a ser levando em consideração quando se analisar as novas formas de expressões da internet seria justamente essa tendência de simplificar, sintetizar, tornando a comunicação e consequente o seu conteúdo por vezes superficial e fútil. Nesse contexto, cito novas redes de relacionamento, como o Twitter com os seus restritos 140 caracteres que parece ser uma nova tendência na comunicação humana, contudo, sendo a linguagem o produto final do pensamento humano que consequências teriam a simplificação do seu meio de expressão? Como seriam estabelecidas as estruturas internas da linguagem e o processo de cognição humana? O que me parece é que existe uma tendência não só de economia de palavras, mas da própria restrição do pensamento humano, que possui cada vez um cunho universal, não aberto a reflexões, a relativismos ou a análises mais complexas e detalhadas.
Elenilson – Eu digo e repito: a educação nesse país de “bagaça” não existe! Enquanto na Bahia, alunos da rede estadual de ensino ficam praticamente sem aulas em razão de paralisações de professores, falta de equipamentos adequados, professores cada vez mais medíocres e desatualizados, ainda temos a tal "enturmação" proposta por esse governo de “bagaça”. Agora ninguém procurou saber o motivo de poucos alunos nas escolas. Pra que estudar? Num país imbecilizado como o nosso, o estudo se tornou a última opção na lista de prioridades dos jovens. Gastar dinheiro para terminar os estudos pra que se a grande maioria prefere investir no “pagodão” do “Todo Enfiado” - aquele mesmo que teve uma performance erótica na Web protagonizada por quem? Por uma professora! Ou então, ser um Léo “Rebolation” que pode comprar carrão e ter apartamento em bairro nobre do que se tornar um jornalista pensante ou um cidadão consciente. Você tem esperança de um dia sairmos do buraco?
Andréia de Oliveira – Difícil ter uma resposta objetiva e clara para essa pergunta, afinal a esperança é algo abstrato, inerente a essência humana, capaz de sobreviver mesmo em situações adversas. Contudo, não acredito no que possa estar associado aos modelos previamente estabelecidos, entre eles o mito de redenção por meio da educação difundido nessa sociedade contemporânea. A educação é falha, deficitária, incompleta e destina-se unicamente a formar jovens para um mercado de trabalho e que se porta cada vez mais restrito e seletivo, dando a tônica da crise do capitalismo presente em sua incapacidade de absorção da mão de obra. Então, se percebe que a crise na educação é apenas a ponta de iceberg de uma desagregação estrutural que abrange toda a sociedade. Diariamente as pessoas são bombardeadas por mensagens características do sonho americano que imputa a si próprias as responsabilidades em assumir a sua vitória ou derrota. Ser um vencedor na sociedade atual implica na conquista do sucesso financeiro, na capacidade de aquisição de bens de luxo e na obtenção da imagem perfeita, a mais bonita e a mais jovem possível. E como conseguir isso, dado a desvalorização dos profissionais de nível superior que se formam em número crescente a cada ano? O grande diferencial para a grande maioria dos jovens estaria justamente nos artistas da televisão, nos cantores e cantoras, nas modelos e nos jogadores de futebol e outros a quem cabem os holofotes da mídia e as contas bancárias milionárias. Creio que o problema em si não está na crise da educação, pois esta é somente um reflexo da escala de valores vigente na sociedade. E como reverter esse quadro? Sinceramente a luz que vislumbro advém do novo paradigma vindouro, denominado de ecológico profundo, tal como defendido por nomes por Capra e Boff. O modelo atual de sociedade baseado nos preceitos cartesianos e racionais privilegia o desenvolvimento da consciência do individual em detrimento do coletivo, tal qual preconiza as divisões dos ramos das ciências quando na verdade o conhecimento é um todo. Dessa maneira a noção de homem prevalece ante ao conceito de humanidade e todos se sentem como peças isoladas dispostos a conquistarem seu lugar ao sol a qualquer custo, dando vazão ao egoísmo, ao individualismo e a competição. Como uma sociedade pode-se desenvolver como um todo quando na verdade o que se sobrepõe é um projeto individual de homem? Antes, entretanto, de se lançar à causas coletivas quaisquer é necessário que se promova um reestruturação interna no sentido de promoção do sentimento de comunhão e conexão com o todo, meio ambiente, sociedade, planeta, para que se entenda a dimensão dos termos compartilhar, dividir, agregar. Esse é um processo longo e evolutivo que não pode ser obtido por meio de revoluções, de modo que um novo modelo de sociedade é ainda apenas uma possibilidade um tanto quanto utópica.
Elenilson – Mas, segundo a SEC, essa iniciativa de "enturmação" nas escolas visa suprir a falta de professores (*como se a SEC faz “zilhões” de concursos e não convoca ninguém?!) e evitar a evasão dos alunos. Até parece que os alunos só querem mais professores dando “aulas sobre o nada” todos os dias. Mas, de acordo com o sindicato, a medida causa transtornos nas unidades escolares, desestabilizando os já desestabilizados professores e alunos. Resultados assim, levados no chicote, são danosos. Tantos os professores não conseguem repassar “no facão” os assuntos, como os estudantes não assimilam essas aulas “sobre o nada”. Mas como agora ninguém pode ser reprovado... Como você encara essas questões da educação ser forjada para preenchimento de listas para o governo? Você como escritora, ser pensante e que tem o poder da palavra, pode comprar briga com essas questões?
Andréia de Oliveira – Parece-me um retrocesso em termos pedagógicos essa iniciativa da “enturmação”, visto que a aprendizagem é bem mais eficiente em salas com números reduzidos, pois é possível ao professor acompanhar diretamente o desempenho individual de cada aluno. Contudo, em se tratando de rede pública de ensino, todas as justificativas e métodos serão utilizados com propostas como essa que apenas mascararam a deficiência estrutural de todo o sistema que nesse caso se espelham na carência de professores. A educação não pode ser tratada como um simples empreendimento empresarial onde é preciso realocar recursos com vistas à redução de custos. Percebe-se, dessa maneira, como a educação, velha retórica dos discursos políticos que se transformam em peças em listas de estatísticas que em vão tentam demonstrar a melhoria de indicativos sociais.
Elenilson – Para você, o que seria “A Superficialidade do Brasil Profundo” (*de Malu Fontes), além dos projetos mais “ambiciosos” do jornalismo da Rede Globo com a inútil “Caravana do Jornal Nacional”, programas como “BBB”, “Pânico da TV”, “Balanço Geral” ou esses programas populares com sangue e mortes que tanto fazem sucesso nas TVs locais e que muitos colegas seus chamaram de série “desejos do Brasil”? Ou então, a expectativa para a Copa do Mundo de não sei quando aqui na Bahia com o Galvão Bueno berrando na TV?
Andréia de Oliveira – Não restam dúvidas de que a mídia hoje constitui uma espécie de poder não institucionalizado capaz de influenciar a opinião pública em função de ideologias, crenças ou padrões de comportamentos, expressando algumas vezes o interesse de grupos específicos. Tais influências ultrapassam em muito o campo dos modismos, motivando em determinados momentos mobilizações populares, a exemplo das manifestações a favor do impeachment do Collor, ocorrida na década de 90. Nesse leque das grandes comoções nacionais cita-se recentemente o julgamento do “Caso Isabela Nardoni”, quando uma multidão aglomerou-se na frente do Tribunal motivados pelo que muitos setores da mídia denominaram de “sentimento de se vê a justiça sendo realizada”. Curioso que, dias depois, ocorreu outro julgamento envolvendo o assassinato da missionária Dorothy Stang que não obteve a mesma comoção, nem o mesmo destaque, embora estivesse relacionado a uma causa de interesse coletivo que poderia afetar diretamente milhares de pessoas. Assim, percebe-se que as grandes causas, defendidas pelos meios de comunicação na atualidade são fúteis e superficiais, incapazes de provocar qualquer alteração na consciência coletiva, pois diz respeito a interesses imediatistas. Dentro dessas perspectivas encerram-se programas do formato “a realidade nua e crua”, que com o objetivo de informar a população sobre a violência apenas contribuem para alimentar os canais de histeria e do medo, trazendo a banalização da atrocidade e da barbárie como algo comum e até mesmo aceitável. Qualquer tentativa de discussão séria do fenômeno da violência dentro de uma sociedade deve estar acompanhada de discussões sobre motivações ou causas apresentada dentro de uma contextualização própria. No entanto, esses programas limitam-se a exibir as consequências da violência com seus cadáveres, feridos ou vítimas no velho estilo dos apelos sensacionalistas, o que conduz inevitavelmente a uma espécie de desejo distorcido de justiça que por vezes pode confundir-se com a ideia vingança. Se existe ou não alguma intencionalidade de fomentar a ignorância, a alienação e a inércia por meio de programas como esses ou se apenas estão inseridos dentro do quadro de desagregação e deterioração dos valores morais da sociedade, não se sabe ao certo, mas o fato é que cada vez mais a televisão brasileira, em sua linguagem rápida, apelativa e popular, prima por apresentar diagnósticos superficiais, abordagens imediatista para problemas complexos. Não sem razão quase tudo o que é apresentado espelha uma realidade falha e corrompida, focando-se os extremos de comportamentos humanos gerando quase sempre uma visão estereotipada, tida e eleita como valor universal, seja para o bem ou para o mal. E talvez seja isso mesmo a razão do sucesso de programas do formato “reality show”. O sonho da realidade perfeita alimentados por jovens bonitos e sedutores, representantes do símbolo máximo dos vencedores dentro de um sistema, cada vez mais seletivo, restrito e selvagem.
Elenilson – No divertidíssimo livro “Nova York é Aqui”, o Nelson Motta escreveu um comentário sobre o livro “The Kiss” da romancista Kathryn Harrison que narrou sua trágica e dolorosa relação amorosa e sexual com o seu próprio pai, dos 20 aos 24 anos. Esse livro de Harrison provocou escândalo e polêmica e teve críticas arrasadoras e elogiosas. Segundo Motta, não foi só a polêmica sobre o conteúdo do livro que impulsionou as vendas, mas a sua autora que, hoje com 50 anos, mesmo com uma respeitável carreira acadêmica e literária é ainda uma belíssima mulher, loura, naturalmente. O texto de Motta diz que foi por causa disso (*dela ser linda) que acabou desfrutando de espaço privilegiado nos jornais, revistas e nos talk-shows das TVs. Será que para se promover um livro o autor tem que ser “midiagênico”, isto é, que fotografe bem, fale bem, que entenda sobre tudo, que iluda – como Hollywood. Motta termina o texto como uma pergunta: “se essa autora fosse uma “mocréia afro-americana de óculos fundo-de-garrafa” toda essa promoção teria acontecido? Então, eu queria que você analisasse isso, pois parece que ele está absolutamente certo. Prova disso é o sucesso editorial da Bruna Sufistinha.
Andréia de Oliveira – O culto ao belo faz parte da história das civilizações humanas, estando presente em outras épocas e civilizações, a exemplo da grega quando o conceito estava mais associado a ideia da perfeição relativa ao equilibro entre todas as dimensões do ser. Contudo, nesses tempos presentes, a definição de beleza foge a esfera dos atributos naturais sejam eles em mentes ou corpos, tornando-se um ideal ou até mesmo uma obrigação a ser alcançada por todos como uma espécie de atestado de participação do mundo dos vencedores. Não sem razão a mídia exibe exaustivamente as imagens perfeitas dos cantores, cantoras, atores, atrizes, apresentadores de TV, revelando assim implicitamente um dos requisitos fundamentais para a obtenção do sucesso. E como esse padrão de beleza eleito pela sociedade como o ideal é dificilmente obtido sem não pelo uso de recursos artificiais, observa-se o crescimento de toda uma indústria voltada para esse fim. Por essas razões fica difícil, eu diria quase impossível o reconhecimento de um artista que não atenda a esses pré-requisitos básicos de estética, estimulado e fomentado pela mídia e pelos mercados. Isso pode afetar inclusive artistas cujo objeto de expressão não estar relacionado diretamente a forma física, a exemplo de escritores.
Elenilson – Eu acredito que os jornalistas brasileiros – formadores de opinião – se dobraram a ditadura do “politicamente correto”. Eles se omitem diante das crises desse governo Lula que ajudaram a eleger, além do que, o senhor Lula só não sofreu um impeachment até agora por incompetência da oposição. Você acha que os “formadores de opinião” costumam agir em bando? Será que eles só querem sempre ser “bonzinhos”, “de esquerda”, “do bem” – e, muitas vezes, nem refletem sobre o que estão dizendo?
Andréia de Oliveira – Não posso afirmar se realmente existe um movimento articulado no seio dos formadores de opinião do País, mas observo uma tendência à uniformização de pensamentos e ideias, de conduta e uma certa repulsa a críticas que contradizem os ditames do senso comum. Nesse contexto, certamente a ditadura do “politicamente correto” pode ser utilizada como ilustração clara dessa tendência de se recorrer a discursos previamente elaborados ao invés de fazer uso da crítica, da analise ou da contextualização que cada situação requer. É incrível verificar que conceito como “esquerda” possam ainda ser empregados por alguns segmentos quando as diretrizes de um política nitidamente neoliberal predomina no governo. Concordo, assim, que a falta de postura crítica ou de autonomia por parte de alguns segmentos da imprensa seja um grande entrave para que se possa contribuir de maneira efetiva para a de transparência de gestão do setor público ou para o fortalecimento das instituições democráticas do País. Contudo, em se tratando de um possível impeachment do presidente Lula, é certo que a grande popularidade do presidente, o apoio de setores empresarias e da classe política, mesmo a despeito das denúncias de corrupção no governo, contribui em muito para a continuidade e manutenção de seu mandato.
Elenilson – Quando o coordenador do curso de medicina da UFBA, Antônio Natalino, justificou o baixo rendimento dos alunos no Enade como consequência do “baixo Q.I. dos baianos” poucos enxergaram a ironia e um alerta na sua declaração (*pedante talvez, mas inteligente), pois vivemos numa sociedade onde as pessoas são incapazes e ler e escreve, que se perdem em falsos valores, idolatram “mulheres-frutas” e só confiam cegamente em suas calculadoras digitais para calcular 2 + 2 pela incapacidade de formulação de um pensamento lógico. Aí pegam o Natalino e o jogam como o pior inimigo da Bahia. O que você acha dessa hipocrisia do “sou baiano até morrer”?
Andréia de Oliveira – Deprimente. Poderia ser escrito também da seguinte forma: “Bahia, ame-a ou deixe-a” em uma nova reedição do velho slogan ufanista, utilizando com fins manipulador pelo regime militar. O bairrismo ou patriotismo já causou bastante danos a humanidade em outros tempos. E parece que uma parte considerável dos baianos, em especial dos soteropolitanos, vivem em um eterno êxtase e alegria, ensurdecidos pelos batuques do Carnaval, afônicos de tantos gritarem os hits do axé, ou ainda cansados da estonteante coreografia momesca para avaliarem o alcance de uma crítica por mais construtiva que seja. É óbvio que não se pode avaliar o fracasso ou sucesso educacional de um povo em função de seu quoficiente de inteligência e nem tampouco esse tem qualquer relação com raça, etnia ou estado. Contudo, ao lado dessa declaração do professor existem inúmeros outros fatores, tais como os péssimos indicadores sociais que atestaria a nossa decadência ou o fracasso educacional que devem em consideração. A Bahia tem uma das piores colocações no ranking nacional dos Estados com os maiores índices de analfabetos e ainda amarga um baixíssimo IDH em um claro sinal da desigualdade na distribuição de renda. E falando em deseducação dos baianos, recentemente uma pesquisa realizada por um programa da Globo colocou Salvador, dentre as grandes capitais brasileiras, como a campeã da sujeira urbana, destacando-se o salutar hábito da nossa população em depositar o lixo no chão, fora das lixeiras. Mas estaria tudo bem para um povo que se sente feliz em ser reconhecido em rede nacional unicamente em função de sua capacidade impar de mexer a pélvis e sentem-se abençoando por todos os santos, pelo Senhor do Bonfim, por Oxalá ou por Jesus Cristo por viverem nesse paraíso tropical. Por inércia, arrogância ou apatia enxergam o problema justamente em quem insiste em não querer enxergar o sol que “supostamente” sempre brilhar nessa terra.
Elenilson – No ensino superior há um círculo vicioso e arrogante. Os livros, por exemplo, têm tiragens limitadas, são caros e enormes. As bibliotecas são precárias e por tais razões, esses livros sendo caros, poucos compram. Você acha que essas coisas são as principais causas da mediocridade dos acervos nas universidades e consequentemente no ensino universitário?
Andréia de Oliveira – Em termos sim, mas acredito que a precariedade dos acervos das bibliotecas universitárias refletem a inexistência do hábito de leitura entre estudantes que desdobra na utilização de apostilas, módulos, resumos ou anotações como fonte de estudo, até mesmo no ensino superior. Isso reflete ainda a escala de valores que a própria sociedade atribui ao ensino acadêmico, cada vez mais restrito a objetivos imediatistas ou mercadológicos e não necessariamente ao objetivo de formação de cidadãos críticos e conscientes, que teria na utilização de bons livros um grande aliado. È um círculo vicioso, mas que se alimenta pela ineficiência do sistema educacional, pelo baixo investimento na educação e por uma questão de prioridades eleitas pelos próprios alunos dentro do ensino superior. Se por um lado a produção é pequena, encarecendo os custos, em contrapartida não se observa de um modo geral o gosto pela leitura.
Elenilson – Hoje se compra na internet, baratinho, músicas e filmes. Porque não se podem comprar, também baratinho, capítulos de livros bons?
Andréia de Oliveira – Por uma questão de mercado.
Elenilson – O que você está achando desses “representantes do povo” na Câmara dos Deputados, por exemplo, onde temos até Leo Kret, a "danada", com uma vaguinha e, na mais absoluta falta do que fazer quer homenagear Michael Jackson no Pelourinho?
Andréia de Oliveira – Como diz aquele velho chavão: “Cada povo tem o governo que merece”, então as Câmaras Legislativas nada mais são do que um perfeito retrato dos eleitores, podendo ilustrar o perfil do povo brasileiro em todas as suas dimensões. Então, nada mais “normal “do que a eleição de alguém veiculado ao tipo de manifestação cultural que assola o Estado da Bahia, em especial a capital, dado a total identificação dos eleitores com essa representante, dançarina de um grupo de pagode. O fato hoje é que a política é um fenômeno cada vez mais midiático, veiculando-se inevitavelmente o apreço da população em relação aos candidatos em função da imagem ou de fatores circunstâncias e não necessariamente a plataformas políticas. Em se tratando de representantes legislativos essa realidade é ainda mais evidente, uma vez que boa parte dos eleitores não tem por hábito acompanhar o desempenho de seu parlamentar, pois certamente nem sequer se lembram em que votaram nas últimas eleições. Não acredito assim que esse fenômeno esteja relacionado a qualquer espécie de protesto dos eleitores, desiludidos com as antigas formas de se fazer política, pois fica nítido que cada vez mais se forma entre os eleitores a apatia, falta de consciência crítica ou a total ignorância sobre os processos políticos. E, assim, assisti-se nas Câmeras e Assembleias Legislativas do País, exemplos outros de mau uso das verbas públicas, desperdício de tempo em discussões infrutíferas ou projetos mirabolantes e desnecessários que não estão relacionados a urgências e necessidades da população como esse de conceder honrarias a Michael Jackson.
Elenilson – Eu adoro uma frase que a Malu Fontes disse uma vez: “Suponho que essas supostas realidades venham a derreter-se debaixo dos seus pés”. Então, eu pergunto a você: o que você achou das declarações do Lula dizendo abertamente que “o que o PT fez do ponto de vista eleitoral é o que é feito no Brasil sistematicamente” e ainda afirmar que “uso do caixa dois faz parte do folclore político do país”? Você acha que isso é admitir culpa sem ter um mínimo de peso na consciência, o que certamente, junto com o caráter, a vergonha, o respeito pela dignidade do povo, é uma tremenda falta de respeito pelos votos dos eleitores?
Andréia de Oliveira – Faz parte do processo de amadurecimento, seja pessoal ou ideológico a mudança de posicionamentos ou de atitudes, entretanto existe uma linha bastante nítida entre o que seria alguma espécie de adaptação ou concessão por convicção ou necessidade e aquela que se manifesta unicamente por conveniência. Lamentável, mas o PT construiu sua imagem em cima do lema da ética, propondo um jeito novo de fazer política e agora deparamos com uma situação de ratificação dos males e erros do sistema. O sistema venceu e agora só resta render-se a ele? O poder realmente corrompe e destrói todas as convicções morais? Parece que a história das grandes revoluções e lutas populares confirma essas prerrogativas de forma inexorável quando se observa a negação daquilo se pregava assim que o poder é conquistando, tal como ocorreu na Revolução Francesa, nas Revoluções Comunistas, entre outras. E então, o cidadão comum, aquele que depositou seu voto nas urnas durante anos, motivados por ideias éticos, percebe o quanto cada vez a política é um território da inconstância, do absurdo, do desrespeito e um lugar que dificilmente enseja qualquer perspectiva de mudanças.
Elenilson – Muitas vezes acho que eu seria muito mais feliz se não conseguisse enxergar certas coisas, se gostasse de descer na “boca da garrafa” e amasse pular atrás de um trio elétrico em micaretas nos cafundós. Você já se sentiu assim também?
Andréia de Oliveira – Sim (risos). Por vezes sinto-me como um vírus ou uma aberração dentro do sistema operacional que controla a realidade e dirige o senso comum a determinados padrões ou condutas de comportamento. Não me restam dúvidas de que existem mecanismos utilizados com o objetivo de proporcionar a catarse dos anseios, angústias e desejos coletivos por meio de elementos anestesiantes e alienantes. Mas essa não é uma característica única da sociedade baiana ou da contemporânea, estando presente em outros tempos, seja por meio da religião, do esporte, das diversões ou de todos outros meios capazes de provocar a demência ou a apatia para importantes questões existenciais, políticas ou sociais. Acho curioso como as pessoas assumem seus papeis familiares ou sociais, criando fantasia ou artifícios outros para preencherem suas vidas vazias pela ignorância de não saberem que são de fato, ou pela falta de objetivos relevantes. Entretanto, não sou uma pessoa avessa ao contato social, nem acredito fazer parte de um grupo especial, como poderiam pensar alguns pseudo-sábios da atualidade. Muito pelo contrário, o conhecimento pode ser - determinadas vezes - um grande fardo e a grande questão seria saber como utilizá-lo em benefício próprio e dos outros. Mas, feliz ou infelizmente, é um caminho sem volta e hoje percebo que a grande chave para um convívio harmonioso, com tudo o que nos incomoda e nos causar indignação, seria conseguir viver no mundo, sem está no mundo, com apregoa os preceitos das filosofias orientais. È claro que é preciso contribuir de certa forma para a elevação na consciência coletiva da humanidade, de modo a tentar transmitir o conhecimento, mas quaisquer esforços ligados a revoluções ou imposições autoritárias de verdades soariam inúteis ou inoportunas, pois a maioria das pessoas sente-se felizes por serem como são ou por estarem onde estão. Penso então haver importantes meios de expressão, tais como os canais artísticos entre eles a literatura e até mesmo veículos como blogs, a partir do momento que proporciona uma interatividade com pessoas que compartilha um pouco de suas ideias, aliviando essa angústia a que você se refere.
Elenilson – Uma coisa muito interessante com relação a professores é que eles “adoram” dizer que “amam” Marx, Paulo Freire e por aí vai. Muitas vezes não se deram nem ao trabalho de ler uma única página, mas amam assim mesmo. Como também foi colocado na Veja (*e olha que eu não gosto dessa revista): “...é embaraçoso que o marxismo sobreviva apenas em Cuba, na Coréia do Norte e nas salas de aulas brasileiras”. Repeti “frases de pára-choque de caminhão” aprendidas nas universidades é muito mais fácil do que “estudar de verdade” e “ler de verdade” grandes autores. Por isso, conversar com muitos professores é uma das experiências mais ridículas para mim, pois é numa reunião de coordenação onde se manifesta a ignorância e o pedantismo. Então, qual seria o verdadeiro exercício “intelectual” entre esses “intelectuais” de quadro e giz?
Andréia de Oliveira – A repetição de ideologias que os professores aprendem, não por desenvolvimento crítico ou autonomia de ideias, é totalmente por osmose ou até mesmo processo de aculturação. Durante muito tempo o mundo era um lugar ideologicamente seguro, onde se podia estabelecer uma clara divisão entre o bem ou o mal, representado pela dicotomia entre comunistas e capitalistas. E, justamente essas ideologias de orientação marxista eram difundidas, sobretudo no meio intelectual como caminho válido para a instituição de um modelo ideal de sociedade. Contudo, talvez por conta de uma espécie de incapacidade de assimilação das mudanças, resquícios desse pensamento ainda permeiam a discussão de alguns setores tidos pensantes da sociedade no País, vive-se em uma realidade anterior a queda do Muro de Berlim. Mas outros fatores podem ser levados em consideração na justificativa desse nosso atraso ideológico. Saímos de uma ditadura militar em meados da década de 80, mas somente elegemos diretamente no início dos anos 90 e demorou-se mais de uma década para que um líder pretensamente representante das camadas populares chega-se ao poder. Nada surpreendente então que o do marxismo ainda sobreviva em um claro atestado das dificuldades de elaboração de uma ideologia autônoma, atenta a realidade nacional e não espelhada em modelos desenvolvidos em outros países. Nessa perspectiva da importação de ideologia, insere-se a ditadura do “politicamente correto” e todos os seus desdobramentos tidos como sinônimos do pensamento de vanguarda, ou ainda como solução para os males e desigualdades sociais. Percebe-se, assim, de certa forma, o que seria as consequências do próprio processo de colonização cultural do país que se reflete na incapacidade das teorias saírem do papel e serem efetivadas na prática.
Elenilson – Vivemos tempos tenebrosos e para você qual a importância das ideias de Paulo Freire nos dias de hoje, visto que ele foi um esquerdista disfarçado de professor?
Andréia de Oliveira – Paulo Freire foi um grande teórico que estabeleceu uma linha que permite o desenvolvimento de uma educação mais integral e completa. Embora a Pedagogia da Libertação tenha traços nitidamente esquerdistas, penso que a sua esfera de abrangência ultrapassa a ideologia apregoada pelos marxistas, uma vez que propõe a libertação das camadas mais pobres por meio da formação da consciência crítica, capacitando-as assim para um posicionamento mais atuante frente à realidade que os cercam. Independente de qualquer espécie de veiculação partidária ou ideológica certamente teríamos um quadro de menor alienação e ignorância, caso as propostas de Freire fossem empregadas. Entretanto, como o próprio Paulo Freire definiu em seus preceitos, o modelo de educação vigente em qualquer época está condicionada ao próprio sistema social adotado. Logo seria inconcebível a adoção da Pedagogia da Libertação em uma sociedade de classes como a nossa desigual e injusta onde os interesses econômicos sobrepõem-se ao interesse coletivo. Mas, de qualquer forma, Paulo Freire não deixa de ser um importante referencial dentro dos estudos sociais, pois permite importantes reflexões em torno de um projeto ideal de educação.
Elenilson – Conheço muitos professores universitários da UCSAL e da UNEB e não acredito que a maioria deles, com o seu baixo preparo intelectual (*falo isso porque muitos “trabalhos de equipe” de alunos eram bem mais interessantes que as aulas desses professores) tenham condições de oferecer ao alunado uma abordagem multifacetada daquilo que eles próprios se propuseram a ensinar. Você acha SINSERAMENTE que as universidades estão formando pensadores de quê?
Andréia de Oliveira – A Lei de Diretrizes Básicas da Educação estabelece como finalidades do ensino superior, entre outras, o estimulo ao pensamento reflexivo, o fomento à pesquisa científica e a capacitação para o mercado de trabalho, sinalizando o que poderia ser a formação de um cidadão crítico e atuante capaz de intervir na realidade do País, contribuindo para o seu desenvolvimento. Observa-se que nem mesmo as demandas do mercado de trabalho da sociedade brasileira estariam sendo plenamente atendidas dada a carência de profissionais qualificados, sobretudo nas áreas tecnológicas, uma necessidade mínima a ser cumprido em uma economia em desenvolvimento como a nossa. Existe assim uma nítida ausência de planejamento em políticas destinadas ao ensino superior, seja no direcionamento dos cursos, nas grades curriculares ou na formação dos professores que se limitam a reproduzirem um conteúdo defasado, não por culpa unicamente deles, mas por uma deficiência estrutural de todo o sistema. Entretanto, com relação às possibilidades de abordagens multifacetárias que envolveria a multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade, creio o problema não se refere unicamente ao baixo preparo intelectual dos professores, mas também às resistências em romper a ideia de fragmentação dos ramos do saber que durante muito tempo orientou os paradigmas científicos. Atualmente é cada vez maior a convicção de que o conhecimento é um todo indivisível que não se encerra em unidades separadas, daí então a necessidade de se estabelecer as conexões com outras áreas do saber ou que se recorram a referenciais múltiplos no estudo de um fenômeno. Não resta dúvida que uma formação cultural incompleta ou a inexistência de referenciais em outras áreas do conhecimento que não sejam necessariamente a da formação do professor dificulta e muito as abordagens múltiplas ou mais complexas. Acredito que esses elementos limitem a formação de pensadores dentro do ensino superior o que o conduz a uma configuração cada vez mais burocrática e superficial.
Elenilson – No Brasil, os livros se transformaram em moeda de rápida circulação. As editoras criam novidades a cada mês para alimentar sua própria sobrevivência. Raramente relançam seus livros essenciais, que parecem não vender. Estaria neste fato à origem do surgimento de escritores como Chico Buarque, Paulo “imortal” Coelho, Dan Brown, Jô Soares (*os livros do cara são péssimos) e por aí vai a lista? Esses “caras” devem permanecer na história como excelentes autores ou como excelentes produtos? Realmente eles são moedas rápidas e seguras?
Andréia de Oliveira – A lógica do mercado editorial impõe a necessidade do lançamento de livros que tenham saída garantida, o que justificaria a facilidade de publicação de nomes consagrados pelos públicos no meio artístico. Tudo é imediato e rápido e não existe necessariamente um compromisso com a qualidade, mas com perspectivas momentâneas de vendagem. Infelizmente, a literatura hoje está inserida dentro do contexto da economia de mercado, o que dificulta a inserção dos novos talentos anônimos que surgem. Contudo, acredito que o sucesso do Paulo Coelho e do Dan Brown podem ser analisado em função do crescimento do interesse por temas relacionados à espiritualidade e ao autoconhecimento, embora tais obras nem sempre apresentem uma abordagem mais profunda e complexa sobre o assunto e existam algumas diferenças básicas entre esses dois autores. Enquanto Paulo Coelho aproxima-se da linha da auto-ajuda, Dan Brown desenvolve um tema mais novelesco, utilizando elementos de suspense e mistério, bem aos moldes da teoria da conspiração, tendo como pano de fundo os temas relacionados ao ocultismo e ao esoterismo. È fato assim que há um público específico para tais obras, mas o que me incomoda profundamente seria a abordagem superficial, que leva a banalização de temas complexos, tais como são retratados nessas obras. Contudo, pode ser um movimento generalizado na sociedade presente e nem mesmo a literatura estaria livre do superficialismo e do imediatismo.
Elenilson – A idolatria da mediocridade, tão comum nestes tempos petistas, merece e deve ser respeitada, pois, por exemplo, um sistema de cotas como da UFBA sem um prévio programa de reforço nas escolas públicas sé serviram para elevar o fosso intelectual que separa esses estudantes dos privilegiados (*a UFBA ainda é uma universidade para ricos e os poucos pobres que estão lá, estão por serem ousados). Precisamos ter cuidado com essas bravatas politicamente corretas para não sermos enganados novamente. Vou ficar atento quanto essa “nova” política de avaliação nos vestibulares da UFBA, mas não tenho mais nenhuma esperança com mudanças. Comenta isso.
Andréia de Oliveira – Imaginar que o sistema de política de cotas possa solucionar os problemas e desigualdades existentes dentro da educação brasileira é atribuir às questões complexas com essas, soluções simplórias e superficiais que renderão apenas resultados paliativos, sobretudo, quando se observa que as dificuldades de acesso ao ensino não se deve a barreiras raciais ou étnicas, mas sim a péssima qualidade da educação pública. É claro que existem determinantes sociais, mas esses estão enforcados dentro da falência da educação e na ineficiência do estado em proporcionar um ensino de qualidade, a população das camadas menos favorecidas. Então, como pensar que instituir meios de inserção dessas pessoas a universidades públicas sem que seja todo um trabalho de base realizado na educação básica e que isso venha a ser realmente um avanço na política educacional? Não seria bem mais digno para esses estudantes proporcioná-los condições de concorrer de maneira igualitária com seus concorrentes oriundos da rede particular? Caberia ainda questionamentos quanto as próprios mecanismos que o governo coloca como eficazes para a avaliação do ensino ou a novos critérios de seleção para o ensino superior, a exemplo do ENEM. Não creio que o Exame Nacional do Ensino Médio, com suas deficiências e problemas estruturais, possa ser um meio efetivo e eficaz de substituição do vestibular. È necessário antes de modificar os caminhos de acesso a universidades promover uma reestruturação completa na educação, garantido as populações de baixa renda um ensino de qualidade desde as séries iniciais. Contudo, ao que parece, a preocupação fundamental seria a apresentação progressos educacionais base em números e dados tal como se apresenta o aumento no número de vagas no ensino superior destinadas as parcelas excluídas da sociedade.
Elenilson – Andréia, sugere uns livros bons da sua biblioteca.
Andréia de Oliveira – Seria difícil fazer essa lista porque tenho um gosto um tanto quanto eclético, passando desde autores espíritas como os livros psicógrafos de Chico Xavier a escritores existenciais como o Albert Camus ou Kafka. È claro que já li desde Sidney Sheldom, Agatha Christie a algumas obras de filosóficas, como “A República” de Platão, não esquecendo obviamente de gênios da ficção nacional como o Machado de Assis. Atualmente, dedicou-me a autores da linha esotérica ou ocultista, como o J.J. Benítez (“A Rebelião de Lúcifer” e os “Astronautas de Yaveh”) ou Zacharia Sitchin, autor de um interessante livro o “12 º Planeta” que a partir de uma pesquisa sobre a mitologia, religião e história dos antigos povos sumérios, desenvolveu uma teoria sobre a presença de extraterrestres no processo de colonização da Terra. Dentro dessa temática, cito ainda o Harvey Spencer Lewis, um dos fundadores do ciclo moderno da Ordem Rosacruz que possui o mesmo cunho investigativo e empenho em desvelar as verdades ocultas em livros como “A Vida Mística de Jesus”, “As Doutrinas Secretas de Jesus”, “As Mansões da Alma”, entre outros. Importante citar também o Leonardo Boff, um grande pensador espiritualista da atualidade, que me atrai pela sua grande capacidade crítica aliada a esperança de se visualizar novos caminhos em obras como “Saber Cuidar” ou a “Águia e a Galinha”. Na ficção contemporânea tenho uma grande admiração por José Saramago, com seu estilo original e sua temática polêmica que descreve com precisão importantes facetas da essência humana. Já li algumas obras como “Ensaios Sobre a Cegueira”, “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”. Dentro dessa contextualização atual, não poderia deixar de citar também as suas produções literárias. Gosto da maneira como aborda os conflitos e dramas existenciais, os problemas sociais e políticos como um misto de horror e lirismo, encantando e ao mesmo tempo despertando angústias e reflexões.
Elenilson – Falando em livros, quando é que sai o seu? Por que a Fraternidade da Ordem Rosacruz não financia?
Andréia de Oliveira – Sou membro da Antiga e Mística Ordem Rosacruz – AMORC -, uma instituição internacional com sede nacional em Curitiba, de cunho místico, filosófico e cultural, que tem seus preceitos baseados na tradição das Antigas Escolas de Mistérios atualizados constantemente por meio da influência de importantes pensadores da humanidade. È grande a produção intelectual das novas gerações de rosacruzes, por meio da publicação própria de livros, fruto do estudo de temas místicos, esotéricos, filosóficos, psicológicos, culturais entre outros, impulsionando pelo trabalho da Universidade Rosecroix Internacional - URCI - que congrega as pesquisas dos membros dentro dessa linha temática proposta pela ordem. Minha produção literária é composta de obras basicamente de poemas, contos ou crônicas, não se encaixando necessariamente nessa temática. Mas sou uma leitora voraz de várias obras editadas pela Biblioteca Rosacruz.
Elenilson – Qual a sua perspectiva, como escritora?
Andréia de Oliveira – Escrevo como uma forma de silenciar os diálogos incessantes que por vezes se formam na minha mente, como uma forma de entendimento de meus conflitos e diálogos internos. Acredito assim que o escritor, de uma maneira geral, pode esta incluído dentro dos objetivos da filosofia a partir do momento que é capaz de traduzir de uma forma tangível dados da realidade invisível, captado por palavras acessível ao entendimento de outros. Escrevo assim desde que me “entendo por gente” e comecei a traçar interligações entre o que vejo e o que penso, de modo a estabelecer um sistema própria de entendimento do mundo. Contudo, somente ano passado tive oportunidade de tornar público alguns de meus trabalhos, participando de algumas antologias poéticas, como o livro “Poemas de Mil Compassos” e antologias da Câmara Brasileira de Jovens Escritores, onde tive um poema selecionado com um dos melhores do ano de 2009. Atualmente trabalho com o objetivo do lançamento de um livro próprio de poesias ainda esse ano e com estou organizando a produção de uma antologia poética a ser lançando de forma independente, com alguns poetas amigos membros da Fraternidade Rosacruz da cidade de Salvador.
Elenilson – Quais as suas influências no meio?
Andréia de Oliveira – Em se tratando de poesia, as primeiras referencias são Carlos Drummond de Andrade e o Fernando Pessoa, cujas obras despertam-me grande afinidade, alimentando o meu desejo implícito de escrever, embora tenha crescido ouvindo meu avô declamar com entusiasmo os versos libertários de Castro Alves. Recentemente redescobrir os poetas simbolistas dos tempos de escola, como Cruz e Sousa e Alphonsus de Guimarães e me encantei pela utilização das formas como meio de expressão das ideias em seus apelos transcendentais. Gosto também dos representantes da poesia marginal dos anos e da geração beat em sua manifestação inovadora, subversiva e livre, entre eles o Roberto Piva que inseriu em seus poemas, a partir do xamanismo, a temática ecológica. Contudo, não conseguiria apontar nenhuma linha de influência clara e precisa nos meus trabalhos, pois tenho um processo criativo ativado pelos canais da intuição e não por determinantes racionais, de maneira que não escrevo atenta a qualquer estética ou padrão determinado.
Elenilson – Você é a favor ou contra a obrigatoriedade do diploma de jornalismo?
Andréia de Oliveira – Sou contrária a ideia de quaisquer mecanismos que possam travar a livre manifestação da expressão, da opinião, da crítica ou da circulação de informação. È claro que existe algum grau de conhecimento técnico ou teórico inerente ao exercício do jornalismo, mas acredito que não são parâmetros rígidos a ponto de serem condicionados a uma determinada formação acadêmica. Analisando ainda o jornalismo do ponto de vista da veiculação imparcial e verídica da informação ou da prerrogativa opinativa, muito há de ser discutindo, sobretudo no que diz respeito à capacidade das universidades, com suas crise e contradições, formarem esse perfil de profissional. Outro argumento que se encerra no campo da ética jornalística, tida por muitos como uma característica única da formação acadêmica é também um elemento a ser reconsiderado, afinal o respeito aos valores éticos são determinados mais por motivações internas do que pelo estudo de códigos estabelecidos.
Fonte: Literatura Clandestina